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'Falei sobre Deus, sobre histórias da Bíblia e não falei sobre mim', diz cantora trans, ex-gospel

Após um período de relação conturbada, Ella lança uma música em homenagem à mãe e aconselha LGBTs que sofrem em igrejas tradicionais

14 mai 2024 - 06h00
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Cantora Ella, que já foi do gospel
Cantora Ella, que já foi do gospel
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A cantora Ella, de 26 anos, ficou famosa ainda na infância e ganhou notoriedade quando participou do programa de Raul Gil, aos 11 anos. Depois, ela se destacou na música gospel, tanto que chegou a ser indicada ao Grammy Latino. Com uma carreira consolidada entre o público religioso, a artista passou pela transição de gênero, revelou publicamente ser uma mulher trans e hoje critica abertamente o conservadorismo e defende a população LGBTQIA+.

Mesmo com os ataques e com as mudanças que viveu nos últimos anos, a vontade de Ella é ser cada vez mais verdadeira consigo mesma. “Me privei a vida inteira de levar minha verdade. Falei sobre Deus, sobre histórias da Bíblia e não falei sobre mim. Hoje, estou muito disposta a isso, não quero ser uma artista engessada”, diz em entrevista ao Terra.

O processo de transição da cantora começou aos 18 anos, quando deixou de morar com a mãe. Naquela época, a cantora foi viver na Colômbia e se assumiu primeiro como um homem gay, mas ainda não se sentia confortável com aquela identidade. Então, viu mulheres trans e travestis pela primeira vez na vida e se reconheceu nelas.

“Tive contato pela primeira vez e, naquele mesmo instante, elas já começaram a me falar sobre a hormonoterapia. Foi uma coisa muito rápida, porque eu me visualizei como elas. Não tinha tido acesso a isso antes, então foi muito Incrível essa oportunidade de conhecer aquelas pessoas”, relembra.

Para a artista, a distância do restante da família foi essencial para que ela pudesse se aceitar, pois antes vivia em um ambiente preconceituoso e conservador. Inclusive, Ella chegou a sofrer transfobia da mãe, mas a relação delas mudou com o tempo, tanto que a cantora lançou uma música e um clipe em homenagem à mãe na última sexta-feira (10).

Depressão e aceitação

“Minha mãe vem de um berço totalmente cristão e fundamentalista, em que acreditava que era totalmente errado eu me assumir, me expressar como uma mulher trans. Nunca passou pela cabeça dela que isso poderia acontecer, sempre sofri muito essa castração de não poder me expressar da maneira que eu era. Posso dizer que ela era uma mulher preconceituosa e, por conta da minha transição, ela reaprende o que é ser mãe e a ter esse amor incondicional independentemente da fé”, conta.

Ella analisa que a mãe mudou a forma de pensar quando percebeu que precisaria fazer isso para não perder contato com a filha para sempre. Mesmo respeitando e defendendo a cantora, a mãe continua frequentando as igrejas cristãs, mas a ex-gospel pretende continuar mantendo distância.

“Posso dizer que foi muito tóxico para mim esse processo de autoaceitação, até porque, quando eu era criança, era contratada por um líder religioso, o Silas Malafaia, que prega contra a nossa causa. Então, foi muito difícil me desprender de tudo isso e ter coragem de ser eu mesma”, relembra.

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Por conta de todo o conservadorismo e LGBTfobia que presenciava, Ella viveu momentos conturbados na adolescência e chegou a ser diagnosticada com depressão. "Fazia muitos shows, em uma semana era coisa de 20 shows. Então, era muito cansativo e, ao mesmo tempo, tinha responsabilidade de subir num palco para milhares de fiéis e falar sobre Cristo. Chegava no hotel e chorava muito porque me olhava e não me entendia. Tinha raiva porque, na minha cabeça, tinha alguma coisa errada comigo", recorda.

Com a transição de gênero, a cantora perdeu grande parte do público que a acompanhava e passou a sofrer ataques transfóbicos nas redes sociais constantemente, tanto que chegou a perder dois perfis do Instagram.

“Recebo muita transfobia. Acho importante trazer essa pauta para ver o quanto as plataformas ainda trabalham de forma errada, porque eles não limitam esse tipo de comentário Fico muito triste de ver que têm tantos usuários transfóbicos tendo direito de poder espalhar tanto ódio assim. Já tomei ações contra algumas pessoas, mas imagine ter que tirar um tempo de denunciar mil pessoas, fazer boletim de ocorrência cada vez que eu posto uma foto?”, lamenta.

Por fim, Ella ainda aconselha pessoas LGBTQIA+ que vivem em ambientes preconceituosos e conservadores, assim como ela já viveu. “Não deixe de sentir, não deixe de viver. Muitas pessoas vivem aprisionadas, com depressão, porque querem experimentar aquela espiritualidade, querem estar naquele ambiente e, ao mesmo tempo, não podem ser ela mesmas. Existem muitas igrejas evangélicas inclusivas, jovens que querem ser cristãos não devem se forçar a estar num ambiente onde eles não são aceitos, talvez eles possam encontrar em outra igreja”, conclui.

Fonte: Redação Terra
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