Quebra de estigmas e resgate da autoestima são desafios de profissionais trans no mercado de trabalho
Maitê Schneider, co-fundadora da TransEmpregos e Consultora de D&I, comenta avanços e dificuldades
Nas vésperas do Dia Internacional do Orgulho LGBT, nesta sexta-feira, 28, especialistas refletem sobre os poucos avanços dos direitos das pessoas trans no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com a co-fundadora da TransEmpregos e Consultora de D&I, Maitê Schneider, os principais desafios continuam sendo a quebra de estigmas e o resgate da autoestima.
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“O grande desafio continua o mesmo de tanto tempo. A quebra de estigmas, que ainda são muito grandes, e a gente ainda não conseguiu vencer os estigmas imputados, aqueles modelos, a padronagem de que trans vive na prostituição porque quer viver na prostituição, de que não tem qualificação, nem de soft skills nem de hard skills. (...). O próximo é, em termos de pessoas trans, resgatar a autoestima porque durante muito tempo, ainda fica sendo muito minado, a autoestima de profissionais trans”, disse em entrevista ao Terra Agora nesta quinta-feira, 27.
Maitê comentou que, em seu projeto, se depara com frequência com pessoas qualificadas, com várias graduações e que, mesmo assim, ainda enfrentam dificuldades para acreditar no próprio potencial. Os motivos apontados para isso são: falta de respeito com o nome social, escolha dos banheiros e falta de benefícios.
“Mesmo os benefícios oferecidos por mais de 97% das empresas não abraçam os profissionais trans. Planos de saúde, as pessoas trans não são contempladas, dentro da questão da licença-paternidade e da licença-maternidade, também não são levadas em consideração”, detalhou Maitê.
Inclusão no mercado de trabalho
O projeto, que existe há 11 anos, é gratuito e atende profissionais trans que buscam oportunidades de trabalho e empresas que desejam anunciar vagas ou contratar profissionais. Além de um banco de vagas, Maitê explica que também oferecem consultoria de graça com mais de 50 especialistas para ajudar a montar e melhorar currículos, além de cursos e parcerias com certificação.
“A gente ajuda essas empresas a ficarem melhores justamente nesses pontos que ainda são enviesados, nesses pontos que [muitas] ainda têm dificuldade. Temos cartilhas de esclarecimentos, a gente faz palestras gratuitas dentro dessas empresas para tirar esses medos, esses terrores e aproximar esses talentos”, explicou a especialista.
Apesar dos pontos negativos, também há pontos a serem celebrados. A especialista explica que, nos primeiros anos da empresa, a aceitação ainda era muito “tímida”. “Foi um grande avanço que nós temos tido, não só de grandes empresas, a maioria das multinacionais são nossas parceiras, mas também tem um aumento muito grande de empresas de médio porte, também pequenas, empresas familiares”, explicou.
“Víamos muita empresa dizendo que fazia e, na prática, pouco fazia ou nada fazia, que é essa 'Diversity Washing', essa 'lavagem da diversidade', e que usa em apenas alguns momentos específicos, mas não tinha uma constância. Temos visto um aumento desta constância. Ainda tem muita empresa usando, mas é muito menor o número”, disse Maitê.
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