Poucas marcas, preços altos e falta de diversidade: os desafios de comprar roupas de verão plus size
Influencers apontam os maiores obstáculos que pessoas gordas enfrentam quando vão às compras
O movimento body positive, que prega a aceitação do corpo e celebra a autoestima, surgiu como tendência e, pouco a pouco, se converteu um estilo de vida. Basta chegar o verão, no entanto, para que as falhas no mercado de moda - que, em tese, deveria acompanhar as mudanças e necessidades da sociedade - venham à tona.
Afinal de contas, como valorizar os diferentes tipos de corpos se, na prática, nas araras das lojas as consumidoras plus size não encontram as roupas que desejam?
Para a jornalista e empreendedora Flávia Durante, idealizadora da feira Pop Plus, ainda há um contigente enorme de lojistas e varejistas que não produzem nem vendem plus size, assim como faltam profissionais e matéria-prima na área. "E ainda assim as opções disponíveis vão no máximo até o tamanho 54. Quem veste um manequim 60 ou maior que isso, por exemplo, dificilmente consegue encontrar algo no shopping, mesmo em redes que têm linhas para mulheres gordas", diz Flávia.
Com as quatro edições anuais da Pop Plus, Flávia busca impulsionar à sua maneira esse mercado. A feira, que acontece na capital paulista e é sempre um sucesso, conta com diversas marcas plus size que oferecem de acessórios a vestidos de festa.
A produção em menor escala comum às marcas pequenas, no entanto, se reflete em preços pouco acessíveis às consumidoras acima do XGG. Para ter uma ideia, um biquíni não sai por menos do que R$ 300 reais.
"Somos muitas"
Há outras questões primordiais que costumam causar reclamações entre as consumidores plus size. Uma delas é a ausência de diversidade entre as opções e a percepção de que toda mulher gorda é igual. "O mercado precisa entender que somos muitas. Existem estilos, personalidades e preferências diferentes", observa Layla Brigido, influencer de moda e beleza de Vila Velha (ES).
Além disso, nem todo corpo é igual, como bem aponta a empresária Renata Poskus, editora do blog Mulherão, que costuma sentir dificuldades para escolher o que usar na praia no verão. "A possibilidade de comprar peças avulsas e montar o próprio biquíni é mais interessante para mulheres, que como eu, não têm um corpo com medidas proporcionais. Faltam biquínis mais ousados, com recortes diferenciados, mas que mantenham o conforto e a segurança. Investir em tecidos tecnológicos é essencial. Gorda também quer um biquíni com tecido que contenha algum tipo de proteção solar", relata.
Um erro recorrente das marcas plus size é só se preocupar com a largura do biquíni, mas se esquecer que, por exemplo, no caso das partes de cima, é necessário investir em alças largas, que sustentem os seios de verdade e que não enrolem. Outra necessidade é achar peças com bojos que sejam exatamente do tamanho do seio.
Há também quem prefira biquínis e maiôs sem bojo, lembra Renata, mas que sustentem o busto e permitam nadar, correr e caminhar com segurança. "Mas sem cara de vovó", avisa ela, que reforça que estampas acompanhando as tendências são fundamentais. "Hoje, a consumidora gorda está exigente, sabe que merece o mesmo tratamento de uma cliente magra e quer estar na moda", salienta.
Inclusão real
Para Jéssica Lopes, modelo plus size e apresentadora, ainda há um longo caminho para a moda plus size no Brasil se tornar de fato inclusiva. "Moda inclusiva de verdade precisa atender todos os corpos diversos e ter variedade de preços. Caso contrário, o que ocorre é a exclusão de uma parcela gigantesca da população", diz ela.
Ainda segundo Jéssica, a inclusão verdadeira começa nos bastidores. "Ter pessoas com corpos gordos nas equipes de criação das peças é essencial. Uma pessoa magra não vai entender que uma determimanda alcinha é incapaz de sustentar o peito", explica.
Flávia reforça que, além das peças de vestuário para praia e piscina, há todo um universo de produtos que devem ser repensados para o público plus size que ainda não foi desbravado: toalhas e cangas em tamanhos maiores, óculos de sol, bolsas, sandálias, chinelos... "As pessoas precisam se sentir inseridas na sociedade e não serem tratadas como doentes. A economia está se reinventando, mas ainda precisa de passos mais largos. Fazemos um trabalho de educar as marcas para que passem a olhar este público e estamos conseguindo", conta.
"Há, no Brasil, apenas uma marca de cadeiras de praia para gordos. Há inúmeros modelos, inclusive para quem quer deitar completamente para tomar sol. São bonitas, estilosas, mas custam o dobro do preço das convencionais, já que não há concorrência. Faltam, então, novas opções de fabricantes de cadeiras de praia", exemplifica Renata.
Para Layla, a falta de empenho e o preconceito velado do mercado seguem sendo os grandes empecilhos para tornar a moda plus size realmente acessível e inclusiva. "Quando pensamos em marcas enormes que simplesmente poderiam fazer tanto e simplesmente tomam a decisão de excluir a mulher gorda é desanimador, né? Poderíamos estar muito mais à frente, mas vivemos numa sociedade gordofóbica que não nos atende nem em questões básicas e primordiais como acesso, infelizmente", ressalta.