Prêmio Educar homenageia iniciativas antirracistas em escolas durante a pandemia
Os projetos vencedores abordaram garantia da concretização do direito ao pleno desenvolvimento escolar de crianças, adolescentes e jovens negros, brancos, indígenas, quilombolas e de outros grupos étnico-raciais
Com 20 anos de trajetória e em sua 8ª edição, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) homenageou 16 professoras com o "Prêmio Educar com Equidade Racial e de Gênero: experiências de gestão e práticas pedagógicas antirracistas em ambiente escolar".
Em 2022, a premiação foi especial, pois teve como finalidade identificar, apoiar e disseminar boas práticas pedagógicas e de gestão escolar antirracistas em todo o Brasil. O prêmio reitera a garantia da concretização do direito ao pleno desenvolvimento escolar de crianças, adolescentes e jovens negros, brancos, indígenas, quilombolas e de outros grupos étnico-raciais.
Para Cida Bento, co-fundadora do CEERT, é de grande emoção poder dar um prêmio para professores em uma fase tão complicada relacionada à educação.
"Tem sido um desafio muito grande, mas é muito emocionante ver professores trazendo práticas interessantes desenvolvidas no período da pandemia muito qualificadas, de um trabalho que envolve toda a comunidade, que envolve a arte para auxiliar as crianças e adolescentes, que precisam avançar no tema da equidade racial. Então a gente está mesmo muito emocionado", comenta.
Premiados
Professora Doutora Bárbara Carine Soares Pinheiro, da Escola Maria Felipa \ Imagem: Paulo Benedito dos Santos
Com um total de três finalistas da Bahia, se destaca o projeto "O que há de Améfrica em nós?", da Escola Maria Felipa, iniciativa premiada na categoria "Escola". A autora, a professora Bárbara Carine Soares Pinheiro, também docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica que o projeto vencedor representa a primeira escola afrobrasileira do país registrada em uma secretaria de Educação.
"A gente sentiu em Salvador esse chamado ancestral de fundarmos a primeira escola afrobrasileira do país e isso não nos coloca em uma posição de pioneirismo porque nosso lema inclusive é 'nossos passos vêm de longe', uma frase da Jurema Werneck", relata. "A gente compreende que na realidade a [Escola] Maria Felipa é hoje a culminância do sonho das nossas ancestrais", completa.
O CEERT também premiou docentes e instituições de estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Maranhão e Pará. O Espírito Santo emplacou dois projetos de cidades distintas nesta edição do Prêmio Educar. O primeiro é de Vargem Alta, a 136 quilômetros da capital Vitória, intitulado "No Chão da Escola Quilombo: o (re)significar do projeto político pedagógico da Escola Municipal de Educação Básica Pedra Branca - Vargem Alta".
Já o segundo projeto "Malizeck da Diversidade" vem da Escola UMEF Professor Luiz Malizeck, da cidade de Vila Velha. A professora premiada na categoria "Educação das Infâncias", Aline de Alcântara Valentini, comenta que foi um longo processo até chegar nesse momento tão importante da premiação.
"Tudo começa no chão de aldeia, na luta indígena, na luta pelo reconhecimento e valorização dos povos originários. Então, eu dedico esse prêmio ao meu povo, ao povo guarani, graças a ele eu estou aqui", salienta.
Daniel Teixeira, diretor executivo do CEERT, e Aline de Alcântara Valentini da UMEF Professor Luiz Malizeck \ Imagem: Paulo Benedito dos Santos
"Não tem democracia com racismo"
O diretor executivo do CEERT, Daniel Teixeira, pontua à Alma Preta Jornalismo que esse momento de Diálogos para uma Educação Antirracista tem um significado maior após dois anos de afastamento social necessário por conta da pandemia de Covid-19. Para ele, o período, no entanto, significou mais: a impotência de observar as faces das desigualdades e do racismo de maneira distante enquanto o assunto em pauta era educação.
Daniel enfatiza que é importante compreender de qual educação se está falando quando a pauta está em debate. No caso da população negra em geral, essa educação parte do pressuposto do antirracismo.
