1ª edição do Transbaile premia Liniker, Erika Hilton, Urias, Majur e outras mulheres trans
Evento superou dificuldade de patrocínio e reuniu nomes importantes da comunidade trans
Apoiada na subjetividade de pessoas trans e travestis e criando paralelos simbólicos com seres mitológicos e criaturas fantásticas, a primeira edição do Transbaile, aconteceu na noite desta terça-feira, 13, na casa de shows paulistana “Blue Note”, e teve como tema a mitologia grega.
“Não somos mitos, não somos folclore e não somos lendas. Somos reais, mas também podemos ser fantásticas”, declararam Giovanna Heliodoro e Bielo Pereira, idealizadoras do evento que visa homenagear nomes da sigla T que se destacaram na luta pela visibilidade trans e possibilitar as trocas entre marcas e personalidades como forma de gerar oportunidades.
Entre adaptações e criações de seres místicos e mitológicos, o evento reuniu personalidades como as cantoras Liniker, Urias, Majur e as deputadas federal e estadual Erika Hilton e Erica Malunguinho, respectivamente.
O clima que predominava era de descontração, mas, ao mesmo tempo, também de pertencimento e reconhecimento, onde até mesmo os nomes mais influentes se mostravam à vontade para se despir dos entraves da popularidade para curtir o espaço e as trocas.
A abertura ficou a comando do DJ Evehive, que, mesclando música eletrônica e sons dos anos de 1980 e nova MPB, antecedeu as premiações das pessoas escolhidas como destaque.
Para a premiação, foram criadas oito categorias: “Pioneirismo”, “Acolhimento”, “Intelectualidade”, “Excelência trans”, “Influência do Ano”, “Artista”, “Campanha” e “Transformar”.
Premiações
Além de Giovanna e Bielo, a revelação dos premiados ficou sob responsabilidade de Luca Scarpelli, apresentador do Queer Eye Brasil.
O momento foi iniciado pela categoria “Pioneirismo”, que fez subir ao palco Mel Gonçalves, ativista LGBTQIA+, que além de ter sido cantora na Banda Uó, foi a primeira mulher trans a estrelar uma campanha para a marca de cosméticos Avon.
Nomes como Jonas Maria, Leonardo Gonçalves, Victória Collen e Ana Carolina Apocalypse também tiveram reconhecimento.
A deputada Erika Hilton e as cantoras Liniker e Urias foram homenageadas pelas categorias “Influência do Ano”, “Campanha” e “Artista”, respectivamente.
Em seu discurso, Erika valorizou a celebração do Orgulho LGBTQIA+, mas sem deixar de citar problemas que afetam a comunidade, especialmente a trans e travesti.
"É muito desafiador viver no primeiro país do mundo que ainda nos mata. É muito desafiador termos ainda os índices de 90% de nós na prostituição, abrirmos o noticiário e nos depararmos cada vez mais com notícias de violência", afirmou a deputada.
A parlamentar ainda falou sobre a sua posição enquanto primeira mulher trans eleita deputada federal. Erika afirmou que está "tentando fazer alguma diferença na política institucional".
"Fazer uma diferença...colocando o patamar de pessoas trans, travestis, da comunidade trans e travestigenere em um outro lugar", complementou a deputada federal.
Ao Terra, as cantoras Liniker e Urias falaram sobre a importância do evento e da premiação.
“É muito importante que sejamos lembradas pela nossa excelência. Só a gente sabe o que a gente faz para resistir em uma sociedade transfóbica, machista e racista, então, poder ser agraciada com isso, não é apenas válido, mas me mostra que eu não estou sozinha”, declarou Liniker, que revelou que disco novo e trabalhos no cinema deverão ser lançados em breve.
Urias, que recentemente lançou seu novo álbum, “Her Mind”, falou sobre o “peso significativo” do evento ser realizado em uma área na região central de São Paulo.
“É histórico. Um evento em uma área central de São Paulo, tida como um dos pontos comerciais e turísticos da cidade, sediando um evento desse porte, com quem geralmente é excluído desses espaços, é muito significativo”, declarou Urias.
Idealização e patrocínio
De acordo com Giovanna Heliodoro, que é historiadora além de idealizadora do evento, o Transbaile foi criado por causa da “ausência de pessoas trans em condições de poder e como destaque não só da mídia mas em outros espaços sociais”.
“Qual foi a última vez que você viu pessoas trans e travestis sendo premiadas e reconhecidas pela sua excelência e não só pela sua identidade?”, questionou Giovanna. “Isso foi o que nos motivou, essa ausência. O Transbaile não é só um evento, é uma plataforma de conexão, apresentação e empoderamento da nossa comunidade”, concluiu a organizadora.
Apesar de patrocinado por grandes marcas como “Amstel”, “Nívea” e “Quem Disse, Berenice?”, Heliodoro compartilhou que conseguir patrocínios para o evento não foi uma tarefa fácil.
Além das negativas, a idealizadora comentou sobre a dificuldade de encontrar marcas realmente aliadas às causas da população trans.
“Por mais que seja o mês do orgulho LGBT+, quando a pauta é voltada especificamente para população trans e travesti, a realidade é outra. Além disso, foi muito difícil encontrarmos marcas realmente aliadas e com um propósito social para além de junho”, declarou Heliodoro.
A criadora de conteúdo e youtube Bielo, por sua vez, falou sobre a importância de um evento criado por e para pessoas trans.
“Muitas vezes, os lugares que são deliberados para nós, pessoas trans e travestis, são lugares pensados por pessoas cis, e por que não nós mesmos sermos os responsáveis pelo nosso protagonismo? Aqui, estamos fazendo e trazendo história, colocando nossa comunidade justamente nesse lugar”, finalizou Bielo.