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Quem são as brasileiras que vendem livros eróticos a R$ 1,99 na Amazon?

Conheça as mulheres por trás dos romances do gênero hot que passaram a frequentar a lista dos 10 e-books mais vendidos frequentemente

2 mar 2023 - 05h00
(atualizado às 08h38)
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Quem consome conteúdo digital da Amazon já deve se ter deparado com títulos como "Uma Família de Aluguel para o Magnata", "A Esposa Grávida e Rejeitada pelo CEO" e "Roubando o Coração do Mafioso". Os e-books de romances hot a preços a partir de R$ 1,99 - de graça para quem tem assinatura Kindle Unlimited - predominam na lista dos mais vendidos - alguns vão direto para o Top 10 assim que são lançados na plataforma. 

Alguns têm origem estrangeira, mas são os escritos por mulheres brasileiras dos quatro cantos do país os que mais fazem sucesso. A fórmula tradicional é composta pelo encontro cheio de faíscas entre um ricaço arrogante, mas solitário, e uma mocinha aparentemente ingênua (muitas vezes virgem), mas irresistível. Receita um tantinho machista que aposta na submissão feminina? Nomes como Mari Cardoso, Jéssica Macedo e Kel Oliveira afirmam que não e defendem que o gênero hot tem, sim, um viés de empoderamento.

As autoras entrevistadas por Terra NÓS, aliás, têm investido na renovação do gênero - romances que mesclam doses de água com açúcar e pimenta não são necessariamente uma novidade - com alguns títulos trazendo personagens femininas que fortes, corajosas e que bancam as decisões que tomam. 

As autoras brasileiras distribuem seus livros na Amazon de três maneiras: de forma digital unitária (a pessoa compra o e-book), por assinatura Kindle Unlimited (elas ganham por página lida) e por distribuição física, quando a escritora manda produzir o livro físico de forma independente e anuncia no marketplace da Amazon). A Amazon fica com uma porcentagem que varia de 30 a 70% do livro físico ou do e-book. Parece pouco? A produção intensa e o número significativo de leitoras apaixonadas e seguidoras entusiasmadas nas redes sociais apontam que não - tanto que algumas delas já vivem exclusivamente da escrita. Conheça algumas delas:

JÉSSICA MACEDO

Jéssica Macedo: primeiro livro aos 14, editora própria aos 20 e incentivo a outras escritoras
Jéssica Macedo: primeiro livro aos 14, editora própria aos 20 e incentivo a outras escritoras
Foto: Divulgação

Um dos nomes mais conhecidos do gênero hot do Brasil, a mineira de 27 anos fez parte, em 2021, da badalada lista Under 30 Forbes Brasil com os jovens mais promissores do país. Não é para menos: Jéssica escreve histórias desde os 9 anos de idade e aos 14 lançou a fantasia "O Vale das Sombras" depois de devorar a série "Crepúsculo", de Stephenie Meyer e economizar o dinheiro do lanche da escola para comprar livros. 

Aos 20 abriu o Grupo Editorial Portal, editora que tem outras escritoras de romance hot no catálogo. Formada em Cinema de Animação e Artes Digitais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2021 Jéssica ajudou a adaptar um de seus livros para a plataforma Cinebrac. Seus enredos giram em torno de mafiosos sensuais e problemáticos - vide as séries "Herdeiros da Máfia" e "Máfia Bellucci" - e heroínas ingênuas como a de "A Filha Virgem do Meu Inimigo".

Com mais de 100 mil e-books baixados/lidos na Amazon, Jéssica encara o gênero hot como entretenimento. "As mulheres leem para fugir da realidade dura do dia a dia onde elas têm que se desdobrar entre trabalho, casa e filhos. Nesses livros, elas encontram um homem capaz de protegê-las de tudo e que entendem as necessidades melhor do que elas mesmas. Além disso, elas buscam uma quebra de tabus e preconceitos e o prazer de ler o que as agrada, porque a sociedade geralmente as julga muito", acredita.

KEL COSTA

Kel Costa: leitura de romances hot ajuda mulheres inexperientes no sexo a ganharem confiança
Kel Costa: leitura de romances hot ajuda mulheres inexperientes no sexo a ganharem confiança
Foto: Divulgação

No dia do fechamento desta reportagem, 1º de março, a carioca de 39 anos ocupava o primeiro lugar no ranking dos e-books mais vendidos da Amazon com "Prometida pra Herdeira". O romance recheado de cenas de sexo e personagens com "linguagem grosseira e vulgar" segundo a sinopse se passa em um cartel de drogas fictício em Sevilha, na Espanha, e  conta com mais de 3 mil avaliações positivas. 

