Piquet pede desculpas a Hamilton após chamá-lo de 'neguinho', mas alega tradução incorreta
Ex-piloto de F-1 se pronunciou nesta quarta-feira por meio de nota oficial depois de vídeo com fala racista viralizar nas redes sociais
O ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet divulgou uma nota oficial nesta quarta-feira, dia 29, com um pedido de desculpas a Lewis Hamilton por tê-lo chamado de "neguinho" durante entrevista concedida em novembro do ano passado, para comentar sobre uma manobbra do piloto da Mercedes. O tricampeão de 69 anos, porém, citou um equívoco na tradução do termo, alegando que a palavra é usada coloquialmente no Brasil, minimizando o caso e suas declarações de cunho racista.
Nelson Piquet foi flagrado usando o termo para se referir a Lewis, em vídeo de 2021 que circulava nas redes e ganhou repercussão neste fim de semana. Nas imagens, é possível ouvir o ex-piloto brasileiro chamando o heptacampeão de "neguinho" ao comentar um acidente envolvendo o inglês e Max Verstappen durante o Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, na Inglaterra. "O neguinho meteu o carro e não deixou (Verstappen desviar). O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro se f*deu. Fez uma p*ta sacanagem", criticou Piquet, em entrevista ao jornalista Ricardo Oliveira na época.
Confira a nota oficial de Nelson Piquet
Gostaria de esclarecer as histórias que circulam na mídia sobre um comentário que fiz em uma entrevista no ano passado. O que eu disse foi mal pensado, e não defendo isso, mas vou esclarecer que o termo usado é aquele que tem sido amplamente e historicamente usado coloquialmente no português brasileiro como sinônimo de 'cara' ou 'pessoa' e foi nunca teve a intenção de ofender.
Eu nunca usaria a palavra da qual fui acusado em algumas traduções. Condeno veementemente qualquer sugestão de que a palavra tenha sido usada por mim com o objetivo de menosprezar um piloto por causa de sua cor de pele.
Peço desculpas de todo o coração a todos que foram afetados, incluindo Lewis, que é um piloto incrível, mas a tradução em algumas mídias que agora circulam nas redes sociais não está correta. A discriminação não tem lugar na F-1 ou na sociedade e estou feliz em esclarecer meus pensamentos a esse respeito.
POLÊMICA
Na ocasião, Piquet ainda comparou a batida entre os pilotos da Mercedes e da Red Bull com a polêmica colisão de Ayrton Senna e o francês Alain Prost, principal rivalidade da Fórmula 1 no passado. O caso de Senna ocorreu na largada do GP do Japão, em 1990, que garantiu o título daquele ano ao brasileiro. "O Senna não fez isso. O Senna saiu reto", comparou.
Desde o começo da semana, o comentário do brasileiro foi duramente criticado por internautas, relembrando o seu histórico de frases polêmicas. "Surpreendendo um total de zero pessoas", escreveu uma usuária do Twitter. "Imagina o que ele não deve falar em off", escreveu outra. A filha do tricampeão de 69 anos, Kelly Piquet, é namorada de Max Verstappen. O holandês visitou o ex-piloto em Brasília antes do GP de São Paulo, em novembro de 2021, que terminou com Hamilton no lugar mais alto do pódio. Porém, foi Verstappen quem terminou com o título ao fim da temporada.
HAMILTON
Lewis Hamilton se pronunciou somente nesta terça-feira, dia 28, sobre o assunto. E condenou o tricampeão brasileiro. Escrevendo em português, o heptacampeão de Fórmula 1 pediu foco em "mudar a mentalidade" das pessoas sobre o racismo, clamando em seguida pelo fim de atitudes e comentários desse tipo no automobilismo mundial. Lewis tem sido um ativista pelos direitos humanos, contra o racismo e qualquer tipo de preconceito às minorias. Ele sempre declarou seu 'amor' ao Brasil e ao piloto Ayrton Senna.
"Vamos focar em mudar a mentalidade", escreveu. "É mais do que linguagem. Essas mentalidades arcaicas precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Eu fui cercado por essas atitudes e fui alvo delas a minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação." Ele não descartou um processo contra Piquet.
FIA E MERCEDES
Mercedes, Fórmula 1 e Federação Internacional do Automóvel (FIA) emitiram comunicados condenando Nelson Piquet e enaltecendo o posicionamento de Lewis Hamilton na luta pela diversidade. "Linguagem discriminatória ou racista é inaceitável de qualquer forma e não deve fazer parte da sociedade. Lewis é um embaixador incrível do nosso esporte e merece respeito", diz o comunicado da F-1. "Seus esforços incansáveis para aumentar a diversidade e a inclusão são uma lição para muitos e algo com o que estamos comprometidos na F1."
A FIA foi na mesma linha e se posicionou de maneira contundente sobre o episódio. "A FIA condena veementemente qualquer linguagem e comportamento racista ou discriminatório, que não tem lugar no esporte ou na sociedade em geral. Expressamos nossa solidariedade a Lewis Hamilton e apoiamos totalmente seu compromisso com a igualdade, diversidade e inclusão no esporte a motor." Vale lembrar que Piquet sempre foi um dos principais personagens da F-1. Nas corridas, sobretudo no GP de São Paulo, ele é figura requisitada e reverênciada pelos novos pilotos. Ele se aproximou de Verstappen depois que o corredor holandês da Red Bull começou a namorar sua filha.
A Mercedes, atual equipe do sete vezes campeão de F-1, também saiu em defesa de Lewis. "Condenamos nos termos mais fortes qualquer uso de linguagem racista ou discriminatória de qualquer tipo. Lewis liderou os esforços do nosso esporte para combater o racismo e ele é um verdadeiro campeão da diversidade dentro e fora das pistas. Juntos, compartilhamos a visão de um automobilismo diversificado e inclusivo, e este episódio destaca a importância fundamental de continuar lutando por um futuro melhor."
Hamilton ainda não voltou a se manifestar após o pedido de desculpas de Piquet. O piloto se prepara para correr neste fim de semana em sua casa, a Inglaterra. Existe a possibilidade de a Mercedes andar na frente em Silverstone.