O que é Intersexo? Aprenda o significado, diferenças em relação à trans, exemplos de pessoas, tipos e sua bandeira
O que significa ser uma pessoa intersexo? Entenda mais sobre o conceito que ficou mais conhecido após as Olimpíadas de 2024.
Uma pessoa intersexo nasce com características sexuais que não se encaixam nas definições binárias de masculino ou feminino, podendo envolver genitálias, cromossomos ou hormônios. Essas variações biológicas ocorrem naturalmente e podem ser identificadas ao nascimento, durante a infância ou até mesmo na adolescência ou na vida adulta.
Nos últimos anos o termo intersexo tem ganhado visibilidade, e isso é fundamental para que a sociedade brasileira assuma um lugar mais inclusivo e diverso. Dentro da sigla LGBTQIAPN+, se enquadra na letra “I” e representa um grupo de pessoas que possuem características próprias em relação a sua identidade.
O termo "intersexo" nada mais é do que um conceito que desafia as categorias binárias tradicionais e visibiliza outras experiências que existem além de um padrão já estabelecido.
Pessoas intersexuais podem apresentar características sexuais, como testículos e ovários, por exemplo, que não seguem a binaridade entre o que é masculino e feminino. Além disso, características físicas, genéticas e hormonais também podem seguir essa mesma regra.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a intersexualidade é presente em até 1,7% da população mundial. Aqui no Brasil, estima-se que cerca de 167 mil pessoas apresentam alguma dessas características.
O que é intersexo?
Uma pessoa intersexo nasce com características sexuais que não se encaixam nas definições binárias de masculino ou feminino, podendo envolver genitálias, cromossomos ou hormônios. Essas variações biológicas ocorrem naturalmente e podem ser identificadas ao nascimento, durante a infância ou até mesmo na adolescência ou na vida adulta.
Diferente das outras letras da sigla LGBTQIAPN+, o I de “intersexo” está associado a uma característica biológica. Basicamente, a intersexualidade afasta a ideia de binaridade. Enquanto a sociedade muitas vezes simplifica a compreensão da sexualidade humana como binária, a intersexualidade reconhece a diversidade biológica e as particularidades existentes.
Mas essa questão não é como uma receita de bolo e é importante garantir que cada experiência seja respeitada. A identidade intersexo também se refere à experiência desses indivíduos em relação à sua própria identidade de gênero, ou seja, algumas pessoas podem se identificar estritamente como homem ou mulher, enquanto outras podem se identificar fora do espectro binário de gênero.
É importante notar que a intersexualidade é uma variação natural e não uma condição patológica. Além disso, o respeito pelos direitos e autonomia das pessoas intersexo é fundamental. A decisão de realizar ou não intervenções médicas deve ser tomada com cuidado, considerando o bem-estar da pessoa e o seu consentimento.
Qual é a diferença entre intersexo e transexual?
A intersexualidade refere-se a uma condição biológica em que uma pessoa nasce com características sexuais que não se encaixam nas definições de masculino ou feminino. Já as pessoas trans são pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele que lhe foi atribuído ao nascimento.
A principal diferença entre intersexo e transexual, portanto, reside no fato de que a intersexualidade diz respeito à variação biológica no corpo de uma pessoa, enquanto a transexualidade está relacionada à identidade de gênero e à vivência de uma pessoa em relação a essa identidade.
Ambas as condições desafiam as normas binárias de sexo e gênero e estão inseridas dentro da sigla LGBTQIAPN+.
Ambos os grupos compartilham a luta por maior visibilidade e reconhecimento, buscando o direito ao bem viver, sem serem forçados a se encaixarem em normas pré estabelecidas.
Quais são os tipos de intersexo?
O médico psiquiatra e psicoterapeuta Saulo Ciasca aponta que existem mais de 40 tipos de Diferença do Desenvolvimento do Sexo (DDS) e o intersexo é uma delas.
"Há condições em que o paciente vai apresentar uma genitália com características masculinas e femininas ao mesmo tempo, a ponto de não conseguirmos identificar. A gente chama os de atipia genital, é uma genitália atípica", explica.
