Polícia do Amazonas abre inquérito criminal sobre desaparecimento de jornalista britânico
Ministério Público Federa afirma que já acionou autoridades e que a Marinha conduzirá operação de buscas
A Polícia Civil do Amazonas abriu um inquérito criminal e ouviu pelo menos quatro testemunhas que se acredita estarem entre as últimas pessoas a terem visto um jornalista britânico e um indigenista brasileiro desaparecidos em uma parte remota da floresta amazônica no domingo.
Guilherme Torres, chefe do Departamento de Polícia do Interior da Polícia Civil do Amazonas, disse à Reuters nesta segunda-feira que a polícia abriu um inquérito para apurar se houve algum crime e ouviu quatro testemunhas, enquanto faz buscas pelo jornalista freelance Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira.
Torres disse que Pereira recebeu recentemente uma carta ameaçadora de um pescador local, que a polícia estava tentando localizar.
Ele disse que policiais ouviram dois pescadores como testemunhas na segunda-feira, e mais dois foram interrogados nesta terça-feira. As duas primeiras testemunhas não forneceram nenhuma informação útil, e Torres ainda não tinha detalhes sobre as falas das outras duas.
"A gente trabalha com a possibilidade de poder ter acontecido um crime sim, mas há uma outra possibilidade, muito maior, de eles estarem perdidos", disse Torres. "Agora, nossa prioridade é encontrá-los vivos, principalmente nestas primeiras horas. Paralelamente, foi aberto um inquérito criminal para apurar se houve algum crime cometido."
A Marinha e o Exército enviaram equipes de busca em barcos e helicópteros para a área, com apoio da Polícia Federal e da polícia do Amazonas.
Pereira e Phillips, que escreve para o jornal britânico The Guardian e para o norte-americano The Washington Post, desapareceram na madrugada de domingo durante uma viagem de reportagem no Vale do Javari.
A vasta região, que faz fronteira com o Peru e abriga o maior número de indígenas isolados do mundo, é ameaçada por garimpeiros ilegais, madeireiros, caçadores e quadrilhas de plantadores de coca, que fabricam a matéria-prima da cocaína.
Torres disse que não pode descartar que o desaparecimento esteja ligado às quadrilhas que operam na região sem lei.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que noticiou pela primeira vez o desaparecimento, disse que sua própria equipe recebeu ameaças nos últimos dias.
O desaparecimento dos dois homens, ambos com anos de experiência trabalhando na região, despertou preocupação global de grupos de direitos humanos, ambientalistas, políticos e defensores da liberdade de imprensa.
Em uma entrevista emocionante na TV, a esposa de Phillips, Alessandra Sampaio, pediu às autoridades que intensifiquem seus esforços de busca, "porque ainda temos um pouquinho de esperança de encontrar eles".
"Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor, intensifiquem essas buscas", acrescentou.
A família de Pereira emitiu um comunicado pedindo uma robusta operação de busca, acrescentando que "também estamos muito esperançosos de que tenha havido um acidente com o barco e que eles estejam esperando por ajuda".
O presidente Jair Bolsonaro, que já enfrentou duros questionamentos de Phillips em entrevistas coletivas sobre políticas que enfraqueceram a aplicação da lei ambiental no Brasil, disse em entrevista nesta terça-feira que os dois homens estavam em "uma aventura que não é recomendável que se faça".
"Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados, tudo pode acontecer", disse Bolsonaro ao SBT News. "Espero, e a gente pede a Deus, que sejam encontrados brevemente."
Grupos indígenas, que se queixam de uma aplicação da lei ambiental mais fraca desde que Bolsonaro assumiu o cargo defendendo menos restrições a essas terras, entram em confronto regularmente com garimpeiros e caçadores ilegais na região.
Phillips estava pesquisando para um livro sobre a Amazônia e seus defensores ambientais. Pereira tem colaborado com a Univaja e outros grupos indígenas de forma independente desde que foi afastado de seu cargo na Funai durante o governo Bolsonaro.