Líder da Marcha Trans pede para todos usarem verde e amarelo: 'A bandeira não é de um grupinho'
Sétima edição do evento acontece nesta sexta, 31, no Largo do Arouche, região central da cidade de São Paulo
Nos últimos anos, presenciar uma manifestação com pessoas usando as cores do Brasil tem sido sinônimo de protestos conservadores no país, mas 7ª marcha do Orgulho Trans da Cidade de São Paulo quer mudar essa realidade. O evento acontece das 11h às 16h no Largo do Arouche, centro da capital paulista, nesta sexta-feira (31) e convocou o público para ir à rua usando verde e amarelo.
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Pri Bertucci, cocriadore da Marcha, conta em entrevista ao Terra que teve a ideia de aderir ao verde e amarelo após o show de Madonna em Copacabana, quando a rainha do pop e Pabllo Vittar usaram a camisa da Seleção Brasileira em um momento de homenagem ao país.
“A gente viu aquele espetáculo de gênero e sexualidade tão disruptivo e, no mesmo dia, Majur gravou um vídeo muito emocionada falando do impacto dessa bandeira não ser mais um símbolo deste governo [Bolsonaro]. Sabendo que a Majur já iria vir tocar, falamos com pessoas da velha-guarda do movimento trans, que acharam uma ótima ideia", conta Pri, que também é artista social e cocriadore da linguagem neutra em português.
"O movimento queer procura neutralizar o poder do opressor. Queer era um xingamento antigamente. Então, quando dizemos 'a gente é queer mesmo', aquele xingamento não mais nos serve. O mesmo que foi feito aqui no Brasil com termos como ‘sapatão’ e ‘viado’, que eram termos pejorativos e começamos a usar a nosso favor. Então, é uma tática de neutralizar os símbolos e palavras usados para nos diminuir de alguma forma. A ideia de pegar a bandeira de volta e dizer que ela não é de um grupinho só, é ressignificar algo que foi usado para nos separar”, explica Bertucci.
Renascença de Gênero
Nomes como Majur, Erika Hilton, Jaloo, Neon Cunha, Isa Silva, Indianarae Siqueira e muitos outros estão entre os convidados para a Marcha deste ano, que tem como tema "Renascença de Gênero".
Pri define o mote como "uma nova fase de pensar o que é gênero, renascer e criar um novo padrão de pensamento onde você tem que se encaixar em duas opções: homem é macho, e mulher é fêmea. A ciência moderna já explica que isso é uma ideia adequada de quem nós somos. Não podemos definir 8 bilhões de pessoas no planeta em apenas duas caixas, duas regras."
A Marcha Trans de São Paulo segue o mesmo calendário de outras edições pelo mundo e acontece dois dias antes da Parada do Orgulho LGBT+. Para Pri, a importância de um evento voltado para as demandas da população se dá pelo fato de que essa parcela da comunidade tem outras demandas.
"Quero comprar uma passagem de avião e não consigo escolher o meu gênero, porque não-binário não existe na opção de nenhum site. Fora outras questões, como fazer exames, conseguir trabalho. Pessoas LGBTs em geral são colocadas em uma segunda categoria, pessoas trans então são colocadas em uma quinta categoria social, ainda somos vistos como pessoas com algum tipo de doença", exemplifica.
Apesar dos desafios citados acima e de outros reflexos da transfobia, Pri analisa que o entendimento da população sobre pessoas trans mudou ao longo dos anos. “Sou considerada uma das primeiras pessoas não-binárias do Brasil, porque não tinha ninguém há 15 anos. Tem esse lugar de que era algo totalmente alienígena, hoje já sabemos um pouco mais.”
Ao longo dos sete anos que separam a primeira edição da Marcha de hoje, Pri comemora algumas vitórias, como um maior engajamento e participação na passeata, uma mudança de percepção sobre pessoas trans, coletas de fundos para ajudar a causa e ajudar a lançar carreiras políticas de trans, entre outros resultados.
"A Marcha Trans é um palco para muitas das mulheres trans que acabam sendo eleitas, muitas delas já passaram por aí. A gente é apartidário, mas chamamos todas elas que estão se elegendo e lutando por esses lugares públicos para a gente poder cuidar dos nossos direitos", conclui.