'Outro veado chegou', disse médico que usou peruca para defender colega de homofobia
A paciente disse odiar ser "atendida por homossexual"; caso aconteceu na cidade baiana de Feira de Santana
O médico Carlos Vinícius da Costa, que se apresenta nas redes sociais como Diamann Nefer, deu detalhes, em entrevista à TV Bahia, do episódio em que ele decidiu usar uma peruca e se maquiar para atender uma paciente que havia sido homofóbica com um colega. O caso aconteceu no Hospital da Mulher, em Feira de Santana.
"O médico veado foi na delegacia prestar queixa, e outro veado chegou para atender", disse ele à mulher, segundo contou na reportagem.
Carlos Vinícius disse que decidiu intervir na situação depois de encontrar o colega, o obstetra e ginecologista Phelipe Balbi, abalado durante o plantão. Foi Carlos Vinícius quem sugeriu que Balbi deixasse a unidade para que ele atendesse e conversasse com a mulher.
Ao passar pela paciente no corredor, Carlos Vinícius comentou que iria atendê-la e seguiu a agenda.
"Dei as costas e fui para o consultório atender normalmente. Isso era umas 9h. Atendi todas as pacientes normalmente. E aí, eu fui colhendo as informações da equipe toda, dos amigos, dos colegas de plantão, do que ela tinha causado de transtorno para o meu amigo e para a unidade", disse.
Só então que o médico elaborou o plano da peruca. Ele lembrou que tinha o acessório na casa da mãe de Phelipe, porque os dois planejavam usá-la em uma viagem para São Paulo, onde ocorrerá a Parada LGBTQIA+, neste domingo, 11.
"Liguei para ela, falei: 'Bota no Uber. Traz, minha tia, que eu vou usar'", relembrou Carlos Vinícius, que ainda pediu um batom emprestado à técnica de enfermagem.
"Quando eu fiz aquilo foi para mostrar a ela que, independente, [de ser] homossexual, heterossexual, o que for, a gente tem que se fiar ao ser humano", afirmou.
O médico disse ainda que decidiu se arrumar daquele jeito para causar um choque na paciente, mas, ao mesmo tempo, a tratou com carinho e empatia. Ele lembrou que a mulher também está em um momento delicado, gestante, e que ficou no hospital para dar à luz.
"Conversamos no consultório mesmo. Ela chorou, ela falou que não imaginava que iria tomar essa proporção toda. Eu acho que ela vai pedir desculpa, acho que vale a pena essa diplomacia, acreditar no afeto, no amor", concluiu Carlos Vinícius.
O médico Phelipe Balbi também participou da entrevista e disse que, apesar do episódio, se sentiu muito acolhido pelos pacientes, amigos e família.
"Esse carinho faz com que a gente perceba que foi isolado. Não é o que a gente vivencia todos os dias da nossa profissão", afirmou. Phelipe prestou queixa sobre o caso.
A Fundação Hospitalar de Feira de Santana, que gerencia o Hospital da Mulher, onde ocorreram os fatos, publicou uma nota no fim da tarde de domingo, 4, reforçando o posicionamento ao lado do médico que sofreu homofobia.
"O nosso profissional já foi orientado a prestar queixa na ouvidoria da unidade e na delegacia. Homofobia é crime, e nós não vamos tolerar nenhum preconceito", diz trecho da nota.