Com uma produção intensa - em 2023 ela vai lançar 6 novos títulos -, Kel estreou no universo dos livros com uma trilogia sobe vampiros e seres mitológicos.

Ao entrar no mercado de autores independentes da Amazon, percebeu que o gênero do romance hot era o que mais se sobressaía entre o público que consumia os livros do Kindle e decidiu seguir por esse caminho. Uma estrada que, na sua opinião, faz sucesso por causa das doses generosas de escapismo que oferece às suas leitoras - muitas delas sexualmente inexperientes.

"A questão da mocinha virgem toca profundamente nas nossas memórias. Qual não foi a garota que sonhou em perder a virgindade com o homem dos seus sonhos, numa noite mágica e especial, vivendo um momento incrível? E quantas realmente tiveram suas expectativas alcançadas? Eu diria 1%, talvez? Portanto, é normal que elas queiram ler histórias sob essa perspectiva para voltarem ao passado e viverem o que não tiveram oportunidade de viver. Além disso, diversas mulheres de idades variadas que ainda são virgens gostam de ler porque ainda não tiveram seu momento e isso as ajuda a ganhar confiança e diminuir a ansiedade e medo", explica.

LUANA OLIVEIRA

"Cada vez mais as personagens que vão contra tudo que a sociedade impõe", afirma Luana
"Cada vez mais as personagens que vão contra tudo que a sociedade impõe", afirma Luana
Foto: Reprodução/Instagram

"Sempre fui uma leitora muito assídua e eclética, mas meu coração sempre bateu mais forte por romances que focam em personagens jovens adultos, seus dilemas, suas dificuldades, seus anseios, suas descobertas sobre o próprio corpo, suas vontades e seus desejos. Quando percebi, estava publicando a minha primeira história", conta Luana Oliveira, 21 anos, de Aracau (SE).

Sua inspiração bebe em diferentes fontes: filmes, músicas, livros, imagens no Pinterest e, claro, acontecimentos e histórias da própria vida ou de conhecidos. Embora reconheça uma certa dose de machismo em alguns enredos de romances hot, Luana faz parte de um novo movimento dentro do próprio gênero que busca valorizar os personagens masculinos sensíveis e "fofos" em vez dos brutos e arrogantes de praxe e que aposta em heroínas empoderadas e cheias de atitude.

"As mulheres não estão aqui para obedecer, muito menos para servir e agradar um homem. E nós não podemos ser colocadas dentro de uma caixa, como se fôssemos todas iguais. É por isso que precisamos também mostrar isso nos livros, dar voz cada vez mais a personagens que vão contra tudo que a sociedade impõe, quebrando com qualquer estereótipo e espera de perfeição. Precisamos mostrar mulheres reais", afirma ela, que atualmente está focada em "Speed Girl", título que deve chegar em breve na Amazon com uma protagonista de Fórmula Drift.

DANIELLE VIEGAS MARTINS

Danielle: nome do filho em todos os livros e protagonistas negras
Danielle: nome do filho em todos os livros e protagonistas negras
Foto: Reprodução/Amazon

Assumidamente tímida, a maranhense Danielle não gosta de postar muitas fotos pessoais nas redes sociais. Na escrita, porém, ela se solta e faz com que as leitoras mergulhem num mundo de ficção permeado por bilionários antipáticos que ao longo das páginas se revelam doces e amáveis ao caírem de quatro pela heroína - como Arturo Brusman de "Uma Família Inesperada para o CEO".

Conhecida também pelo pseudônimo Tessa Hauer, ela é formada em Letras, fez mestrado em Educação e é funcionária pública federal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 2010. Escoteira na adolescência, é faixa vermelha de Taekwondo e foi campeã Norte-Nordeste. Todos os livros da autora têm um personagem chamado Gustavo, que é o nome de seu filho adolescente. Um diferencial de seu trabalho é a busca por representatividade. Num gênero permeado por mocinhas brancas e bebês de olhos azuis, Danielle coloca em suas tramas apenas heroínas negras.

