Premiê da Austrália assume parte da culpa por fracasso de referendo indígena
Mais de 60% dos australianos votaram "Não" no referendo histórico sobre a alteração da Constituição para reconhecer os indígenas do país
O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, disse nesta segunda-feira que assume sua parcela de culpa pelo fracasso de um referendo sobre o reconhecimento da comunidade indígena do país.
Mais de 60% dos australianos votaram "Não" no referendo histórico de sábado, que perguntava se a Constituição deveria ser alterada para reconhecer os povos indígenas do país e criar um órgão consultivo que aconselharia o Parlamento sobre questões relativas à comunidade.
Albanese apostou um capital político significativo em um voto "Sim", apesar da rejeição do oposicionista Partido Liberal.
Apenas oito de 45 referendos realizados na história da Austrália como país foram bem-sucedidos, nenhum deles sem apoio bipartidário.
O premiê enfrentou o líder liberal Peter Dutton durante o período de perguntas parlamentares nesta segunda-feira, pela primeira vez desde o fracasso do referendo.
"Sabemos que os referendos são difíceis, por isso apenas oito dos 45 foram aprovados", disse Albanese. "Eu certamente aceito a responsabilidade pelas decisões que tomei."
Dutton, que havia apoiado um segundo referendo apenas sobre o reconhecimento dos povos indígenas na Constituição, pareceu recuar na promessa nesta segunda-feira, dizendo que não haveria apetite para uma segunda votação "por algum tempo".
Albanese ainda está à frente de Dutton como o líder preferido do país, e o seu Partido Trabalhista, que está no poder, está liderando as pesquisas em um nível acima do que conquistou o poder na eleição de maio de 2022, recuperando terreno na véspera do referendo.
Os analistas políticos têm dito que a impopularidade do referendo ainda não mostrou um impacto adverso significativo para os trabalhistas nas pesquisas.
O resultado do referendo é visto como um grande revés para os esforços de reconciliação com a comunidade indígena do país e corre o risco de prejudicar a imagem da Austrália no mundo com relação à forma como trata as pessoas dessa comunidade.
O principal jornal de negócios do país, o Australian Financial Review, chamou o resultado de "desolador" para a comunidade indígena, que representa cerca de 3,8% da população e tem sofrido séculos de negligência e discriminação desde a colonização pelo Reino Unido em 1788.