Professor é preso por sequestro que ocorreu enquanto ele estaria dando aula em SP
Clayton Ferreira Gomes Santos é professor de Educação Física pela rede estadual de ensino; sua esposa denuncia racismo em prisão
Um professor de 40 anos foi preso preventivamente, suspeito de ter sequestrado uma idosa em Iguapé, cerca de 200 km de São Paulo. A defesa alega que ele estava dando aula de Educação Física na capital no dia e horário do crime e, mesmo assim, o Tribunal de Justiça de São Paulo considerou válida a prisão temporária.
O professor Clayton Ferreira Gomes Santos, de 40 anos, foi preso preventivamente na terça-feira, 16, suspeito de ter sequestrado uma idosa no dia 31 de outubro do ano passado, na cidade de Iguapé, a 200 km de São Paulo. A questão é que, segundo o professor e testemunhas, ele estaria dando aula de Educação Física no dia e horário do crime, em uma escola estadual na capital paulista.
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"É por que ele é negro? O negro tem que provar pra depois [ser inocentado]. Porque o branco que tem dinheiro paga e é liberado na hora", questiona indignada Cláudia Santos, esposa de Clayton.
Ao Terra, ela detalha como a prisão ocorreu. Segundo Cláudia, na segunda-feira, 15, eles receberam uma notificação pedindo para que o professor se apresentasse na delegacia. "Ele falou: 'Amor, eu não devo nada, eu vou lá ver'", relembra. Clayton chegou a pensar que a intimação se tratava de um boletim de ocorrência feito por ele, há meses, sobre um celular seu que havia sido furtado.
Chegando no 26º Distrito Policial (Sacomã), Clayton recebeu a informação de que estava preso. Ele teria sido reconhecido por meio de uma foto pela idosa, de 73 anos, que denunciou o sequestro.
Cláudia ressalta que não sabe como os agentes chegaram até uma foto do marido para usar no reconhecimento. "Que foto é essa? Onde mostraram uma foto se ele não tem passagem? Graças a Deus, é limpo no Poder Judiciário. É um professor de Educação Física do Estado", ressalta.
Ainda de acordo com a esposa do professor, a foto usada era antiga, e Clayton não está mais com a mesma fisionomia. Antes, ele estava careca e, há cerca de um ano, deixou crescer o cabelo black power.
Em uma declaração de horário de trabalho, a direção da Escola Estadual Rubens do Amaral atesta a frequência do professor Clayton Santos nos meses de outubro e novembro de 2023.
O que deve ocorrer agora?
Nesta quarta-feira, 17, o Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a negar o habeas corpus pedido pela defesa do professor. Segundo a decisão ao qual o Terra teve acesso, a prisão temporária está "devidamente fundamentada" com "provas de materialidade".
Porém, no início da noite desta quarta, a esposa de Clayton foi informada pelo advogado que eles conseguiram uma reversão e o professor deve ser solto entre hoje e quinta-feira, 18.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que o caso é investigado pela Delegacia de Iguape e que identificou, após trabalho de polícia judiciária, o homem citado como suspeito. Na ocasião do roubo, um criminoso teria extraído R$ 11 mil da idosa.
"A vítima reconheceu o suspeito e uma mulher como autores do crime. A autoridade policial da delegacia de Iguapé reuniu o conjunto probatório e representou ao Judiciário pela prisão temporária dos investigados", continua a nota. Não há informações sobre quem seria essa mulher.
Ainda de acordo com a SSP, o Ministério Público manifestou parecer favorável ao pedido de prisão. "O homem foi preso na manhã da terça-feira (16) após mandado policial, na zona sul da Capital e permaneceu à disposição da Justiça. Qualquer denúncia de irregularidade pode ser notificada à Corregedoria da Polícia Civil", complementa.
O Terra também procurou o Ministério Público de São Paulo para entender quais foram os critérios para o parecer favorável à prisão e aguarda retorno.