Marcha Trans: emprego e aumento da expectativa de vida são principais reinvindicações das pessoas trans
A marcha foi realizada nesta sexta-feira, 9, no Largo do Arouche, na região central de São Paulo
A Marcha do Orgulho Trans teve sua abertura marcada pela diversidade de corpos em meio a falas de reivindicações e apresentações culturais. O evento foi realizado nesta sexta-feira, 9, no Largo do Arouche, na região central da capital paulista.
Como marca da 6ª edição, a abertura foi realizada por Symmy Larrat, a primeira mulher trans a ocupar uma secretaria do governo federal, a Secretaria Nacional LGBTQIA+.
Em sua fala, a secretaria mencionou o compromisso do atual governo com os direitos das pessoas trans e travestis.
“Enfrentamos quatro anos de um governo que fingia que a gente não existia e até mesmo nos ameaçava. É muito bom estar na Marcha como representante de um governo que se compromete”, declarou Symmy em seu discurso.
O Terra ouviu participantes do evento para entender as perspectivas e as principais pautas da comunidade T da sigla LGBTQIA+:
Joyce Bezerra da Silva, de 49 anos, mulher trans, representando Casa Neon Cunha
"Nesse momento, a população trans precisa ter condições de ter um emprego, ter renda e ter moradia. A população trans não tem moradia, assim como população de São Paulo é de baixa renda ou em situação de vulnerabilidade."
Noah Scheffel, de 36 anos, homem trans, fundador do projeto EducaTRANSforma
"Eu acredito que tem muito caminho a ser construído do que foi desmantelado nos últimos anos de governo, para que a gente chegue no local em que a gente consiga acessar coisas básicas como alimentação, moradia e saúde. Que a gente se entenda enquanto sociedade que esse guarda-chuva trans é tão plural. Temos aí diversas identidades e as trans masculinas têm as suas peculiaridades que precisam ser atendidas também, principalmente no âmbito da saúde, que hoje é muito precário e que acaba sendo uma dificuldade muito grande."
Rafael Martins, fundador do Instituto Meninos Bons de Bola
"Eu acho que nesse momento a pauta mais importante é as pessoas entenderem o quanto a gente precisa ser respeitado, porque eu acho que independente da gente ser gay e trans, a gente é um ser humano. A partir do momento que existe um evento como esse nos mostra o quanto a gente precisa combater vários tipos de preconceito. O Instituto Meninos Bons de Bola está nesse movimento justamente para poder mostrar para as pessoas que não é só um dia de festa, isso aqui tá sendo assim um dia bacana onde a gente pode curtir com os nossos e também é um dia de luta."
Matuzza Sankofa, presidente da Casa Chama
"Quero o aumento da expectativa de vida. A gente vive num País que pelo 14º ano consecutivo é o país que mais mata pessoas trans. A gente precisa humanizar a existência das pessoas trans, a gente precisa que a nossa expectativa de vida seja equiparada à expectativa de vida das pessoas cis, não dá mais para mulheres como eu, que sou mãe, que tenho 31 anos de idade, tem um filho de 6 anos, levantar todos os dias da cama com o receio e o medo de que eu não vou conseguir terminar de criar o meu filho, de educar o meu filho."
Pedro Verissimo Guesa, 37 anos, não-binário
"A pauta principal é nossa saúde mental porque quando a gente fala de binariedade, não que transicionar na binariedade seja fácil, mas é um caminho, talvez menos dolorido do que quando você ultrapassa a binariedade e entra na normalidade. Uma barba é acessório, um peito é acessório, um pronome. Às vezes pode ser um acessório onde eu posso parecer uma menina e ainda assim me chamar de Pedro. Eu posso parecer um menino e me chamar de Silvia, por exemplo, que é meu nome de batismo. Só que antes disso a gente acha que tem vários problemas de personalidade até você entender que sim, você pode usar dois nomes que você quiser, você pode parecer um menino e ter peito. Tem pessoas que cometem suicídio ou tentam, assim como eu tentei, até chegar na aceitação, então a maior é ter psicólogos e psiquiatras preparados para atender pessoas como a gente."