Pesquisa identifica 137 canais com conteúdo contra mulheres no YouTube no Brasil
Entre os 105 mil vídeos publicados por esses canais, somam-se mais de 3,9 bilhões de visualizações
O Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais divulgou nesta sexta-feira, 13, a pesquisa "Aprenda a evitar 'este tipo' de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube", que identificou a existência de 137 canais no YouTube no Brasil que compartilham conteúdos com características misóginas.
O estudo, resultado de uma colaboração entre o NetLab/UFRJ e o Ministério das Mulheres, revelou dados alarmantes. Entre os 105 mil vídeos publicados por esses canais, somam-se mais de 3,9 bilhões de visualizações. Em média, cada canal possui cerca de 152 mil inscritos.
Os pesquisadores examinaram um universo ainda maior de dados: ao todo, foram analisados 76 mil vídeos pertencentes a 7.812 canais, que acumulam mais de 4,1 bilhões de visualizações, o que gerou 23 milhões de comentários.
Crescimento da “machosfera”
O estudo evidencia o crescimento expressivo da chamada “machosfera”, especialmente a partir de 2022. Esse espaço virtual é marcado por conteúdos que promovem teorias conspiratórias que atacam a igualdade de gênero e incentivam comportamentos prejudiciais às mulheres.
Entre os principais temas abordados nos vídeos analisados está a disseminação da ideia de que há uma suposta “conspiração social” em favor da dominação feminina. Os influenciadores desses canais frequentemente retratam as mulheres como manipuladoras e oportunistas, instigando seus seguidores a resistirem e se oporem a elas.
Misoginia explícita
Pelo menos esses 137 canais apresentam evidências claras de conteúdo misógino. Muitos vídeos expressam desprezo, ódio e controle direcionados a grupos como “as feministas”, “mães solteiras” e “mulheres mais velhas”.
Desses canais, 89 se destacam por atacar diretamente o feminismo, questionando direitos como pensão alimentícia e medidas protetivas garantidas pela Lei Maria da Penha.
Além disso, conteúdos que reforçam a ideia de que mulheres devem se submeter aos homens, seja no ambiente familiar ou nos relacionamentos, foram amplamente identificados. Esses discursos apresentam qualquer desvio desse papel tradicional como uma ameaça ao bem-estar social e à figura masculina.