MARI CARDOSO

"Sou muito abençoada em encontrar inspiração em tudo que há de bonito na vida", fala Mari Cardoso
"Sou muito abençoada em encontrar inspiração em tudo que há de bonito na vida", fala Mari Cardoso
Foto: Divulgação

 "As leitoras do gênero hot buscam uma boa história, um romance que entregue acalento, sorrisos e a sensação de 'coração quentinho'. Sei que parece que buscam o sexo na leitura, mas não é isso. Sexo faz parte da vida. É algo natural em uma relação amorosa e se tem até nas novelas, por que não poderia ter nos livros?", indaga Mari Cardoso, 31 anos, que divide o tempo entre Cabo Frio, onde nasceu, e o Rio de Janeiro. 

Formada em Design Gráfico, Fotografia e Edição de Livros, Mari também sentiu o desejo pela escrita despertar com a série "Crespúsculo" - que a inspirava a criar divesas fanfics em 2008. Hoje, ela mora com a mãe, trabalha na Mavlis Editorial (que publica seus livros físicos) e é "casada nos sonhos" com Enrico, o mafioso de seu romance "Perigosa Tentação".

"Sou muito abençoada em encontrar inspiração em tudo que há de bonito na vida. Uma paisagem diferente, músicas, filmes, uma conversa animada entre amigos e até mesmo dentro do mundinho da minha própria mente", celebra.

ALINE DAMASCENO

Aline: histórias têm mocinhas fortes, mocinhos apaixonados, bebês e animais fofos
Aline: histórias têm mocinhas fortes, mocinhos apaixonados, bebês e animais fofos
Foto: Divulgação

Mineira de Belo Horizonte, Aline, 27 anos, se apaixonou por romances há alguns anos, quando comprou e devorou um romance de banca que adquiriu em um supermercado. Após a leitura, não parou mais de ler e comprar livros. No final de 2020, resolveu escrever a sua primeira história incentivada pela amiga Jéssica Macedo e não parou mais. Mocinhas fortes, mocinhos apaixonados, bebês e animais fofos são as principais características de suas obras, que ostentam títulos como "O Cachorro do Meu Vizinho" e "Uma Família Inesperada para o Cowboy".

Questionada se o gênero hot bate de frente com as ideias feministas, uma vez que os personagens masculinos, na maior parte das vezes, ocupa posições de poder em relação às mulheres, Aline é categórica: "Posso estar errada e não falar por todas, mas na minha concepção de feminismo, não rivaliza em nada. Feminismo para mim é um movimento que, além de lutar pelos direitos das mulheres em diferentes níveis, seja econômico, social, político e buscando a igualdade, ele luta para que as mulheres possam fazer suas escolhas sem julgamento, sem sofrer consequências pela sua decisão. O feminismo acolhe a todas, sem importar com diferenças de credo ou de opinião. Nas minhas histórias, mesmo que nas entrelinhas, deixo isso bastante claro e até pontuo algumas pautas. Um exemplo disso é quando eu cito o retrocesso na Turquia dos direitos femininos, algo que vem ocorrendo nos últimos anos", declara.

MARI SALES

"Minhas histórias alcançam outras mulheres que não querem dar satisfação a ninguém dos seus desejos", argumenta Mari Sales
"Minhas histórias alcançam outras mulheres que não querem dar satisfação a ninguém dos seus desejos", argumenta Mari Sales
Foto: Divulgação

"Sempre gostei de ler e desde o colégio tive uma amiga que me incentivava e emprestava os livros que comprava. Flutuei entre os estilos policial, filosófico, não-ficção e ficção. Quando conheci os romances hot, me identifiquei como leitora. Depois de devorar mais de 500 deles, o único gênero que me inspirava era o romance hot, então, comecei a escrever", conta Mari, ex-analista de sistemas de 37 anos que mora em Campo Grande (MS). 

Disponibilizado na Amazon no último dia 17 de fevereiro, seu livro "Eu Não Preciso de Um Marido" figura desde então na lista dos 10 e-books mais vendidos e soma mais de 1.200 avaliações positivas. "Sou uma mulher que está realizada na profissão que escolheu, contando histórias que fazem sentido para mim e não preciso de aprovação de ninguém para executar o que faz meu coração bater mais forte. Minhas histórias alcançam outras mulheres que não querem dar satisfação a ninguém dos seus desejos, elas são independentes e leem as histórias que escolheram. Isso é poderoso, porque há um tempo, até para comprar um livro precisávamos do dinheiro do marido ou do pai", destaca ela, que lança este mês o quarto livro da série Tríade Moto Clube, cujo primeiro livro tem uma mulher como presidente de um Moto Clube exclusivamente masculino.

Fonte: Redação Nós
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