Saulo destaca que não são usados termos como "anomalia", "defeito" ou "erro genético". "A gente compreende a intersexualidade como mais uma condição da diversidade humana e não como anomalias ou defeitos", justifica.
Existem variações dentro do intersexo, que incluem diferenças tanto cromossômicas, como hormonais e anatômicas, por exemplo. Algumas pessoas podem apresentar cromossomos atípicos, como XX, XY, XXY. Já outros, podem apresentar variações nos órgãos genitais ou também nos níveis hormonais.
Síndrome de Insensibilidade Androgênica (SIA)
Uma pessoa que é geneticamente XY (tipicamente masculino) é insensível aos andrógenos (hormônios masculinos). Como resultado, desenvolve características sexuais femininas ou mistas, mesmo tendo um padrão cromossômico masculino.
Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC)
Essa condição afeta a produção de hormônios pelas glândulas suprarrenais. Em pessoas geneticamente XX (tipicamente feminino), a HAC pode levar ao desenvolvimento de genitália ambígua ou características masculinas.
Síndrome de Klinefelter
Pessoas com esta condição têm um cromossomo sexual extra (XXY em vez de XY). Isso pode resultar em uma combinação de características sexuais masculinas e femininas, como testículos pequenos, pouco desenvolvimento dos músculos e algumas características femininas.
Síndrome de Turner
Esta condição afeta pessoas que possuem apenas um cromossomo X (em vez de dois cromossomos sexuais, como XX ou XY). Os indivíduos com Síndrome de Turner geralmente apresentam características femininas, mas podem ter ovários subdesenvolvidos e outros sinais como baixa estatura.
Gonadal Disgenesia
Neste caso, as gônadas (ovários ou testículos) não se desenvolvem completamente ou se desenvolvem de forma atípica. Pode ocorrer em indivíduos com qualquer configuração cromossômica.
Disgenesia Gonadal Mista
Uma forma de gonadal disgenesia onde a pessoa possui uma mistura de tecidos gonadais (alguns que se assemelham a ovários e outros que se assemelham a testículos). A genitália externa pode ser ambígua.
Síndrome de 5-Alfa Redutase
Pessoas com esta condição genética são incapazes de converter testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), um hormônio necessário para o desenvolvimento dos órgãos genitais masculinos. Isso pode resultar em genitália que parece feminina ao nascimento, mas que pode masculinizar durante a puberdade.
Hermafroditismo
É uma condição rara onde a pessoa tem tanto tecido ovariano quanto testicular. As características sexuais podem ser ambíguas ou uma combinação de características masculinas e femininas.
Um dos desafios enfrentados é a identificação e o reconhecimento dessas variações. Muitas vezes, essas diferenças não são óbvias externamente, o que pode levar a mal-entendidos e estigmas. Além disso, não há uma regra de quando se descobrir uma pessoa intersexo. Essas características podem ser identificadas ainda na puberdade, mas também, muitas vezes, esse processo é tardio.
Por isso a importância do acompanhamento médico desde a infância, já que facilita a identificação e o tratamento quando existem alterações hormonais. A identificação de uma pessoa intersexo geralmente ocorre durante exames médicos.
Intersexo e a sigla LGBTQIA+
Após reivindicação de pessoas associadas à causa, há três anos, em 2020, a palavra “intersexo” foi incluída na sigla LGBTQIAPN+. Reconhecer e respeitar pessoas intersexo como parte da comunidade é um dos passos para expandir a visibilidade e avançar em relação à ausência de direitos.
A aceitação e o respeito pela diversidade intersexo são fundamentais, isso porque além de diminuir o tabu, auxilia pessoas a se fortalecerem e sentir orgulho das suas individualidades. É importante reconhecer que a experiência intersexual é única para cada indivíduo, e não existe uma só definição do que significa ser intersexo.
Ao explorar esse assunto, abre-se espaço para uma conversa mais inclusiva e respeitosa sobre a diversidade humana. A compreensão e o apoio são essenciais para criar um ambiente onde todos possam viver autenticamente, independentemente de sua biologia ou de suas características próprias.
