Mulheres se unem contra assédio no GP Brasil
Rede de apoio busca garantir a segurança das mulheres no autódromo de Interlagos; organização também promete medidas de proteção
O Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 está marcado para acontecer no próximo dia 13 de novembro, e além das mobilizações de equipes, imprensa e turistas que chegam do mundo todo, um importante projeto também se prepara para o evento. É a #RespectWomen, uma rede de apoio para as mulheres fãs do automobilismo que enfrentam diversos problemas de falta de segurança e assédio no autódromo.
Há quatro anos elas lutam contra a negligência dos órgãos responsáveis e se organizam para garantir que outras mulheres possam acompanhar a etapa brasileira da principal competição de automobilismo do mundo sem sofrer casos de assédio e outros tipos de violência de gênero.
Beatriz Rosenburg, idealizadora da campanha, conta que a ideia surgiu em 2018, após relatos da jornalista Julianne Cerasoli, especialista na cobertura de automobilismo. Ela dividiu nas redes sociais que foi vítima de assédio no autódromo, e soube de outros casos ocorridos.
"A F1, os organizadores, eles não faziam nada em relação ao assunto, e deu pra perceber que não era uma coisa isolada, que acontecia com certa constância. Foi quando eu tive a ideia de fazer alguma coisa para tentar mudar esse cenário”, diz em entrevista ao Papo de Mina.
Por conta própria, Beatriz buscou a segurança que a própria organização não mostrou interesse em garantir às fãs.
Iniciativa inédita
Este ano, a organização do GP do Brasil se antecipou e prometeu
trabalhar para impedir que os casos de assédio se repitam. Duas medidas foram apresentadas na coletiva de imprensa pré-corrida.
Haverá uma uma linha de atendimento especialmente para o acolhimento de denúncias de discriminação ou importunação e, de de forma inédita, um site será criado para atender o público.
“Temos de nos comunicar e se posicionar contra qualquer tipo de assédio. Nossa meta é ter todo o preparo possível para dar suporte a qualquer pessoa que seja assediada ou importunada, de qualquer forma”, disse Alan Adler, diretor-executivo do GP de São Paulo ao Grande Prêmio.
Temporada teve outros casos
Apesar da fama ruim, Interlagos não é o único autódromo onde as torcedoras têm problemas.
Nessa temporada, assédios foram relatados em diversas arquibancadas dos GPs da F1, como da Áustria e da Holanda. Frente a isso, as reações da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e da F1 foram, no mínimo, limitadas. Notas de repúdio até foram publicadas em algumas ocasiões, mas, em outras, nem isso.
O descaso com a violência sofrida pelas mulheres mostra que as organizações das corridas, ainda que com capacidade, verba e estrutura, não possuem interesse suficiente em resolver o problema. Campanhas como a #RespectWomen são exemplares e mostram como as mulheres se unem e conseguem, de alguma maneira, fornecer apoio, suporte e segurança umas às outras. Mas melhor ainda seria se elas pudessem se reunir única e exclusivamente para torcer, sem a necessidade de cumprir o papel que seria das organizações de oferecer um ambiente seguro para as fãs do esporte.
“Eu acho que o primeiro passo foi dado no momento em que eles sinalizaram que houve um problema e acabaram falando sobre o assunto, só que eu acho que tem que ser muito mais que uma nota de repúdio. Não pode ser só ‘a gente condena esses atos’. O que vocês vão fazer para evitar? Porque algo tem que ser feito”, ressalta Beatriz. Ela ainda cita a importante fala de Sebastian Vettel, que apontou que é possível identificar os assediadores.
Vettel também sugeriu que os assediadores fossem banidos para sempre dos GPs, diferente de Lando Norris que ao ser questionado sobre o assunto não concordou com o sugerido banimento vitalício, justificando que: “um fã é um fã”.
Mas porque um fã que assedia pode continuar sendo considerado um fã, mas uma fã que é vítima pode, muitas vezes, deixar de ser fã, por medo de frequentar ambientes inseguros como o autódromo?
Seja através do banimento, da identificação ou da criação de redes de apoio, algo precisa ser feito. Caso contrário, o que resta é a incoerência. As notas de repúdio nada realmente repudiam se nada é feito para que a situação mude.
Sobre a campanha
O #RespectWomen” funciona da seguinte forma: adesivos da campanha são distribuídos nas arquibancadas e, paralelamente a isso, o projeto “Interlagos safe”, criado por Karolina Pedroni, fica ativo nas redes sociais, com grupos onde as mulheres se comunicam, acompanham e, eventualmente, socorrem umas às outras. Tudo isso numa proporção cada vez maior.
“A gente chegou a mais de 1400 adesivos. Neste ano eu vou montar um ponto de coleta, e uma menina de cada setor vai ficar responsável por ir lá, pegar os adesivos e distribuir onde estiver”, explica Beatriz. “Eu fico bem bem contente em ver esse resultado porque eu nunca imaginaria que chegaria nesse nível”, comenta, lembrando que a ideia começou com 30 adesivos.
“Durante um tempo a gente pensa assim ‘será que isso está fazendo a diferença?’ e, parando para refletir, eu acredito que está. Porque a gente está começando a falar sobre o assunto, a gente está mostrando, sinalizando que existe um problema. E eu acho que esse é o primeiro passo para você ter mudanças.”
Se você é mulher e vai ao GP de São Paulo de F1, procure e apoie a iniciativa. Como sempre, torcemos para que nenhum episódio de violência contra a mulher aconteça, mas se vir ou sofrer algum tipo de assédio, acione a rede do #RespectWomen.