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Em clima de Copa do Mundo, Parada LGBT+ de SP dá novo significado para bandeira do Brasil

Evento aconteceu neste domingo, 2, na Avenida Paulista e reuniu cerca de 3 milhões de pessoas, segundo a organização

2 jun 2024 - 17h54
(atualizado às 22h10)
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Parada lotou a Avenida Paulista
Parada lotou a Avenida Paulista
Foto: Reinaldo Canato/Especial para o Terra

Dentre as sete cores do arco-íris, símbolo da comunidade sexodiversa, o verde e o amarelo se destacaram na 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de SP. Em clima de Copa do Mundo, a manifestação começou com a sua tradicional festa, mas com uma novidade: a luta para ressignificar as cores da bandeira brasileira. O público atento ao pedido da organização do evento, vestiu o Brasil em sungas, fantasias e lingeries na Avenida Paulista, região central de São Paulo, neste domingo, 2.

  • O Terra é o veículo oficial da Parada SP, que tem cobertura patrocinada por Vivo, Amstel e L'Oreal

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOLGBT-SP) informou que em uma primeira avaliação da organização, mais de 3 milhões de pessoas passaram pelo evento. O balanço oficial da Polícia Militar de São Paulo ainda não foi divulgado. E, após uma semana de baixas temperaturas, até o sol apareceu para esquentar e coroar a conquista da comunidade. Os termômetros chegaram a registrar 25ºC.  

A concentração começou por volta das 10h da manhã, em frente ao MASP. O famoso museu recebeu uma bandeira com as cores da comunidade, que cobriu toda a sua extensão, deixando o tradicional vermelho escondido. Mas a aglomeração maior teve início por volta das 13h, quando atrações como Pabllo Vittar, Gloria Groove, Tiago Abravanel e Banda Uó deram um show na avenida. 

O plano era, de fato, dar um novo significado para a camisa verde e amarelo, que costumava ser usada por manifestantes e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Movimento replicado não apenas para quem estava no meio da pipoca, mas por quem subiu nos trios do evento. Bandeiras e camisetas eram encontradas em abundância nas barraquinhas dos camelôs espalhados pela Paulista. 

A iniciativa surgiu após o show da Madonna no Rio de Janeiro no mês passado. Na ocasião, a rainha do pop se apresentou vestindo uma camiseta verde e amarela ao lado de Pabllo Vittar.  

Patriotismo 

Pabllo Vittar fez todo mundo dançar ao som de seus hits
Pabllo Vittar fez todo mundo dançar ao som de seus hits
Foto: Foto: Edson Lopes Júnior/Especial para o Terra

Pabllo Vittar, uma das atrações mais aguardadas da Parada, escolheu uma camiseta verde e amarela, com a bandeira estampada de um lado e seu nome no outro. Em seu discurso, uma fala de empoderamento para a comunidade: "A gente precisa estar aqui no nosso País, trazer nossa luz, nossa voz. É importante falar, a gente não pode ter medo." 

Durante todo o percurso da Avenida Paulista, o trio esteve cercado por uma multidão, que cantava, dançava e 'batia' leques ao ritmo das canções da maior drag queen brasileira. Ela entoou sucessos da carreira, como 'K.O', 'Disk Me', 'Zap Zum', mas foi a música 'São Amores' que levou todos à loucura e fizeram todos cantarem juntos com a diva.

Pabllo Vittar arrasta multidão na Parada LGBT+ de São Paulo:

Para quem estava no meio do povo, o desejo era, de fato, trazer um novo significado para a amarelinha. "O intuito deste ano é trazer de volta as cores do Brasil para o povo. Ela não é só de uma parte do País, da parte homofóbica, transfóbica, que julga, que deprime. Estamos trazendo as cores de volta para a gente, com a diversidade que ela tem", disse Luís Eduardo, 31 anos. Ele mora em Marília, interior de São Paulo,  e estava acompanhado dos amigos. 

Os leques também ajudaram a construir a trilha sonora da Parada. Em todos os momentos de animação se ouvia a 'jogação' que produzia seu característico som: 'vraaau'. Quando os maiores trios passaram, um tumulto inevitável se formou na Avenida Paulista e, ao mesmo tempo, o público cantava animado hits de Lady Leste e Vittar.

Uma festa de família

O casal de influenciadores digitais Gustavo Catunda e Robert Rocio com seus filhos
O casal de influenciadores digitais Gustavo Catunda e Robert Rocio com seus filhos
Foto: Alex Braga

No meio do público, famílias LGBTQIA+ também se uniram à festa. Priscilla Toscano levou Caetano, seu filho de um ano e dez meses, para a festa. "Estou aqui com o pai dele. E nós somos uma família LGBT. (...) Eu acho que (a Parada) é um movimento muito bonito, que só podia mesmo partir da comunidade LGBTQIA+". 

