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Você se sente seguro para levar sua filha a um estádio?

Episódios recentes de violência no futebol prejudicam acesso de mais mulheres e crianças aos estádios

25 ago 2022 - 05h00
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“É especialmente doloroso ver que a violência é direcionada por torcedores contra seus próprios times. Fiquei chocado ao ler sobre o caso do jogador que deixou o clube por ameaças feitas à sua família”. A fala é de Gianni Infantino, presidente da Fifa, e abriu o Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, realizado pela CBF nesta quarta-feira (24).

Quase no mesmo horário que a mensagem de Infantino foi exibida, e no mesmo Rio de Janeiro, torcedores de Fluminense e Corinthians - que jogaram pela semifinal da Copa do Brasil na noite desta quarta - brigaram na praia de Copacabana. 

Torcedores de Fluminense e Corinthians brigam em Copacabana (Reprodução/Internet)
Torcedores de Fluminense e Corinthians brigam em Copacabana (Reprodução/Internet)
Foto: Lance!

São retratos do que é o atual cenário do futebol brasileiro, que retoma seus piores momentos, como na década de 1990, e se afasta do clima de diversão e comemorações que o esporte deveria proporcionar.

Com as frequentes notícias de brigas nos arredores dos estádios, casos de racismo vindo das torcidas, pressão excessiva de organizadas, pedras e bombas atiradas contra ônibus de clubes adversários, a sensação que domina é a de insegurança.

Você se sentiria seguro para levar, hoje, sua família a um jogo de futebol?

Futebol parece querer afastar mulheres e crianças dos estádios com violência das torcidas
Futebol parece querer afastar mulheres e crianças dos estádios com violência das torcidas
Foto: Aris Messinis / AFP

Tendo a apostar que boa parte das respostas seria “não”. Infelizmente. Como alguém que cresceu indo a estádios, quarta e domingo, lamento por essa experiência que a nova geração não vivencia. 

E nascida nos anos 1990, eu vi sim cenas tristes de violência nas torcidas - estava, inclusive, no Couto Pereira, em Curitiba, em 2009, quando a torcida do Coritiba invadiu o gramado ao fim da partida contra o Fluminense (que decretou o rebaixamento do clube alviverde) e transformou o estádio em uma cena de guerra. Mas sinto que hoje o medo é maior. 

Em entrevista à Folha de S.Paulo, em março deste ano, Bernardo Buarque de Hollanda, pesquisador de Ciências Sociais na FGV, traz uma visão que, junto à impunidade por parte de clubes, CBF e secretarias de segurança, corrobora para essa potencialização das violência por parte das torcidas.

"Durante o período em que as torcidas estiveram longe dos estádios [em função da pandemia de Covid-19], eles conseguiram atrair uma pauta positiva, com as ações sociais que muitas organizadas fizeram. Ironicamente, no momento em que elas voltam a poder ir aos estádios, há um efeito como se fosse uma mola que estava reprimida e há esse ímpeto de violência", diz.

Mas não há justificativa para esses atos. O futebol não pode ser esse lugar inóspito. Aqui é o país do futebol, como destacou Milton Nascimento em música com este nome: 

No fundo desse país

Ao longo das avenidas

Nos campos de terra e grama

Brasil só é futebol

Nesses noventa minutos

De emoção e alegria

Esqueço a casa e o trabalho

A vida fica lá fora, a cama

Projeto atenderá meninas em situação vulnerável:

Torcemos para que o clima volte a ser esse, e de “emoção e alegria”, e que as arquibancadas possam se colorir com a presença de famílias, mulheres, crianças, todas as tribos e raças, pois todo mundo merece sentir a sensação de estar em um estádio de futebol sem se preocupar com violência.

Papo de Mina
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