"Precisamos parar com o discurso de se amar mais e exigir políticas públicas", diz ativista plus size
No Dia da Luta Contra a Gordofobia, Flávia Durante fala sobre importância da moda como questão de dignidade
Quando o assunto é luta contra a gordofobia, não tem como não lembrar de Flávia Durante. Aos 46 anos, a paulistana é responsável pela maior feira plus size do mundo, a PopPlus, que é também uma plataforma online de moda e cultura.
O evento, que acontece em um espaço na Avenida Paulista, em São Paulo, conta hoje com cerca de 60 expositores, mas antes da pandemia chegou a ter mais de 100. Para Flávia, o processo é reflexo de uma nova forma de consumo.
"Estimo que cerca de 50 marcas tenham fechado nos últimos quatro anos. Além da pandemia, as pessoas também perderam o medo de comprar pela internet e viram que agora existem opções. Então, não precisam comprar desesperadamente de uma única loja por medo de ficarem sem roupa", reflete.
Por que moda?
Flávia conta que, no seu caso, o corpo gordo chegou na vida adulta e com ele os desafios de se expressar. "Não fui uma criança e adolescente gorda, então não sofri bullying por isso na escola. Ganhei peso lá pelos 20 anos e não conseguia mais comprar as roupas que eu queria", revela ela lembrando um interesse especial por peças alternativas como camisa de bandas e calças rasgadas ou então biquínis para usar em Santos, onde foi criada.
Formada em jornalismo, área que atuou por mais de 20 anos, e trabalhando também como DJ, resolveu então, há 11 anos, fazer a feira que se tornou referência no país.
"Sempre que eu entrava em lojas, era maltratada. Se não na fala, pelo olhar, porque quando você engorda querem esconder seu corpo. E, quando eu decidi trabalhar com isso, vi que encontrar uma roupa bacana para tocar numa balada era só uma pequena parte do problema. Entendi que mulheres não tinham o básico, em especial mulheres com tamanhos maiores que o meu. A moda, no caso delas, era a negação do básico que é ter o que vestir para sair para trabalhar", dispara.
"Assim eu fui aprendendo que moda não é só diversão e expressão, é também dignidade e para mim se tornou uma luta política", complementa.
Movimento
Flávia explica ainda que existem diversas vertentes dentro do movimento plus size. "Algumas, por exemplo, brigam para que seja reconhecido que existem corpos de vários tipos e o corpo gordo é um deles, ou seja, é um corpo e não uma doença".
Há também quem tenha uma visão mais midiática do debate, o que incomoda um pouco a empresária. "Precisamos parar com o discurso de se amar mais e exigir políticas públicas", afirma se referindo a perfis de influenciadores digitais plus size que usam um discurso de afeto e aceitação e deixa de lado debates políticos importantes.
Somado a esses influenciadores, Flávia cita a representatividade vazia. "Muitas marcas tinham pessoas plus size e diversas nas passarelas, mas aí você chegava na loja ou entrava no site e não tinha nada em tamanho maior", relata.
Um dos motivos que contribuem para esse cenário, segundo Flávia, é a falta de interesse e de formação de profissionais do setores, o que a leva a tentar, sempre que pode, ir até as faculdades de moda para palestrar.
"Temos uma falta de mão de obra qualificada. Cansei de ser banca de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e aluno relatar que não tinha manequim, nem mesa de corte ou cabide para peça plus size. Em especial em faculdade elitizadas os alunos são desmotivados, professores dizem que o corpo gordo não pertence a moda", conta.
E a resposta de Flávia para mostrar que o corpo gordo merece estar nos mesmo espaços que o corpo magro e despertar mais interesse nesse mercado é introduzir um olhar amplo para a moda plus size. "Na edição de 09 e 10 de dezembro, vamos celebrar os mais de 10 anos de PopPlus com muita música, conversas, acolhimento, moda e acessórios", finaliza.
Erramos: Essa matéria foi editada as 15h23 do dia 10 de setembro. A idade de Flávia é 46 anos e não 49 conforme constava no conteúdo originalmente publicado