"Quero que me vejam como mãe da comunidade', diz Léo Áquilla, 1ª mulher trans a coordenar secretaria em SP
Junto a nomes como Roberta Close e Vera Verão, Léo ficou conhecida nacionalmente por suas performances como ‘drag queen’
Às quatro horas da tarde desta terça-feira (6), Leonora Áquilla, mais conhecida como Léo Áquilla, nos recebeu na Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania para uma entrevista. Desde março, a política ocupa o terceiro andar como a primeira mulher trans a coordenar políticas para a comunidade LGBTQIA+ em São Paulo.
Nascida em Capão Redondo, zona sul da capital paulista, Léo afirma ter sido uma “criança afeminada”, o que lhe rendeu uma série de violências. A fama, de acordo com ela, era considerada um “caminho para se tornar uma pessoa de autoridade e reverter os danos causados durante a infância”.
“Na minha cabeça, eu era uma menina. Fui muito repreendida por isso. ‘Não pode usar esse cabelo, não pode sentar assim’. Foram invalidando e esvaziando aquela criança para caber na sociedade. A partir disso, comecei a imaginar que se eu fosse uma pessoa famosa, iria me tornar uma pessoa de autoridade e tudo estaria resolvido”, comentou Léo.
Junto a nomes como Roberta Close e Vera Verão, Léo ficou conhecida nacionalmente por suas performances como ‘drag queen’. Apesar de ter alcançado o objetivo traçado ainda quando pequena, a coordenadora conta que se deu conta de que “como pessoa famosa, seria no máximo formadora de opinião”.
“Percebi que se eu quisesse causar uma mudança real, tinha que trabalhar na política. Então, em paralelo a minha carreira artística, fui estudando e me preparando para essa jornada. Eu nem gosto de falar ‘carreira’, porque política, para mim, é missão. Nunca foi profissão”, afirmou.
“Missão de vida”
Eleita deputada federal suplente pelo MDB em 2023, Léo assumiu sua gestão como coordenadora de políticas públicas para comunidade LGBT+ durante o governo do atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). A política, que afirma ser um ‘corpo de esquerda’, considera o cargo como uma “missão de vida”.
“Não tenho palavras para falar sobre o quanto esse cargo significa para mim. Todos os dias levanto de manhã, passo meu batom, coloco meu salto alto, me olho no espelho e falo ‘você é maravilhosa, Léo Áquilla, vai lá e faz a diferença’. Estou aqui para isso, para construir uma história melhor”, declarou.
A suplente, que até ano passado atuava como coordenadora de gabinete do vereador Thammy Miranda (PL), afirma que o objetivo, durante sua gestão, é fazer com que a comunidade LGBT se sinta representada.
“Quero que me vejam como mãe das gays, das lésbicas, das pessoas trans. Como pessoa que trabalha para amenizar a dor daqueles que passam ou ainda vão passar pelo o que já passei. Eu tive força para resistir, mas muitos não têm”, lamentou Áquilla, que tem dois filhos e se tornou avó recentemente.
Parada do Orgulho de SP
Representando a prefeitura de São Paulo na 27ª edição da Parada do Orgulho, Léo Áquilla conta que sua relação com o evento é antiga. De acordo com a coordenadora, sua participação é anterior à primeira edição, como articuladora do que se tornaria a maior Parada LGBT do mundo.
“Minha participação começou um ano antes, em uma manifestação na praça Roosevelt com cerca de trezentas pessoas. Foi dali que surgiu a ideia de fazermos a primeira Parada. Justamente por isso gosto de brincar que fundei a parada LGBT”, riu Léo.
Para além da sua participação como representante da gestão municipal, Léo Áquilla também marca presença como a primeira mulher trans a cantar o hino nacional na abertura do evento. Cantora de ópera há 10 anos, a coordenadora afirma que recusou o convite em um primeiro momento, mas acabou cedendo.
“Eu adorei o convite, mas em um primeiro momento, não quis que fosse eu. Desde que entrei para a política, tenho uma certa dificuldade em expor meu lado artístico. Sinto que as pessoas não associam a arte com a política de forma positiva”, revelou Áquilla.
Apesar disso, a artista e política afirma que compreende a Parada LGBT como um momento de comemorar as conquistas e que, por esse motivo, reconheceu o sentido na sua participação como cantora do hino nacional.
“Além do viés político, a Parada é um evento para comemorar as conquistas relacionadas à nossa comunidade. Para mim, ser uma mulher trans, ocupando um lugar de poder e decisão, é algo que deve ser comemorado. Por esse motivo, resolvi comemorar a partir de outra grande vitória: ser a primeira mulher trans a cantar o hino nacional na Parada LGBT de SP”, declarou Áquilla.