Quem foi médico racista homenageado na USP
Estudantes se mobilizam para retirar nome de Amâncio de Carvalho de uma sala de aula na universidade
Na próxima quinta-feira, 30, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) irá decidir se a homenagem ao médico e professor Amâncio de Carvalho, acusado de maus tratos contra o corpo de uma mulher negra, irá permanecer na instituição. Uma das salas de aula da universidade recebeu o nome dele. As informações são da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
Em 2021, a retirada do nome de Amâncio de uma das salas do espaço começou a ser discutida na universidade e, no ano passado, chegou à Congregação da Faculdade de Direito, a instância máxima de cuida da deliberação dos assuntos da universidade. Em novembro de 2022, estudantes e professores se mobilizaram para retirar a homagem. Eles fizeram um documento relatando todos os abusos que o professor teria cometido contra Jacinta Maria de Santana, a mulher negra que teve o corpo embalsamado por Amâncio de Carvalho.
Apesar dos apelos dos estudantes, o relator do caso, o professor Renato de Mello Jorge Silveira, titular do Departamento de Direito Penal da faculdade, defendeu a manutenção da homenagem e apresentou um pedido de vista para reavaliar as evidências. Com a reunião que irá decidir sobre a homenagem ao professor se aproximando, estudantes voltaram a se mobilizar para que o nome do eugenista seja retirado da faculdade.
Catedrático de medicina legal, Amâncio de Carvalho também era o vice-presidente honorário da Sociedade Eugênica de São Paulo. Ele teria utilizado o corpo de Jacinta em experimentos e trotes da faculdade no início do século 20.
Durante a faculdade, Amâncio foi escolhido para estudar as febres que estavam acontecendo em Alagoinhas, na Bahia. Ele também trabalhou com diagnósticos de febre amarela. Amâncio foi médico da polícia do Rio de Janeiro, mas deixou o cargo após ser nomeado para a cadeira de medicina legal, criado na Faculdade de Direito da USP.
Em 1896, Amâncio mostrou ao público o cadáver de uma criança que ele teria embalsamado. De acordo com o antigo jornal O Archivo Illustrado, ele teria sido o primeiro a realizar o embalsamamento de um cadáver no Brasil, ganhando, assim, reconhecimento na área.
História de Jacinta
Em abril de 2021, a historiadora Suzane Jardim realizou uma pesquisa sobre Jacinta Maria de Santana, que foi divulgada pelo portal Ponte Jornalismo. Sem moradia fixa, Jacinta era uma mulher pobre que vivia na região central da cidade de São Paulo. Em 26 de novembro de 1900, ela passou mal e morreu a caminho do hospital.
Amâncio recebeu o cadáver da mulher negra para que pudesse trabalhar nos seus estudos sobre embalsamento, com o objetivo de aperfeiçoá-lo, mas por cerca de três décadas ele teria utilizado o corpo de Jacinta para ilustrar aulas de medicina legal da Faculdade de Direito, e também em trotes estudantis.