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Pai transmasculino luta para que filho consiga fazer cirurgia em hospital de SP e relata transfobia

Vênuz Capel gestou o bebê Sol, que nasceu em 28 de abril deste ano e segue internado em hospital desde então

22 jul 2024 - 14h45
(atualizado em 24/7/2024 às 16h27)
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Vênuz Capel, um pai transmasculino, deu à luz ao seu filho, Sol, em 28 de abril deste ano
Vênuz Capel, um pai transmasculino, deu à luz ao seu filho, Sol, em 28 de abril deste ano
Foto: Arquivo pessoal

Vênuz Capel, um pai transmasculino de 25 anos, deu à luz ao seu filho, Sol, em 28 de abril deste ano. Desde então, ele luta para que o bebê, que tem cardiopatia, consiga fazer uma cirurgia para colocar o marcapasso, mas a família tem sofrido com os adiamentos do hospital. Além da negligência, o pai não descarta a possibilidade de "transfobia implícita", e ressalta que funcionários do hospital já se referiram a ele como mulher.

"Existem várias pessoas [no hospital] que têm dificuldade de se comunicar com a gente [ele e a esposa] porque eu sou trans. Um absurdo", disse ao Terra NÓS.

Ele e a companheira descobriram a cardiopatia da criança ainda na gestação e, por isso, começaram a acompanhar a situação no Hospital São Paulo, localizado na região centro-sul da capital paulista. A ideia inicial, segundo ele, era aguentar a gestação até a criança ter dois quilos e meio e então fazer a cesárea e já colocar um marcapasso em Sol. No entanto, o bebê nasceu antes do esperado e com 2,2 kg. 

"Quando nasceu, ele foi para a UTI neonatal, que é onde ele está até agora. Na UTI neonatal nos informaram que o peso para ele fazer essa cirurgia seria 2,5 kg. A gente esperou, ele chegou nesse peso e informaram para a gente que o peso ideal, naquele momento, seria 3 kg", contou o pai.

E quando chegou ao peso ideal, a informação mudou: agora, o peso necessário era 4 kg. Mas antes de chegar no novo peso informado pelos médicos, Sol teve uma complicação causada pela própria cardiopatia e precisou fazer um cateterismo, voltando para a UTI neonatal logo em seguida.

A criança tem cardiopatia e precisa fazer uma cirurgia para colocar o marcapasso
A criança tem cardiopatia e precisa fazer uma cirurgia para colocar o marcapasso
Foto: Arquivo pessoal

"Quando ele estava com 3,7 kg, a gente conversou com a equipe do neonatal e falou que queria uma reunião com a equipe de cirurgia cardíaca, que é quem iria operar e marcar a cirurgia, para ver se o material estava todo certo, porque no início da internação eles disseram que o marcapasso tinha que ser encomendado, por ser um marcapasso especial para o tamanho dele", relembrou Vênuz.

A reunião não aconteceu, mas a família foi informada que o hospital tinha todo o material necessário e a cirurgia seria realizada em 12 de julho. Um dia antes, a cirurgia foi adiada.

Vênuz e a esposa abriram uma reclamação na ouvidoria do hospital e informaram tudo o que estava acontecendo em relação à cirurgia do filho. Na última terça-feira, 16, eles conseguiram conversar com a equipe responsável pela cirurgia pela primeira vez e, no dia 18 de julho, seria realizado o procedimento.

"Ele estava pronto para a cirurgia, de jejum e com os antibióticos tomados. A cirurgia aconteceria às 8h da manhã, a gente chegou às 5h30. E aí, às 8h30, veio uma médica representante da cirurgia falar que a cirurgia estava cancelada, de novo, pela segunda vez."

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De acordo com o hospital, faltava uma peça que iria no marcapasso e eles precisavam encomendar, o que levaria 48 horas. "Agora, Sol está esperando de novo a cirurgia. Eles disseram que se tudo der certo, a cirurgia vai acontecer na quinta-feira que vem [25 de julho], porque é o único dia que o médico pode estar no hospital para operar, mas não é certeza. Porque é isso, já cancelaram diversas vezes", afirmou ele.

Transfobia por parte de funcionários

Segundo Vênuz, além da transfobia implícita, os funcionários do hospital estão sendo, explicitamente, discriminatórios com ele. Certo dia, ele e a esposa foram recebidos pela recepcionista com "oi, mãezinhas". 

Vênuz Capel já foi chamado de "mãezinha" por enfermeiras do Hospital São Paulo
Vênuz Capel já foi chamado de "mãezinha" por enfermeiras do Hospital São Paulo
Foto: Arquivo pessoal

"Nas pulseiras que eles dão para os acompanhantes, eles colocam o meu nome e do lado colocam 'mãe', sendo que eu não sou a mãe do Sol. Eu já sou retificado [tem o nome retificado] e registrei o Sol enquanto pai. No começo da internação, eles até chegaram a falar que a minha esposa não poderia entrar, porque não tem como o Sol ter duas mães. São várias questões que vêm complicando a gente estar aqui dentro", contou ao Terra NÓS.

Vênuz, que também foi chamado de "mãezinha" por enfermeiras do Hospital São Paulo, participou de uma reunião com a chefe de enfermagem da instituição, que queria saber como todos os pais da UTI estavam se sentindo. Ele, então, falou sobre a questão da transfobia.

"A mãe de uma das crianças que está internada disse que, quando não estamos por perto, duas técnicas de enfermagem falaram que a nossa família não era normal, que elas não aceitavam e que eu iria ser, para sempre, a mãe do Sol", contou ele à reportagem.

"Fizemos reclamação, mas não adianta. Melhora em um dia e, no dia seguinte, elas estão errando de novo. E com essa dificuldade de entender que, hoje, transfobia é crime."

Ao Terra NÓS, o Hospital São Paulo informou que o procedimento mencionado está agendado para ser realizado na próxima quinta-feira, 25. Confira a nota na íntegra:

"Qualquer indicação cirúrgica é feita a depender de condições técnicas e clínicas, que precisam estar favoráveis, para a segurança do paciente e êxito do tratamento. Não há nenhuma denúncia a respeito de transfobia na Ouvidoria da instituição. O HSP reitera que não compactua com nenhum tipo de discriminação. Todos os colaboradores são orientados e treinados para oferecerem o devido tratamento aos pacientes e familiares, sem preconceitos relacionados à raça, condição social, gênero, pessoas da comunidade LGBTQIA+ e outros", informou a instituição.

Fonte: Redação Nós
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