O casal Gustavo Catunda e Robert Rosselló estiveram na Parada com Marc e Maya, de dois anos. Os bebês foram os primeiros filhos de casal homoafetivo a serem gerados com material genético das duas famílias no Brasil. "Pra gente é muito especial mostrar pros nossos filhos a diversidade do mundo, mostrar amor e, principalmente, mostrar que nossa família existe, que é uma família homoafetiva, dois pais, duas crianças, é possível e que aqui só existe amor", pontuou Gustavo.

"Eu tô adorando isso aqui, achando tudo muito bom. Tá abrindo as cabeças das pessoas, essa busca por respeito. Moro em São Paulo e já participo há muitos anos", contou Dogmar, de 82 anos, que estava acompanhada da filha Mônica.

Gloria Groove agita o público em show na Parada LGBT+ de SP:

Presenças 'ilustres' 

A bandeira LGBT+ também foi levantada por muitos famosos, entre eles Adriane Galisteu, que fez questão de levar o filho de 13 anos para participar pela primeira vez da ParadaLuis Miranda, Valesca, Mauro de Sousa, Pepita, Marcela Mc Gowan, Carmo Dalla Vecchia, Alexandre Frota e Jesus Luz foram outros nomes que marcaram presença.  

Abertamente gay e casado com o autor João Emanuel Carneiro desde 2006, Carmo afirmou ser o 'viado da família brasileira' e ressaltou os avanços conquistados pela comunidade. "Eu acho que a gente precisa comemorar, precisa falar sobre o assunto, dialogar, abrir o coração, trazer aliados. Uma Parada como esta mostra que não estamos sozinhos", disse.

No Camarote Pride, o ritmo começou lento, mas logo famosos e anônimos se misturaram para continuar a tarde/noite de muito orgulho com tudo que o luxo e o requinte pode oferecer, como open bar, open food e muita música boa, como um show de Valesca.

Com o andar dos trios elétricos, seja por efeito do álcool ou de opiniões adversas, algumas brigas foram registradas. Uma delas, inclusive, pela reportagem do Terra. Mas foram as demonstrações públicas de afeto, trocas de beijos e muita curtição que predominaram.

Confira os looks dos famosos na Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo Confira os looks dos famosos na Parada do Orgulho LGBT+ em São Paulo

Uma celebração política

Com o tema "Basta de negligência e retrocesso no Legislativo: vote consciente por direito da população LGBT", a organização da Parada do Orgulho LGBT+ buscou conscientizar a comunidade sobre a responsabilidade que o Congresso Nacional tem de promover e resguadar os direitos dessa população.

O Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, reforçou a necessidade de apoio à população LGBTQIAP+, em especial dentro das famílias brasileiras, e reafirmou compromisso do governo em criar políticas públicas específicas para a comunidade. "Apoiar mundo LGBT é ser a favor da família", destacou ele ao discursar na Parada.

"Nós estamos aqui hoje por uma coisa muito simples: para dizer que o que a gente quer é respeito e democracia", disse o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Logo quando foi chamado e durante a sua fala, o parlamentar foi aclamado com gritos de "prefeito'". "Já foi o tempo em que as pessoas não podiam ser quem elas eram, em que a intolerância silenciava a diversidade", completou ele.  

Guilherme Boulos
Guilherme Boulos
Foto: Felipe Iruatã/Especial para o Terra

A deputada Érika Hilton também esteve presente e afirmou que, sem os direitos da comunidade LGBT+, a democracia brasileira está incompleta. "Não somos cidadãos de segunda categoria, queremos dignidade e respeito. Sem isso, a democracia está incompleta", informou. Chamada de "Presidenta", a parlamentar ponderou que não é o momento para se pensar em cargos majoritários, pois ainda tem "muito o que fazer" neste mandato. Porém ela disse que está feliz ver que a população está "tendo a possibilidade de uma pessoa trans ocupando este cargo de liderança". 

Também discursaram no início da manifestação, a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL-SP); deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP); o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL-SP) e a vereadora de Niterói Benny Priolli (PSOL).

As ausências do atual prefeito da capital paulistana, Ricardo Nunes (MDB), e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foram bastante criticadas. Eles estiveram na Marcha Para Jesus, na última quinta-feira, 30. 

Por volta das 17h, a Polícia Militar ocupou a Paulista e simbolizou o adeus de mais uma Parada do Orgulho LGBT+ de SP. E, assim, a 28ª edição se despediu, mas com a sensação de dever cumprido.

Fonte: Redação Terra
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