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Uma caminhoneira no stand-up: comediante aborda temática LGBT

Com bom humor, Cínthia Rosini resignifica estereótipos e atropela preconceitos. "Subir no palco já é uma militância", afirma.

13 jun 2022 - 05h00
(atualizado em 18/6/2022 às 11h11)
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Comediante Cíntia Rosini leva voz das lésbicas para o palco
Comediante Cíntia Rosini leva voz das lésbicas para o palco
Foto: Divulgação

Atriz formada pela Universidade Anhembi Morumbi (2007), locutora pelo Senac SP (2006), dubladora pela Unidub de Wendel Bezerra, arte educadora, artista mímico formada pelo Studio Magenia, foi tradutora e palhaço do Circo Il Florilegio (Itália) durante turnê na África, (Argélia, Ghana e Marrocos), astróloga e comediante com especial na Netflix. Mesmo com todo esse currículo, quando ela sobe no palco se apresenta como “sapatão, caminhoneira, chupa charque, rala xota, bate capô de fusca, tesourinha, Sula Miranda, Marlene Matos”, assim ela quebra o gelo e o público se sente mais à vontade diante da sua presença. 

Entrevistamos a comediante que, atualmente, está na estrada com o seu primeiro show solo chamado “Na boleia do meu caminhão”. Confere:

Você usa conscientemente a sua voz para falar em prol das lésbicas ou de toda a comunidade LGBTQIA+?

Acho que tudo tem um objetivo. Tem coisa que é só para rir mesmo, que é bobagem. Mas, outras coisas passam uma mensagem importante. Só eu subir no palco já é uma militância. Porque eu sou um corpo não feminilizado, eu sou uma mulher sapatão e tem gente que se ofende só com a minha presença no palco. Eu não preciso falar de lesbianismo para as pessoas saberem que eu sou lésbica. Posso falar de todos os assuntos, mas a minha sexualidade está implícita, eu sou a rainha dos estereótipos. Casamento, por exemplo, se eu falar de casamento vai ser o casamento com uma mulher, pois isso é parte de quem eu sou, não tem como tirar minha sexualidade do meio. E aí, se eu tenho essa voz para falar eu vou falar o que eu penso, vou te mostrar a minha visão de mundo. Tem gente que vai dar risada, pode até não ser o que você pensa, mas o meu objetivo é te fazer rir, se você quiser continuar com a sua sem problemas contanto que a gente consiga se respeitar.

Em Nanette, último solo da comediante australiana Hannah Gadsby, ela fala sobre o quanto foi cobrada para trazer a temática lésbica para os palcos, você sente esse tipo de pressão social fazendo stand-up aqui no Brasil?

Acho que no humor não tem muito isso, eu milito, eu faço piada com o que eu acredito, faço piada com político, mas eu acho que não existe essa cobrança, porque as pessoas querem rir e se sentirem representadas no próprio dia a dia. Eu sinto isso quando estou falando de gato. A gente ri de bobagens cotidianas. Faz parte da minha rotina e eu não via isso no palco antes e agora eu vejo. Acredito que se trata muito mais da leveza de desconstruir esses estereótipos. Somos caminhoneiras mesmo vamos bater no peito e falar ‘é eu gosto de gato mesmo, tenho planta em casa, toco violão’ se vocês querem achar que é estereotipo é mesmo e não é também, porque tem de tudo e tem de tudo em todos os lugares. As pessoas tentam colocar num lugar só, negro é só assim, LGBT é só assim, e saem colocando a gente em caixinhas. É divertido dar risada disso, não escolhi ser eu sempre fui assim e óbvio a gente acaba adotando coisas com as quais nos identificamos.   

Cintia Rosini estreou especial de comédia na Netflix
Cintia Rosini estreou especial de comédia na Netflix
Foto: Divulgação

Você participou de alguns grupos de stand-up, alguns só de mulheres e outro só com comediantes LGBTs, como foram essas experiências? 

Primeiro veio o Mamacitas, a Carol Zoccolli veio com essa ideia de fazer um show só de mulheres e o primeiro já foi um sucesso. Em seguida, fizemos o festival e vieram mulheres do Brasil inteiro, foi uma maluquice, mas também abriu os olhos dos comediantes de que mulher também sabe fazer comédia, porque havia esse estigma. Mais ou menos na mesma época, Fernando Pedrosa, Júnior Chicó e Gabriel Freitas se juntaram para fazer um show só com pessoas LGBTs e convidaram eu e Babu Carreira. Foram praticamente 2 anos fazendo shows em bar, porque o objetivo a princípio era construir esse espaço onde tanto a gente quanto o público queer se sentisse confortável para ir assistir. Queríamos conquistar esse público que tinha um certo receio de ver stand-up porque era uma coisa muito de homem, hetero, branco. No Brasil o stand-up começou de forma muito elitista e para desconstruir na cabeça das pessoas que o stand-up não é ofensivo, não é agressivo, que o comediante não vai ficar zoando quem está na plateia demora. Todas as minorias, pessoas gays, gordas, negros tinham esse estigma de achar que as piadas seriam direcionadas para elas. Dessa forma, conseguimos pegar um público que frequentava os bares e acabavam gostando. Depois veio o Dopamina que eram 18 mulheres fazendo testes numa noite de quarta-feira, gratuita, no centro de São Paulo, então já pegava outro público. No meio de 2019, a Netflix me convidou para fazer um episódio do especial Lugar de Mulher e, mais recentemente, a Bruna Louise montou o espetáculo e me convidou para fazer o Juntas, um show de stand-up só com mulheres também. 

Com tantos caminhos já percorridos o que você projeta para a carreira agora?

Vejo que depois da pandemia foi muito difícil voltar a fazer show a se reinserir no mercado. Eu fiquei com muito medo, também fiquei um pouco antissocial dificilmente saio e evito lugares muito movimentados. E a comédia é isso, depende da participação, de ver e ser visto. Daqui para frente eu vejo uma subidinha, se Deus quiser. Estou com 5 anos de Stand-up, mas venho de um longo período fazendo comédia, sempre trabalhei com teatro, circo, tenho um certo conforto de muito tempo de palco e agora nessa retomada eu pensei muito, resolvi superar as inseguranças e fazer o meu solo, o desafio de subir no palco e fazer 1h de show é algo que eu sentia falta. 

Cintia Rosini, fala ao Terra sobre o mercado stand-up para mulheres
Cintia Rosini, fala ao Terra sobre o mercado stand-up para mulheres
Foto: Divulgação

Quero que as pessoas venham no meu show, quero continuar construindo meu público e não só de lésbicas e pessoas LGBTs, desejo que todos venham assistir e se divertir comigo. O mais importante é as pessoas conhecerem meu trabalho independente da sexualidade. Inclusive, é maravilhoso ter pessoas preconceituosas na plateia que depois me procuram e falam que acharam engraçado. Vejo que acaba mexendo em algumas coisinhas na cabeça da pessoa. Quando eu digo: ‘a gente não se importa, pode chamar de sapatão mesmo, mas vem comigo vem ouvir o que eu tenho para dizer, olha que engraçado o que vocês pensam da gente’. O humor chega em lugares que a gente nem imagina, ele é muito mais acessível porque trabalha com coisas simples, é uma ferramenta inacreditável de desconstrução de padrões. 

Fonte: Redação Nós
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