Povo indígena luta para manter Mata Atlântica viva
Hoje só restam cerca de 7% da mata original
Dia 27 de maio é comemorado o Dia Nacional da Mata Atlântica, umas das regiões mais ameaçadas do planeta. O bioma, desde da colonização, vem sendo depredado pela ocupação destrutiva do não-indígena. Até meados do século XVI, a floresta cobria 15% do território brasileiro, hoje só restam cerca de 7% da mata original.
Uma grande parte da população brasileira vive, trabalha e se diverte em lugares que antes eram totalmente cobertos pela Mata Atlântica. Hoje, essas áreas são as principais metrópoles brasileiras, com aproximadamente 120 milhões de pessoas. Apesar do pouco contato com a natureza nos grandes centros, as pessoas dependem, direta ou indiretamente, da floresta. Das nascentes de águas e da regulação do clima, por exemplo.
Na Mata Atlântica, ainda vivem povos indígenas, quilombolas, roceiros, caiçaras e caboclos ribeirinhos, sendo que os seus modos de vida e subsistência dependem desse contato direto com a floresta. O processo de desenvolvimento desenfreado fez com que essas populações ficassem marginalizadas e, muitas das vezes, fossem expulsas dos seus territórios tradicionais, como os indígenas do povo Guarani-Mbya que lutam para defender a floresta e mantê-la viva.
Em São Paulo, há diversos exemplos de preservação vindos dos povos indígenas que vivem nas redondezas e também dentro da maior cidade do país. Um deles é o grupo de brigadista florestal que combate as queimadas na região do Pico do Jaraguá, na zona oeste de São Paulo.
“Hoje, a gente faz um trabalho junto com a equipe florestal e corpos de bombeiros. Somos dez brigadistas e eu sou a única mulher”, conta a brigadista Sônia Ara Mirin Guarani. “Aqui, na terra indígena Jaraguá, houve muitas queimadas e, por isso, a gente montou um grupo de brigadistas para proteger a Mata Atlântica. Quando o incêndio começava, até a chegada dos bombeiros, uma quantidade muito grande de floresta nativa já havia se perdido”.
O povo Guarani-Mbya tem um histórico de contribuição na conservação do bioma da Mata Atlântica. Eles sempre foram os mais interessados em preservá-la e nos dias atuais continuam sendo o que mais preservam, porque manter a floresta viva é também manter a cultura e cosmologia Guarani-Mbya viva. Através dos ensinamentos dos anciãos, os mais jovens aprendem sobre as histórias do seu povo, como respeitar a floresta e os espíritos que estão presentes nela. Lutar por esse local sagrado e mantê-lo vivo beneficiará não somente os indígenas, mas toda a sociedade.
Como afirma a brigadista Sônia Ara Mirin Guarani. “Escolhi ser brigadista porque bioma tem que ser protegido e a floresta tem que ficar viva e em pé.”
O efeito das mudanças climáticas decorrentes do desmatamento da floresta, destruição das nascentes e rios, o aumento das emissões de gases e o efeito estufa afetam diretamente a vida de todos, independentemente se vivem na floresta, campo ou cidade. Sem a floresta viva, não há ar para respirar.
Uma das maiores dificuldades do povo Guarani-Mbya é justamente não terem todas as suas terras reconhecidas e homologadas, como garante a Constituição Federal. Um estudo realizado pela Comissão Pró-Índio de São Paulo - “Terras Guarani no Sul e Sudeste”, apresenta que 80% dos territórios Guarani localizados, no Sul e no Sudeste, ainda não foram regularizados ou foram regularizados, mas com pendências. Apenas 32 territórios indígenas encontram-se homologados.
A incapacidade do atual governo em garantir as demarcações de terras indígenas geram uma situação de insegurança, que ameaça a sustentabilidade física e cultural desse povo e o coloca em situação de extrema vulnerabilidade.