"Medo de continuar no condomínio", diz coreógrafo que sofreu homofobia onde mora
Renan Silveira tinha autorização para gravar clipe e mesmo assim foi hostilizado por moradores do condomínio
O bailarino e coreógrafo Renan Silveira queria apenas gravar um vídeo mostrando a coreografia que fez para um funk, e assim divulgar seu trabalho nas redes sociais. Ele até encontrou a locação perfeita para simular o ambiente de praia que precisava, no caso, a quadra de beach tênis do condomínio onde mora em São Paulo. Ele só não esperava que seria interrompido por vizinhos contrários à gravação por um único motivo: ele estar montado de drag.
"Eles já chegaram mandando eu desligar os aparelhos, falando palavrão. E a ideia era clara: 'Não quero meus filhos vendo uma travesti ou alguém transvestido aqui'", relata Renan, em entrevista exclusiva ao Terra.
O artista lembra que seus agressores nem mesmo olhavam para ele, o que o fez se sentir desrespeitado. "[Enquanto mandavam parar a gravação] não estavam nem olhando no meu olho, não estavam nem me dirigido a palavra. Falavam apenas com quem estava operando os equipamentos", conta.
Diferentemente dos últimos dias, que ele tem notado olhares de vizinhos depois do ocorrido, na última sexta-feira, 23. Agora, ele convive com o medo.
"Eu estou sentindo mais medo agora, os olhares estão mais intensos. Tenho medo de descer nas áreas comuns, ir à academia", desabafa.
Entenda o que aconteceu
A violência aconteceu na última sexta-feira, 23. Renan conta que tinha autorização do síndico do condomínio para fazer a gravação, que começou com um amigo, também bailarino, dançando no mesmo lugar. Quando Renan desceu maquiado, de peruca, body e salto, não conseguiu gravar uma sequência completa, antes de ser interrompido. Foi nesse momento que ele percebeu que se tratava de homofobia.
Toda a ação foi gravada pelo maquiador que trabalhava no projeto, a pedido de Renan, que queria ter evidências da violência que estava sofrendo. Ele decidiu compartilhar as gravações nas redes sociais, para movimentar as pessoas a engrossarem o coro contra o preconceito.
"Eu tenho uma visibilidade muito grande, tem muitos artistas do meu lado me apoiando e divulgando o que aconteceu. Todos os dias acontecem milhares de casos de homofobia, e isso passa em branco. Eu não queria deixar isso acontecer. Eu preciso seguir em frente para mostrar que é crime, sim, e é horrível", afirma.
Lei pune discriminação contra homossexuais e transexuais
A advogada Emanuela Araújo, que está cuidando do caso, explica que no estado de São Paulo existe uma lei que pretende punir com multa toda a manifestação atentatória ou discriminatória praticada contra cidadão homossexual ou transexual. Renan estuda entrar com uma representação criminal contra os dois indivíduos que o atacaram.
Segundo informou ao Terra, os autores já foram identificados. No entanto, Renan e sua assessoria jurídica optaram por não tornar público os nomes dos agressores, e nem do lugar onde aconteceu a violência.
"Pra mim é chocante que isso aconteça no mês do Orgulho, principalmente depois da Parada. É uma sensação de falsa segurança que a gente tem. Eu estou morrendo de medo de continuar no condomínio, mas como que eu vou sair do lugar que é a minha casa?", lamenta.