Peça argentina explora desafios da vida após prisão para mulheres e trans
Espetáculo da escritora e diretora Lola Arias, vencedora do prestigioso Prêmio Internacional Ibsen, está indo para a Europa no fina
"O passado te persegue e o futuro nunca chega", cantam mulheres cis e pessoas trans no palco em "Los Días Afuera", um musical argentino que explora a vida delas durante e após o período em que passam na prisão.
A peça, da escritora e diretora Lola Arias, de 47 anos, vencedora do prestigioso Prêmio Internacional Ibsen, está indo para a Europa no final de junho. Faz parte de um projeto mais amplo com o filme complementar "Reas" que surgiu de um workshop ministrado por Arias em uma prisão feminina.
As próprias ex-detentas, mulheres e transgêneros, atuam na peça e fazem uma retrospectiva de seu tempo na prisão e dos desafios de se adaptar à vida fora dela. Elas foram presas por crimes como fraude, roubo, tráfico de drogas e prostituição.
Para Arias, as prisões podem nem sempre ser a melhor solução.
"Muitas vezes a prisão é simplesmente um espaço de armazenamento para pessoas que são excluídas da sociedade", disse ela em uma entrevista.
"Isso é parte do que o filme e a peça contam em suas formas, porque questionam a necessidade das prisões, por que as prisões existem e como poderíamos imaginar um sistema de justiça diferente."
A diretora queria analisar os laços de solidariedade criados na prisão, afastando-se das histórias tradicionais de violência na cadeia centradas nos homens.
Ela disse que também escolheu focar nas mulheres e transgêneros por causa dos "problemas de gênero" exclusivos que enfrentam.
"As mulheres trans que se dedicam ao trabalho sexual são detidas sem motivo pela polícia e ficam dias em delegacias. Os homens trans também são frequentemente tratados com desconfiança", afirmou ela.
Os protagonistas contam suas histórias por meio de música e dança, incorporando rock, cumbia e bachata.
Ignacio Rodríguez, um homem trans que ficou preso por nove anos, disse que o projeto mudou sua vida, dando-lhe um motivo para construir o futuro.
"Isso é o que queremos compartilhar e transmitir: empatia, companheirismo, amor, apesar de tudo o que se pode passar", disse Rodríguez, que formou uma banda de rock e começou a estudar direito na prisão.
Yoseli Arias, de 28 anos, que ficou presa por mais de quatro anos, afirmou em uma entrevista no camarim do teatro, com seu bebê por perto, que espera que a peça estimule a reflexão sobre como é realmente a vida na prisão.
"É uma história contada por nós mesmos, sobre nossa própria vida e experiência e sobre como gostaríamos que fosse o futuro: sermos tratados como pessoas comuns."
"Los Días Afuera" será exibida em duas dezenas de teatros na Europa, começando em Avignon, na França.