"Assim como não tem democracia com racismo, não é possível a gente ter uma educação de qualidade sem equidade, ela é fundamento, não recorte. Isso é estratégico para o movimento negro, mas para a sociedade brasileira é fundamental", explica ao falar da importância do prêmio.
"Então, pensar que educação a gente quer construir que é a partir do antirracismo, e aí, sim, a gente pode ter um caminho no país que seja para todas as pessoas, ressignificando no presente e apontando para o que a gente quer como educação a partir de agora", finaliza Daniel.
Veja a lista completa de projetos premiados:
CATEGORIA PROFESSOR - EDUCAÇÃO ESCOLA QUILOMBOLA
Janete Vilela de Paschoa
Título: O Chão da Escola Quilombola: O (Re) Significar do Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal de Educação Básica "Pedra Branca" - Vargem Alta (ES)
Lugar: Secretaria Municipal de Educação SEME/EOMEB "Pedra Branca"- Espírito Santo Omo Ayo Otunja
Título: Akotirene Kilombo Ciência
Lugar: Comkola Kilombola Epe Layie - Comunidade Kilombola Morada da Paz - Rio Grande do Sul Rosiete Lessa dos Reis Costa
Título: Educação Antirracista Afrobetizando Alunos para a Construção de Cultura e Identidade
Lugar: EM São Judas Tadeu - Pará
CATEGORIA PROFESSOR - EDUCAÇÃO DAS INFÂNCIAS
Aline de Alcantara ValentiniTítulo: Malizeck da Diversidade
Lugar: UMEF Prof. Luiz Malizeck - Espírito Santo Danielle Aparecida Barbosa Cardoso
Título: A Literatura Escrita por Mulheres Negras: uma experiência de leitura na alfabetização
Lugar: Escola Municipal Florestan Fernandes - Minas Gerais Fernanda Silva dos Santos
Título: Mulheres negras, símbolo de luta e resistência, uma fonte de inspiração
Lugar: São Paulo Juliana Borges
Título: Projeto Griôs: Contos e Dengos por uma Formação Identitária e Ancestral Positiva
Lugar: Escola Municipal de Educação Infantil itamarati - Minas Gerais
CATEGORIA PROFESSOR - EDUCAÇÃO DAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES
Aline Neves Rodrigues AlvesTítulo: Projeto Intercâmbio Raízes Angola Brasil
Lugar: da Escola Municipal Lídia Angélica (Brasil) e do Instituto Politécnico Edik Ramon (Angola) - Minas Gerais Jacenilde Cristina Braga Soares
Título: Intercâmbio e Cultura: Uma Análise Entre os Quilombos Damásio e Liberdade - MA
Lugar: IEMA Plena Itaqui Bacanga - Maranhão
CATEGORIA ESCOLA - EDUCAÇÃO DAS INFÂNCIAS
Bárbara Carine Soares PinheiroTítulo: O que há de Améfrica em nós?
Lugar: Escola Maria Felipa - Bahia Conceição Aparecida Pinheiro Cardoso
Título: Promoção da Igualdade Racial
Lugar: EM Anne Frank - Minas Gerais Francineia Alves da Silva
Título: Projeto e Festival da Valorização da Cultura Afro-brasileira e Indígena: Equidade nas Diferenças
Lugar: CEI 01 de São Sebastião - Distrito Federal
CATEGORIA ESCOLA - EDUCAÇÃO DAS ADOLESCÊNCIAS E JUVENTUDES
Adriana de PaulaTítulo: Resgatando Identidades: O Dia da Consciência Negra e o Papel do Negro na Construção do Brasil
Lugar: EE Professora Joana de Aguirre Marins Peixoto - São Paulo Ilca Guimarães da Silva
Título: Núcleo de Empoderamento Linguagem e Tecnologia
Lugar: Colegio Estadual General Dionísio Cerqueira - Bahia Janaina Silva Mendes
Título: Agenda Antirracista
Lugar: EE Professora Yolanda Conte - São Paulo Lorena Barbara Santos Costa
Título: Caminhos Afirmativos para uma Educação Antirracista na Educação de Jovens e Adultos
Lugar: Escola Municipal Jacira Fernandes Mendes - Bahia
'Seleção de filmes e livros para pensar uma educação antirracista'