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Pastor Valadão pode ser impedido de pregar e até ser extraditado, diz advogada

Jacqueline Valles, mestre em Direito Penal, indica possíveis repercussões penais a partir de investigação sobre homofobia no Ministério Público Federal

4 jul 2023 - 17h12
(atualizado em 6/7/2023 às 15h12)
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O pastor André Valadão, alvo de investigação do Ministério Público Federal por homofobia, pode também ser extraditado dos Estados Unidos para o Brasil porque o crime do qual está sob suspeita é passível de punição de até cinco anos de prisão. Durante um culto de sua igreja pelo YouTube, nos EUA, Valadão pregou que, se pudesse, 'Deus matava' e 'começava tudo de novo', se referindo à comunidade LGBTQIA+.

Pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, faz pregações com temática 'teoria da conspiração'.
Pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, faz pregações com temática 'teoria da conspiração'.
Foto: Reprodução/Instagram André Valadão / Estadão

Na avaliação da advogada e mestre em Direito Penal Jacqueline Valles, além de homofobia, o pastor pode ser enquadrado por 'incitação ao crime'.

"O artigo 7 do Código Penal impõe a territorialidade do Brasil mesmo aos crimes que não são praticados aqui, como é este caso", argumenta a jurista.

Durante a pregação, o pastor afirmou: "Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz, 'já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso', agora tá com vocês."

Para Jacqueline, "se houver uma convenção com o país onde o crime foi cometido, o brasileiro pode ser extraditado para a aplicação das leis nacionais".

"Se a investigação concluir que esse senhor cometeu o crime de homofobia, ele pode, sim, ser extraditado para cumprir a pena no Brasil", explica a advogada.

Jacqueline é membro da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abacrim). Ela entende que não há elementos que qualifiquem, por exemplo, um pedido de prisão preventiva contra o pastor, mas explica que, durante a investigação, o Ministério Público Federal pode pedir a aplicação de medidas cautelares para impedir que o pastor volte a cometer o crime pelo qual é investigado.

"A prisão em flagrante existe para cessar o cometimento do crime. Neste caso, não se aplica mais. Mas, ainda assim, o artigo 282 do Código de Processo Penal prevê a aplicação de medidas cautelares para evitar a prática de novas infrações penais", assinala. "Ou seja, há a possibilidade de o MPF solicitar que ele seja proibido de pregar, caso entenda, por exemplo, que há histórico de cometimento deste tipo de crime."

Jacqueline Valles observa que a incitação ao crime está prevista no artigo 286 do Código Penal. Apesar de ter menor potencial ofensivo, se alguma pessoa vier a cometer o crime sugerido pelo pastor, ele pode ser implicado.

"Se alguém cometer o crime que esse cidadão sugeriu e afirmar que o fez a mando do pastor, Valadão pode ser indiciado como coautor do crime e aí as implicações são maiores", diz.

O Ministério Público Federal (MPF) instaurou nesta segunda-feira, 3, um procedimento para apurar possível prática de homofobia praticada pelo líder religioso durante transmissão de um culto pelo YouTube. O procedimento é de autoria do procurador regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) no Acre, Lucas Costa Almeida Dias.

Na terça-feira, 4, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que o pastor responderá legalmente por "propagar ódio contra as pessoas".

Estadão
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