Perguntas sobre autismo no Censo 2022: vitória e preocupação
Pela primeira vez o autismo entra no radar para levantar dados estatísticos, mas deixa indagações sobre sua real aplicação
A partir de 1º de agosto, questionários básicos serão aplicados por recenseadores do IBGE em 78 milhões de domicílios brasileiros. Pela primeira vez, o autismo vai entrar no radar das estatísticas para mapear quantas pessoas vivem com o transtorno e quantas podem ter, mas ainda não tiveram diagnóstico. Um passo importante, já que, no Brasil, estima-se que existem 2 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), porém esse número é incerto e requer atualização.
Desde 2019 existe a lei 13.861, que obriga o IBGE a perguntar sobre o autismo no censo populacional, mas somente este ano o questionário vai incluir perguntas sobre o tema. A decisão foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro ao sancionar a lei. Uma surpresa, já que o próprio, anteriormente, havia se posicionado contrário ao tema, mas voltou atrás por pressão dos movimentos autistas. Trata-se de uma vitória, mas também levanta questões a serem pensadas.
A decisão foi comemorada como um avanço na luta pela inclusão pelos movimentos autistas, já que é uma forma de oficializar as estatísticas, traçar um panorama da população autista brasileira e com isso ajudar na elaboração de políticas públicas. Por outro lado, também levanta questões, inclusive vistas na repercussão nas redes sociais com a hashtag #autismonocenso2020. Uma pergunta, por exemplo, vista nos comentários do Instagram é: “Sensacional, mas fica uma pergunta, o que farão com esses dados?”. À primeira vista, parece uma questão já respondida no parágrafo acima, porém serve de gatilho para reflexão mais aprofundada. A abordagem poderá gerar constrangimento? Quais perguntas serão feitas (já que o diagnóstico do TEA é um processo complexo)? Os dados poderão ser usados para estigmatizar as pessoas com o transtorno? Por que não há abordagem de todas as deficiências na pesquisa?
Movimentos têm a expectativa de que a estimativa sobre o número de pessoas com TEA sirva para fomentar a criação de políticas públicas que garantam oportunidades - terapêuticas, sobretudo - a mais pessoas. Nem por isso, porém, deixarão de ficar atentos sobre a forma de conduzir a pesquisa e sobre a utilização de seus dados.