Vida de trisal: “Seis mãos para fazer carinho e esquentar a cama”

Era 2013, quando quase 4.000 quilômetros separavam o casal Paula Rey, 26, e Thainara Serra, 27. O relacionamento, que funcionava entre idas e vindas de Porto Alegre ao Pará, se mantém firme, mas acabou ganhando uma nova configuração em 2019, quando ambas se apaixonaram por Giovanna Boaventura, 21. 

“A minha história com a Thai começou pelo Twitter. Eu tinha uma conta apenas para falar sobre séries e músicas que eu curtia e acabamos desenvolvendo uma amizade por causa dos gostos em comum. Seis meses depois, eu estava pegando um avião de Porto Alegre até o Pará porque percebemos que estávamos nos gostando”, contou Paula. 

Notícias relacionadas

Parada LGBT 2023 SP: data, horário e programação

Quem foi o indígena Tibira, o 1º assassinado pela LGBTfobia no Brasil

Somos NÓS: Lanna Holder, a pastora lésbica símbolo da 'cura gay' que hoje prega para LGBTs

Em meio ao trajeto do Sul ao Norte e do Norte ao Sul, Paula e Thainara resolveram não apenas morar juntas em Porto Alegre como entenderam a existência do desejo por outras pessoas e decidiram ‘abrir o relacionamento’ para a possibilidade de ‘ficarem’ com outras pessoas enquanto estivessem nos mesmos eventos. 

“A gente percebeu que por mais que houvesse amor, a atração por outras pessoas nunca deixou de acontecer. Às vezes, íamos em uma festa e rolava um interesse, sabe? Não foi um processo rápido… ficamos mais de um ano conversando sobre a ideia, porque além de ciúmes, ainda existia muito estigma em cima disso”, comentou Paula. 

Após seis anos rompendo com o padrão de relacionamento e explorando e compartilhando os desejos, foi através do Twitter que Paula também conheceu Giovanna, na época com 17 anos.

“Começamos a conversar e acabamos desenvolvendo uma amizade. Não havia interesse no início, mas acabou acontecendo depois que eu e a Thai passamos a encontrar a Giovanna juntas com uma certa frequência”, disse Paula. 

Revirando as lembranças, Thainara conta que ela e Paula se deram conta, ao mesmo tempo, sobre o sentimento que estavam nutrindo por Giovanna. 

“Tínhamos acabado de sair da casa da Giovanna - naquele momento ainda não havia rolado nada entre a gente - daí eu olhei para a Paula e falei ‘acho que estou apaixonada por ela’, aí a Paula me olhou de volta e confirmou que estava sentindo o mesmo. A partir daí, é amor em dose tripla”, comentou Thainara.

No perfil 'Em Trisal', Paula, Thainara e Giovanna compartilham seu dia a dia e alguns detalhes da relação, justamente porque muitas pessoas têm dúvidas sobre a rotina de um ‘trisal’, como: o casal divide todos tipos de tarefas e momentos? O relacionamento é aberto? Existe ciúmes?

 

 

 

 

Ver essa foto no Instagram

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma publicação compartilhada por Giovanna, Paula e Thainara (@emtrisal)

Apesar do relacionamento de Paula e Thainara ter iniciado em um formato que permitia um envolvimento físico com outras pessoas, engana-se quem pensa que relacionamento não-monogâmico é, necessariamente, sinônimo de relacionamento aberto. A prova disso é que a dinâmica do trisal é fechada, ou seja, nenhuma delas se relaciona com outras pessoas. 

Segundo o ‘trisal’, que afirma ter uma vida social ‘tranquila’, com passeios em parques e cinemas, os momentos de lazer são melhores quando existe a possibilidade das três estarem juntas, mas isso não é uma regra.

“Não existe uma coisa do tipo ‘Ah, se uma não pode, nós não vamos sair’. Claro, os momentos são mais aproveitados quando estamos todas juntas, mas existem sim exceções”, disse Paula, que afirmou que a dinâmica para os momentos de carinho e intimidade é exatamente a mesma. 

Questionadas sobre as desvantagens em torno do relacionamento a três, Giovanna comentou que uma das principais é a necessidade de explicação. “A gente entende que é um formato de relacionamento que gera dúvidas, mas pode ser cansativo. Às vezes, quando me perguntam com quem eu namoro, acabo escolhendo uma das duas para não precisar dar explicações”, riu Giovanna.

Além disso, o trisal comentou sobre as burocracias que acabam dificultando alguns desejos, como a oficialização da união e o desejo de registrar um possível filho. 

“Apesar de existir a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo gênero, ainda é um tabu. Se foi algo conquistado a passos de formiga, quem dirá um casamento entre três mulheres?”, questionou Thainara. 

Mesmo com as dificuldades, o trisal, que divide casa com quatro gatos e dois cachorros, afirma que nada supera as vantagens, como a divisão de contas e tarefas domésticas, além do amor em dose tripla e das “seis mãos”.

“São seis mãos para fazer carinho, para se abraçar e esquentar a cama. Isso supera qualquer desvantagem”, concordaram as três.