Visibilidade intersexo
Em março de 2023, a influencer Karen Bachini, de 33 anos, conhecida por vídeos sobre maquiagens, revelou ser uma pessoa intersexo.
A condição, pouco discutida no Brasil, chamou atenção daqueles que acompanham Bachini. “Categorizando em um termo geral para as pessoas entenderem, eu sou pseudo-hermafrodita feminina, onde tenho as genitais e os órgãos internos, mas não possuo qualquer tipo de hormônio”, disse a influencer na época.
Karen afirmou que recebeu o diagnóstico após um longo processo e que precisou passar por terapia hormonal, já que não produz hormônios considerados femininos, mesmo possuindo genitais e órgãos típicos de mulheres.
“Naquela época (quando tinha 18 anos), eu fui aos médicos e não sabia o que estava acontecendo com meu corpo, meu ovário era desse ‘tamanho’, eu não tinha glândula mamária, estava totalmente com o corpo atípico”, revelou Bachini.
Além dela, outra pessoa responsável por trazer mais visibilidade para a pauta foi a modelo Roberta Close, principalmente na luta pelos direitos da comunidade intersexo no Brasil. Uma das primeiras mulheres intersexo a tornar público, enfrentou muito preconceito, mas também fez com que a sociedade refletisse sobre o assunto.
Recentemente, durante as olimpíadas, o conceito veio à tona na mídia, devido a polêmica com a lutadora Imane Khelif. Desde antes dos jogos olímpicos, a lutadora já vinha enfrentando uma série de discursos de ódios. Ainda no mundial amador de 2023, ela foi banida pela Associação Internacional de Boxe (IBA) de participar, alegando que a atleta não era elegível para competir na categoria feminina.
Já nas olímpiadas, o COI autorizou que a argelina entrasse no ringue e competisse, saindo medalhista olímpica. Mas, infelizmente, sofreu inúmeros ataques.
Já tivemos avanços, mas ainda há muito preconceito
Infelizmente, muitas sociedades ainda enfrentam desafios em reconhecer e respeitar a diversidade, levando a práticas médicas desnecessárias, estigmatização e discriminação. O movimento intersexo busca conscientização, aceitação e direitos iguais para esses indivíduos, promovendo uma compreensão mais inclusiva e respeitosa da diversidade humana.
Para combater o preconceito e desconstruir estereótipos, é preciso reconhecer que a diversidade de identidades de gênero é uma parte natural da condição humana. Nos últimos tempos, é possível perceber um movimento mais intenso na conscientização sobre a intersexualidade. Com o apoio da ONU, o movimento contrário ao preconceito e a estigmatização de pessoas intersexo tem ganhado força ao redor do mundo.
Ao discutir e desafiar o preconceito contra pessoas intersexo, estamos dando passos importantes em direção a uma sociedade mais igualitária. Isso porque a discriminação afeta fatores básicos para a sobrevivência humana, como por exemplo o acesso à saúde, trabalho, educação, lazer, etc.
Como é a bandeira intersexo?
Segundo a iniciativa Queer In The World, a bandeira do orgulho intersexo mais comum é projetada com um fundo amarelo e um círculo roxo no centro.
Em 2013, Morgan Carpenter, da Intersex Human Rights Australia, escolheu amarelo e roxo porque nenhuma dessas cores representa as construções tradicionais de identidades binárias (masculino e feminino).
Essas cores foram escolhidas para refletir a diversidade de experiências e identidades dentro da comunidade intersexo, destacando a importância de reconhecer e respeitar a variedade de formas como as pessoas podem experimentar o gênero e a identidade sexual.
Esse assunto ainda carrega tabus e por isso é tão importante compreender que cada pessoa intersexo tem uma jornada única de autodescoberta e aceitação. Ao reconhecermos e celebrarmos a individualidade, contribuímos para a construção de uma sociedade mais inclusiva, diversa e que respeite as diferenças entre as pessoas.
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