"Precisamos de apoio da sociedade civil", diz líder Yanomami
Junior Hekurari Yanomami se diz revoltado com ação de garimpeiros em terras indígenas e clama por apoio para combater a violência
"A terra indígena Yanomami está com problemas humanitário sérios. Saúde em colapso, a terra tomada por garimpeiros e nós sofrendo. Somos seres humanos, temos vida e, mesmo assim, estamos sendo mal tratados, pisoteados” desabafa Junior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana.
Infecção por malária, tuberculose, corpos contaminados por mercúrio, invasão de território, garimpo, desmatamento e desnutrição crônica entre as crianças são violências comuns em comunidades indígenas Yanomami. Em maio de 2021, os Yanomamis atraíram a mídia tradicional após viralizar um vídeo de garimpeiros armados atacando a comunidade de Palimiú, nas margens do rio Uraricoera, em Roraima.
Quase um ano depois, estão de volta ao cenário jornalístico após a divulgação feita por Junior Hekurari Yanomami, sobre a denúncia de estupro e assassinato de uma menina indígena de 12 anos, por garimpeiros, na comunidade Aracaçá, no dia 25 de abril de 2022.
A denúncia também indicou que houve violações sexuais contra uma mulher e o afogamento de sua filha. A Polícia Federal, no entanto, afirmou durante coletiva na última sexta-feira (6) que a denúncia foi um mal entendido. O que para Junior Hekurari é comum, pois "é muito difícil que apurem esses crimes, que acontecem aos montes em diferentes regiões e não são bem investigados. O acesso é difícil para as investigações e a polícia não tem apoio do governo. Os garimpeiros sabem dessa dificuldade e por isso andam livremente, cometendo crimes”, afirma.
Ele conta estar revoltado. ”Sentimos medo. Os garimpeiros seguem aqui, trabalhando normalmente. Muitos de nós estão doentes e as comunidades não têm assistência à saúde. Nosso povo está pagando muito caro diante dos olhos do governo”, desabafa Junior, que dedica-se à luta por direitos do povo Yanomami e à proteção das florestas.
“A floresta nos traz recursos. Nos alimentamos através das plantas. Plantamos e colhemos para nos alimentar. A natureza nos traz a água, que dependemos para sobreviver” contextualiza Junior, clamando apoio da sociedade civil no combate contra violências sofridas por seu povo. "Lutamos para viver em paz. Nossa terra está demarcada, homologada desde 1992. Precisamos de apoio. Nós não falamos bem o português. Não sabemos escrever. Não conhecemos os direitos fundamentais da Constituição Federal. Então, contamos com a sociedade para pressionar o governo a nos proteger, nós Yanomamis. Estamos na floresta e não estamos atrás de benefícios de governo, apenas de segurança para vivermos em paz em nossas comunidades”, avisa.