Ana Paula Padrão: "Me senti solitária na construção da carreira"
Olhando para os lados com mais atenção, passei a admirar mulheres que tiveram trajetórias semelhantes à minha e reconheci nelas, aliadas
Há muito, muito tempo uma amiga querida me disse que um dia eu trabalharia com mulheres e para mulheres. Era uma época em que eu lutava para me estabelecer no mercado e fazia isso copiando as trajetórias masculinas. Não havia modelos femininos que nos servissem de inspiração e, por isso, a mera ideia de atuar profissionalmente impulsionando mulheres me parecia um tanto louca. Pois bem, aqui estou.
Nunca soube por que aquela amiga, de quem a vida me distanciou, me disse aquilo. Apenas guardei na memória quase como o roteiro de um filme de ficção que nunca seria produzido. O que será que ela viu em mim que eu era incapaz de enxergar como real? De lá pra cá mudei muito: de cidade, de emprego e, também, de visão de mundo. Sempre me senti solitária na construção da carreira e as estratégias que eu usei para dar o próximo passo eram traçadas com base na observação de pessoas que vieram antes de mim - basicamente, homens. Conversar com eles, no entanto, sobre dramas pessoais me parecia impensável. Eles eram homens e eu era capaz de apostar que não me entenderiam.
O que fiz foi manter calada uma parte importante de mim que só se manifestou na maturidade, quando compreendi que tinha que me equilibrar e construir alguma coisa da minha vida que não fosse apenas um monumento profissional. E foi então que, olhando para os lados com mais atenção, identifiquei e passei a admirar outras mulheres que tiveram trajetórias semelhantes à minha e reconheci nelas, aliadas. Esse foi o momento de maior crescimento pelo qual passei até hoje. Uma pessoa integral não é feita apenas de seu trabalho.
Em todos os sentidos possíveis tornei-me uma adulta completa bem depois de atingir a maioridade na carreira e com a cumplicidade de outras que, como eu, estavam aflitas por compreensão e identificação. É essa mulher mais equilibrada e, certamente, mais feliz, que oferece hoje uma parte do espaço que conquistou para que outras mulheres possam conversar, se reconhecer e se ajudar.
Fico verdadeiramente feliz quando consigo promover encontros nos quais mulheres executivas possam sair da agenda cotidiana e conhecer seus pares, conversar sobre seus desafios e fazer negócios juntas. Acho muito curioso que essa minha atividade seja o retrato do equilíbrio que passei a considerar fundamental pra mim. Trata-se sim de uma atividade profissional mas que me traz um prazer genuinamente humano, o prazer de devolver o que aprendi sobre trabalhar e ser feliz ao mesmo tempo.
Escrevo esse texto para todas as mulheres que estarão no palco do Women On Top ou, como chamamos carinhosamente, nosso Fórum de CEO’s, que promovo esta semana, para toda as que vão assistir e se inspirar nas trajetórias ali expostas e também para aquela querida amiga que foi capaz de me ver num futuro que nunca imaginei mas que me realiza tanto.