Ditadura militar expulsava diplomatas gays justificando ‘incontinência pública escandalosa’
Profissionais precisavam passar por exames médicos em caso da possibilidade de serem homossexuais
Documentos de um relatório da ditadura militar brasileira revelou um sistema de expulsão de diplomatas homossexuais de seus cargos e que, segundo informações do Metrópoles, ao menos 13 pessoas foram afastadas do Itamaraty.
Documentos de um relatório da época da Ditadura Militar revelou um esquema de expulsão de diplomatas gays de seus cargos.
José de Magalhães Pinto, que era chefe do Itamaraty em 1969, recebia documentos sigilosos sobre a vida pessoal de profissionais do Ministério das Relações Exteriores. Era realizada uma análise de seis meses e indicava que diplomatas deveriam ter suas carreiras finalizadas se fossem homossexuais.
Eles eram submetidos a uma aposentadoria compulsória. De acordo com o entendimento do governo militar, a sexualidade dos diplomatas eram vistas como “incontinência pública escandalosa” e poderia “comprometer o decoro e o bom do nome” do Brasil.
Segundo informações do jornal Metrópoles, a ditadura expulsou pelo menos sete diplomatas e outros seis profissionais administrativos do Itamaraty. A Comissão de Investigações Sumárias sugeriu que outros dois oficiais de chancelaria e dez funcionários internos fizessem exames médicos e análise sociais. A ideia era comprovar a possível suspeita de serem homossexuais.
Isso aconteceu com Ricardo Joppert, diplomata afastado em 29 de abril de 1969. Ele atuava como segundo-secretário no consulado de Gotemburgo, na Suécia. Na época, ele chegou a afirmar que só ficou sabendo de seu afastamento pela imprensa. Ele retornou ao cargo 20 anos depois de um memorando da primeira Comissão de Anistia, instalado no Ministério do Trabalho em janeiro de 1980. Mesmo com a possibilidade de retornar, ele precisou fazer exames médicos.