Pedro Neschling: "As pessoas têm tendência de achar que PcDs são incapazes. Isso é problemático"
O ator de 41 anos, intérprete do personagem Eriberto em "Renascer", foi diagnosticado com deficiência auditiva aos 18
O ator Pedro Neschling, de 41 anos, intérprete do personagem Eriberto em "Renascer", novela da TV Globo, foi diagnosticado com deficiência auditiva aos 18 anos de idade e recentemente destacou a importância de falar sobre a condição para minimizar os preconceitos.
"A gente vive em uma sociedade que tem muito preconceito com as pessoas com deficiência. Elas têm a tendência de achar que elas estão incapazes. Isso é muito problemático", disse à Quem.
O objetivo de Pedro é normalizar a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. "Entender que não somos nós, pessoas com deficiência, que temos que nos adaptar à sociedade. A sociedade que tem que nos acolher e nos receber com as nossas características, com as nossas condições, que são todas muito diferentes uma da outra", afirmou.
Segundo o ator, a deficiência de cada pessoa é singular. "Mesmo dentro das pessoas com deficiência auditiva, são muitos tipos de surdez", explicou.
"Para mim, é um alívio até poder falar sobre isso. A gente quer positivamente que as pessoas se aceitem e conversem com seus familiares. E muitas vezes não querem se aceitar, não querem aceitar suas condições, não querem, às vezes, fazer uma audiometria para descobrir se tem ou não uma perda. Mas é muito importante falar, porque só falando que a gente compreende, elabora e evolui", finalizou.
Aparelho auditivo
Em dezembro do ano passado, o ator disse em entrevista que trabalhou até 2014 sem utilizar o aparelho auditivo. "É difícil explicar para quem escuta o quanto ele é fundamental para a minha qualidade de vida. Hoje, penso: 'Meu Deus! Sou deficiente auditivo mesmo. Como tive uma carreira tanto tempo?' [...] Tem sons que não escuto. É uma perda moderada para severa", disse ao jornal O Globo.
Segundo Pedro, muitas pessoas não acreditam em sua deficiência. "Olham e pensam: 'Ator, bonito, bem-sucedido, casado, tem uma filha. Como pode ser deficiente?'. É a imagem depreciativa da deficiência, o capacitismo, a coisa do 'parece que está surdo'. Tem gente que está surda mesmo. E, mesmo que não esteja, não tem graça, sabe?", contou.
"Às vezes, vou pedir algo e tenho que pedir para repetirem uma, duas vezes para conseguir ouvir a resposta. Na terceira, digo: 'Desculpe, é que sou surdo'. Levam um susto. Mas sinto uma mudança depois da pandemia, no sentido de as pessoas estarem mais empáticas e abertas", revelou.
Pedro Neschling ainda disse que demorou a usar o aparelho auditivo porque tinha preconceito. "No momento em que passei a ter esse recurso [do aparelho], entendi a dimensão do meu problema. E aí mudou a minha forma de lidar com isso em relação ao mundo. Compreendi como era importante falar sobre para entenderem que não é o fim do mundo", afirmou.