Quem é Troy Kotsor, primeiro homem surdo a ganhar o Oscar
Vencedor da categoria de melhor ator coadjuvante pelo filme No Ritmo do Coração faz história em premiação
O norte-americano Troy Kotsor fez história no Oscar 2022 ao se tornar o primeiro ator surdo a ganhar um Oscar de melhor ator coadjuvante por seu papel em No Ritmo do Coração (CODA) - que ainda levou a estatueta de melhor filme. Ele foi ovacionado pela plateia que, emocionada, bateu palmas para o artista com a linguagem de sinais.
as pessoas batendo palmas pro troy kotsur em língua de sinais, isso aqui foi TÃO especial #Oscars pic.twitter.com/OFO6yW07BD
— lai 📖🐝 (@aelinbegins) March 28, 2022
Troy também usou a linguagem de sinais para receber o prêmio: “É incrível estar aqui nesta jornada, eu não posso acreditar que estou aqui. (…) Eu realmente quero agradecer a todos os maravilhosos palcos de teatro para surdos onde pude desenvolver meu ofício como ator”, disse.
Antes de dedicar o Oscar à comunidade surda, ele acrescentou: “Meu pai foi o melhor signatário da nossa família, mas ele sofreu um acidente de carro e ficou paralisado do pescoço para baixo e não conseguiu mais utilizar a linguagem de sinais (…). Você é meu herói", disse o ator de 53 anos.
Pela performance em No Ritmo do Coração, Troy também venceu prêmios como Bafta, Critics Choice Awards, Independent Spirit Awards e Screen Actors Guild e Oscar, todos na categoria de melhor ator coadjuvante.
Nas redes sociais, muita gente comemorou a vitória:
FOI LINDOOOOOOO DEMAIS! sério, isso foi uma PUTA duma representatividade.
isso vai evidenciar que nós, surdos, podemos conquistar tudo. e que isso não depende só de nós, mas sim de vocês, ouvintes. porque o que nao falta é surdo capacitado e com sonhos incríveis. https://t.co/rH7uleOKfh
— jorge (@jorgesuede) March 28, 2022
FEZ HISTÓRIA NO OSCAR!
O ator Troy Kotsur, do filme CODA, fez história ao se tornar o primeiro homem surdo a vencer um Oscar.
Que a conquista desta noite represente um importante passo à inclusão da comunidade surda em todos os espaços, inclusive nas artes e no cinema!
— Anna Beatriz (@annabeatrizpsd) March 28, 2022
"Este #Oscar é dedicado à comunidade surda, à comunidade CODA e à comunidade com deficiência. Este é o nosso momento",
- Troy Kotsur recebendo seu #Oscar de "Melhor Ator Coadjuvante" pic.twitter.com/q0qQylNOhH
— Ei Nerd (@Ei_Nerd) March 28, 2022
Surdo de nascença, Troy cresceu no Arizona e foi estimulado desde cedo pela família a praticar esportes e a fazer amizade com crianças ouvintes do bairro. Na infância, ficou fascinado com Tom e Jerry porque os desenhos animados não tinham diálogo. A caminha da escola, no ônibus, representava o episódio da noite anterior para os colegas - a maioria não tinha televisão.
Ele frequentou a Phoenix Day School for the Deaf, onde se interessou por atuação, e chegou a estagiar em uma emissora de TV.
Após estudar teatro, televisão e cinema na Gallaudet University, entre 1987 e 1989, começou a trabalhar para o Deaf West Theatre em Los Angeles, Califórnia, atuando e dirigindo diversas produções. Por muito tempo o dinheiro foi escasso, levando-o a dormir no carro e nos camarins dos teatros.
No cinema, seu primeiro trabalho foi no filme de suspense Número 23, estrelado por Jim Carrey. Em 2008, Troy teve um papel coadjuvante em Universal Signs, filme gravado inteiramente na língua de sinais americana. Fez, ainda, uma participação no documentário See What I'm Saying sobre artistas surdos na indústria do entretenimento e uma ponta na série The Mandalorian, do universo Star Wars.
O empurrão para conquistar o papel de Frank Rossi em No Ritmo do Coração veio de Marlee Matlin, que no filme interpreta sua mulher de Frank, Jackie. Foi ela a primeira atriz surda a vencer um Oscar, em 1986, por Filhos do Silêncio. O próximo projeto de Troy Kotsor é Flash Before the Bang, que conta a história real de uma equipe de atletismo do ensino médio totalmente surda da Oregon School for the Deaf que superou uma série de adversidades e se tornou campeã em 1986. Kotsur fará o papel principal, o do treinador Farrior.
O ator, agora conhecido mundialmente, faz questão de deixar claro em entrevistas que é preciso ampliar a visão da comunidade surda, especialmente a da classe artística. “É muito importante não pensarmos em atores surdos de uma perspetiva limitativa. Como pessoa surda eu posso conduzir, cozinhar, fazer sexo, posso fazer todas essas coisas. A única coisa onde existe uma barreira é na comunicação. E é só isso”, explicou ao The New York Times.