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“Meu maior desafio foi superar a dificuldade de ouvir a batida na bola, mas consegui treinando os outros sentidos, como visão rápida e reflexo aguçado”, diz Luciano  Foto: Reprodução/Instagram/lquati96

"Quanto mais riam de mim, mais trabalhava duro pelos meus objetivos”, diz goleiro profissional surdo

Em entrevista ao Terra NÓS, Luciano Quati falou sobre o início de carreira como um goleiro surdo e suas conquistas

Imagem: Reprodução/Instagram/lquati96
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27 jun 2024 - 05h00
(atualizado às 16h35)

“Acham que o surdo não é capaz”, afirma Luciano Quati, primeiro goleiro profissional surdo do mundo, segundo ele ressalta. Aos 28 anos, o jovem de Araraquara, interior de São Paulo, já viveu momentos incríveis no mundo do futebol, mas, antes de chegar até aqui, precisou enfrentar obstáculos em seu caminho.

“Tive meningite meningocócica com um ano e sete meses, meus pais me levaram ao pronto socorro durante três dias seguidos, onde os médicos alegaram que era apenas uma virose. Eu fiquei quatro meses sem andar por conta das sequelas e, no decorrer do tempo, meus pais descobriram que eu fiquei surdo”, revelou em entrevista ao Terra NÓS.

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Trajetória

Sua trajetória no futebol começou cedo. Aos cinco anos de idade, Luciano descobriu sua paixão pelo esporte depois de jogar em um terreno perto de casa. Dois anos depois, pediu ao pai que o matriculasse na escolinha de futebol do São Paulo.

“Descobri que poderia ser um goleiro profissional através do meu professor de Educação Física, que chamou meu pai e falou que eu era bom”, contou Luciano.

Além de ser vice-campeão Pan-Americano com a Seleção Brasileira para Surdos, Luciano Quati também já defendeu a equipe paralímpica do Corinthians
Além de ser vice-campeão Pan-Americano com a Seleção Brasileira para Surdos, Luciano Quati também já defendeu a equipe paralímpica do Corinthians
Foto: Reprodução/Instagram/lquati96

No caminho para o sucesso, Luciano Quati enfrentou muitos desafios. Ao mesmo tempo que procurava entender mais sobre si mesmo, seus limites e habilidades, precisou lidar com o preconceito da sociedade com pessoas surdas.

“Meu maior desafio foi superar a dificuldade de ouvir a batida na bola, mas consegui treinando os outros sentidos, como visão rápida e reflexo aguçado. Também enfrentei muitas situações junto aos ouvintes, mas enfrentei as situações na esportiva. Quanto mais riam de mim, mais eu trabalhava duro para conseguir meus objetivos”, acrescentou.

Sua capacidade, talento e apoio familiar, permitiram que Luciano fosse longe. Longe o bastante para fazer parte da Seleção Brasileira de Futebol para Surdos. “É sempre sonhar, lutar e dizer para mim e para os outros que ‘o surdo pode’. Cada dificuldade é como uma fase de video game, temos que superá-la”, disse.

Conquistas no futebol

Fazer parte da seleção, da qual é membro há 12 anos, era uma de suas metas, já realizada e que inspira muitos outros jovens com surdez.

Representar o Brasil sempre foi o meu sonho. São mais de 10 milhões de brasileiros com surdez e eu consegui ser o primeiro goleiro surdo profissional não só do Brasil, mas do mundo.

Essa conquista chegou com grandes momentos, eram tantos que ficou difícil para Luciano Quati escolher apenas um. “Vestir a camisa da seleção no Pan-Americano pela primeira vez com 16 anos de idade, defender um pênalti em Brasília, classificar o Brasil para a Surdolimpíada da Turquia, o terceiro maior evento esportivo do planeta, e também participar foi muito bom”, expressou.

Além de ser vice-campeão Pan-Americano com a Seleção Brasileira para Surdos, Luciano Quati também já defendeu a equipe paralímpica do Corinthians. Isso só foi possível graças ao seu esforço, que o ajudou a trilhar uma carreira no futebol profissional.

“Abracei a oportunidade e sabia que qualquer erro meu seria colocada a culpa na surdez. Por esse motivo, trabalhei duro e sempre entrei em campo com total responsabilidade. Assim também faço no meu trabalho na Mercedes Benz do Brasil, onde estou há 6 anos e nunca faltei ao serviço. Eu trabalho assim, com honestidade, caráter e dedicação”, contou.

Para Luciano, o futebol é uma língua universal e a surdez não o impede de se comunicar com o time. “Um atleta brasileiro joga no Japão, China e Arábia sem falar português, portanto, não vejo dificuldades dentro de campo. Minha comunicação com os surdos é através de libras e gestos e, com os ouvintes, uso muito o recurso do celular”.

O futuro

Além da seleção, Luciano Quati trabalha no Instituto Quati, organização fundada por seus pais por causa do atleta. “O Instituto Quati surgiu de uma conversa com meus pais para tentar oferecer aos outros surdos, pessoas com deficiência e crianças carentes o apoio que encontrei para me tornar quem eu sou como pessoa e como profissional”.

Parte do seu passado e presente, o instituto também estará no futuro. “O instituto tem um ano e dois meses e sempre tiramos recursos do próprio bolso para darmos sequência aos projetos. A habilitação do nosso instituto para implantar o programa jovem aprendiz foi aprovada e não desistiremos jamais. O meu sonho é ver o Instituto Quati ajudando a construir sonhos e metas”, declarou Luciano.

Mas esses não são os únicos planos futuros do jovem atleta, que mal pode esperar pelo próximo ano. “Quero ser campeão do mundo com o Brasil na Surdolimpíada do Japão, que será em 2025”.

Fonte: Redação Nós
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