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Professora cria loja virtual de bonecas negras

Jozi Belisiario começou negócio após não conseguir encontrar diversidade em brinquedos no comércio de São Paulo

29 jul 2022 - 05h11
(atualizado às 07h44)
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Jozi vende entre 50 e 100 bonecas por mês na loja virtual Aneesa
Jozi vende entre 50 e 100 bonecas por mês na loja virtual Aneesa
Foto: Alex Silva / Estadão

A casa da professora Jozi Belisiario, de 34 anos, em Brasilândia, periferia de São Paulo, tornou-se um depósito de sonhos infantis. É lá que fica o estoque da loja virtual Aneesa, especializada na venda de bonecas negras de variadas marcas. Desde que ela criou o site, há quase um ano, em agosto de 2021, são adquiridas mensalmente entre 50 e 100 unidades por clientes em busca de alternativa para presentear meninas e meninos negros com brinquedos representativos.

Jozi teve a ideia para o negócio em 2017, ao ler um anúncio da coleção de diversidade da marca Barbie. Ela percorreu por horas o centro da cidade em busca de um exemplar para presentear uma criança, sem sucesso. Frustrada, ela só encontrou uma boneca semelhante em um site de importação. Após meses de espera, o brinquedo chegou, deixando a professora encantada. Ela, então, resolveu ficar com a boneca e levá-la aos lugares aonde ia, despertando o interesse de outras mulheres pelo item.

"Em julho de 2018, fui à Marcha das Mulheres Negras, em São Paulo, e levei a boneca. Foi um auê! Todo mundo queria saber onde tinha e se eu vendia. Ali, eu já considerei abrir uma loja."

Mesmo sem um formato estruturado, Jozi começou a aceitar encomendas pequenas e, com o crescimento dos pedidos, decidiu comprar uma grande quantidade de bonecas para vendas de pronta entrega. Os pedidos chegavam por meio de um perfil criado no Instagram e de uma conta no WhatsApp, com entregas locais realizadas nas estações de metrô.

O negócio passou por programas de aceleração e recebeu aporte financeiro para expandir. Mas o divisor de águas veio em 2021, com a participação de Jozi no Shark Tank Brasil, reality show da Sony Channel. Além de receber R$ 50 mil de duas investidoras, a popularidade do vídeo de apresentação no programa - com cerca de 2 milhões de visualizações - atraiu mais clientes e profissionais parceiros dispostos a construir um site, que hoje é o principal ponto de vendas das bonecas.

Na loja, o cliente encontra desde bonecas com valores mais acessíveis, como a Luena, de R$ 38,90, até Barbies que custam mais de R$ 200. A campeã em vendas é a boneca Aneesa, que é importada e passa por uma transformação antes de entrar no catálogo: a boneca, que chega ao Brasil de cabelo liso, recebe tranças e roupas personalizadas, costuradas pela tia de Jozi e elaboradas por uma modelista.

A aposta mais recente da loja é a boneca Africaneesa, uma versão comemorativa e limitada em referência ao Dia Internacional da Mulher Negra, direcionada às mulheres adultas. "Há muitas mulheres que não tiveram bonecas na infância e elas querem presentear essa criança interna."

Missão cumprida

Um dos objetivos da loja é o de proporcionar às crianças negras uma representatividade positiva. Em um dos retornos que recebeu ao vender uma boneca médica a uma cliente de 6 anos, Jozi conta que ficou emocionada ao notar a concretização desse propósito. "Me segurei para não chorar quando ela disse que queria brincar como médica, mas sempre acabava sendo a paciente. Agora ela sabe que pode estar, sim, em qualquer lugar, inclusive onde ela não vê pessoas pretas."

Estadão
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