“Eu sou gay?” Confira o que considerar ao questionar sua sexualidade
Explorar e buscar informações são fundamentais no processo de explorar sexualidade
A agência de relações pública e marketing estadunidense Cultural Currents Institute foi destaque nas últimas semanas ao divulgar o levantamento "Am I'gay?" (Eu sou gay?, em tradução livre) que revelou que a busca pela pergunta cresceu 1300% entre 2004 e 2023, segundo levantamento do Google Trends.
Ainda que a presença de pessoas abertamente LGBTQIA+ na sociedade seja maior hoje, muitas dúvidas sobre gênero e sexualidade ainda pairam sobre as pessoas, assim como inseguranças, por isso conversamos com a psicanalista Livia Lourenço Dias, diretora a Clínica Social da Casa 1, um centro de acolhida e cultura LGBTQIA+ em São Paulo para encontrar os melhores caminhos para tirar essa dúvida do Google e levar para vida.
"Se tenho dúvidas, significa que sou gay?"
Para Lívia, a curiosidade é algo natural e, "faz parte do processo de desenvolvimento e descoberta da sexualidade e dos encontros afetivos e amorosos. O desejo é sempre múltiplo e plural". Exatamente por isso, a principal indicação da profissional é a experimentação, sempre levando em consideração o respeito próprio, tempo e individualidade.
É importante destacar que ser gay ou qualquer outras das orientações afetivas sexuais ou identidade de gênero conhecidas é mais do que sexo. Ser gay é se relacionar romanticamente e, ou sexualmente com outro homem, mas é também uma perspectiva de mundo que envolve linguagem, história, sociabilização, humor e muitos outros pontos que fazem de um grupo, uma comunidade.
"O que fazer caso tenha dúvidas?"
"Buscas no Google podem parecer uma boa opção. Quem nunca, não é mesmo? É a primeira ideia que vem à cabeça, muitas vezes. No entanto, isso pode representar um silenciamento sobre o tema, uma solidão em dividir e compartilhar essas dúvidas e experiências", explica Lívia, que recomenda conversas com pessoas com quem você se sinta confortável.
"A vivência humana da sexualidade muitas vezes é permeada por tabus e as pessoas têm muito medo de serem julgadas, principalmente quando estão em dúvidas e se sentem mais vulneráveis. Se estiver vivendo um processo psicoterápico, troque com o profissional que está te atendendo e não tenha pressa, o caminho pode ser também tão interessante quanto a definição em si. Afinal, será uma jornada de autodescoberta única e subjetiva".
A profissional também destaca a não cobrança e antecipação de uma definição por conta de terceiros. A sexualidade é algo fluido, e pode passar por diversas fases de entendimento, então não ter pressa é fundamental.
"Onde posso buscar informações?"
Na visão de Lívia esse é um dos pontos mais difíceis: " Deveríamos poder trocar mais abertamente sobre isso enquanto sociedade, inclusive em espaços formais de aprendizado, como escolas, no entanto, há um tabu muito grande, principalmente dos adultos acerca de sua própria sexualidade, que faz com que estes temas sejam silenciados, e no pior dos casos, condenados".
Com o pouco diálogo a internet acaba se tornando uma das principais ferramenta de conhecimento, assim "não é raro, que o primeiro contato de crianças com a sexualidade venha por meio de pornografia, que está em livre acesso na internet, sem passar por uma mediação e naturalização dos corpos de forma menos estereotipada, machista e por vezes, violenta", aponta Livia
Nesse cenário, a recomendação é o estabelecimento de uma rede de diálogo que passa por conversas com pessoas de confiança e espaços abertamente LGBTQIA+, desde espaços culturais e de convivência, até bares e boates.
O importante é não se ater aos rótulos, ao menos que eles sejam importante para o seu processo, ao passo que experimentar é também fundamental, sempre munido de informações no campo da saúde sexual e reprodutiva e, claro, das relações interpessoais.