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Líder da rede de católicos LGBTs afirma: 'A igreja é plural e tem espaços seguros para nós'

Coordenador nacional da organização, Luís Rabello, é casado com Jeferson Batista; ambos acreditam que há ambientes eclesiásticos acolhedores

29 mai 2024 - 06h00
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Resumo
Casal gay católica deseja que nenhum fiel da comunidade precise abrir mão da da sexualidade para viver a fé cristã
Luis e Jeferson fazem parte da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+
Luis e Jeferson fazem parte da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal / Divulgação/Arquivo Pessoal

Filhos de pais católicos praticantes, Luis Rabello, de 36 anos, e Jeferson Batista, de 30, desde criança vão à igreja e participam de atividades pastorais. Porém, na adolescência, o casal, cada um a seu modo, se reconheceu LGBTQIA+, e a relação com a instituição, outrora marcada pela acolhida, foi se tornando tensa. E, segundo eles, era necessário reverter este cenário, pois desejavam “conciliar a sexualidade com a espiritualidade”.

Os dois reconhecem um esforço pessoal para permanecer na igreja católica, que muitas vezes compreende a diversidade sexual como desvio e pecado. Este empenho, segundo eles, se dá pelo desejo de vivenciarem uma espiritualidade e por enxergarem o catolicismo de maneira múltipla, em que existem espaços de acolhida, principalmente nas comunidades, onde a interação pessoal e o comprometimento em torno de um objetivo comum ocorre. “Ainda que se coloque como monolítica, a Igreja é plural no seu interior e tem espaços seguros para nós”, pontua Jeferson.

Luis é o secretário executivo da Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+, organização fundada em 2014, e que, atualmente, possui 23 coletivos espalhados pelo país, e também virtuais. O objetivo da iniciativa, de acordo com o texto de apresentação do site oficial, é “proporcionar encontros, trocas e reflexões de aprofundamento sobre a fé cristã”.

Igreja, como um ambiente familiar

Natural de Campinas, interior de São Paulo, Luis Rabello passou a frequentar a comunidade perto da sua casa aos quatro anos. Seus pais, muito engajados, exerciam a função de catequista, ministro da eucaristia, e, ainda, auxiliavam na coleta do dízimo. A ‘saída do armário’ não foi um dos momentos mais tranquilos da vida do rapaz, segundo o próprio. Sua mãe só aceitou completamente sua orientação afetiva sexual após ter uma conversa sobre o assunto com um padre jesuíta.

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Já Jeferson, que cresceu na zona rural de São João da Boa Vista, também no interior paulista, se reconheceu gay na universidade, o que, para ele, foi bom, pois “a pluralidade de pessoas e pensamentos” o fez perceber que nada estava errado. O jornalista começou a se reconciliar com a fé cristã após iniciar a leitura de livros de espiritualidade progressista com fundamentação na Teologia da Libertação.

“Essa dimensão intelectual, me ajudou a compreender que minha sexualidade não era pecado, errado, ou doença”, disse o jornalista.

Por meio  da pesquisa de mestrado, Jeferson conhece a Rede Nacional de Grupos de Católicos LGBT+ e passa a frequentar os encontros em São Paulo. “Ali, eu e Luis, encontramos um espaço para desenvolver nosso ativismo dos Direitos Humanos, e, também, encontramos uma comunidade de fé”, conta.

Passos para o reconhecimento

Na função desde outubro de 2023, Luis afirma que desde então alguns passos foram importantes para o reconhecimento e a acolhida do grupo pela hierarquia da Igreja. “O mais importante foi o nosso ingresso no Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), que reúne todas organizações de leigos no país. Ou seja, a rede de católicos é uma voz ouvida no meio laical e tem a mesma representatividade que a Pastoral da Criança, por exemplo”.

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Além disso, representantes da equipe nacional da Rede foram recebidos para uma reunião com a nova presidência da Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) logo após ser eleita, em setembro do ano passado.

“Vale destacar que, depois de muitas tentativas,a CNBB recebe pela primeira vez um grupo católicos LGBTs”, afirma Jeferson. “A nossa aproximação é feita com muita cautela, porque sabemos que existem outros atores que têm visão contrária a nossa, e pregam celibato e até cura”.“Mas nossa prioridade são as igrejas locais e as comunidades, onde estão os LGBTs, pois ali podemos fazer a diferença e, assim, auxiliar concretamente na construção de um mundo melhor, que é o sonho de Deus”.

Papa Francisco: proximidade e desafios

Para o casal, inegavelmente, passos foram dados para acolhida de LGBTs na Igreja nos 11 anos de pontificado do Papa Francisco. Porém, segundo eles, há vozes resistentes a estes avanços, e como prova citam o documento “Dignitas infinita”, que considera cirurgias de designação de gênero como “uma ameaça à dignidade humana”.

Isso, segundo a dupla, “trouxe ruídos” no diálogo. Sobre a situação, eles citam a irmã Jeannine Gramick, freira pioneira no trabalho com LGBTs desde a década de 1970, que enviou uma carta questionando o teor do documento. Como resposta, o Santo Padre afirmou que este trecho não diz respeito as pessoas trans, mas, sim à chamada “ideologia de gênero”.

“A ideologia de gênero é um fantasma, que ninguém sabe ao certo o que é. Mas esse sinal do Papa, dado na resposta à Irmã Jeannine, nos faz recuperar o sentimento de esperança de uma Igreja acolhedora”, diz Luis.

Acredito que o mais importante do Papa Francisco é este efeito que ele provoca nas comunidades pelos seus gestos e palavras de acolhida. Como líder, o que ele faz repercute na prática dos fiéis, e pode transformar, mesmo que timidamente, as nossas comunidades, tornando-as mais empáticas aos que estão nas periferias físicas e existenciais”, diz Luis.

“E este, enfim, é o nosso objetivo, repercutir uma igreja ao estilo de Francisco. Queremos ampliar os espaços de segurança para os LGBTs no ambiente eclesial, não queremos que ninguém largue a fé cristã para viver a identidade LGBTQIA+, este conflito não deve mais existir”, partilha Jeferson.

Isso não quer dizer que um documento crítico ou uma homilia (pregação) homofóbica não nos afete. Mas, encontramos no evangelho e na mais profunda experiência cristã, a possibilidade de sermos cristão sem precisar se adaptar ao que outras pessoas mandam, e não Deus”, conclui Jeferson.

Fonte: Redação Terra
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