"Quero mais protagonistas asiáticas na TV", diz Ana Hikari
Intérprete de Tina em "As Five", atriz se prepara para a estreia das novas temporadas da série e clama por mais representatividade na TV
"Será a temporada mais polêmica de todas. A trama vai abordar desde a sexualidade feminina até drogas lícitas e ilícitas. Algumas atitudes da minha personagem, aliás, devem levantar debates", conta a atriz Ana Hikari, soltando alguns spoilers da terceira temporada de "As Five", atração que a projetou nacionalmente e que a colocou no posto de primeira protagonista asiática da história da TV Globo.
A série, cuja primeira temporada está disponível no Globoplay, é derivada de "Malhação - Viva a Diferença", que foi ao ar entre 2017 e 2018 e conquistou inúmeros prêmios - incluindo um Emmy Internacional. Na pele de Tina, uma das garotas do quinteto principal da trama, Ana ficou conhecida em todo o Brasil e mostrou que, além de uma representante e tanto da nova geração de atores, é uma ativista nata.
"Uma pergunta que sempre me fazem nas entrevistas é: 'você acha que abriu portas para outras atrizes asiáticas também conseguirem papéis de destaque na Globo?' Sim, eu acho que abri uma porta, sim, mas ninguém passou por ela. Cadê outras oportunidades? Conheço um monte de artistas asiáticos talentosos, mas a representatividade amarela na TV ainda é uma realidade bem longe de acontecer", destaca.
Ana Hikari se diz amarela e gosta de ser chamada assim. "Não me venha com oriental, japonesa ou, pior ainda, japa. Minha cor é amarela", avisa ela, que há pouco tempo reclamou nas redes sociais da abordagem racista em relação à comunidade asiática feita pela novela "Cara e Coragem". Na trama, Ana Clara Lima e Bruno de Luca fariam uma participação especial como chineses, mas a aparição da dupla foi cortada após muitos internautas sinalizarem yellowface - prática considerada racista, na qual atores brancos se caracterizam como asiáticos.
Preconceito vivenciado desde a infância
Segundo Ana, o episódio de "Cara e Coragem" gerou conversas com a direção da Rede Globo sobre como evitar práticas racistas como a que foi limada da novela. Dialogar sobre o racismo em suas mais diversas formas é algo que faz parte da vida da atriz paulistana desde muito cedo.
Filha da dentista Makiko Takenaka e do professor Almir Antônio Rosa, ela cresceu presenciando o pai, um homem negro, sendo alvo de atitudes e comentários racistas. "Quando eu era criança, as pessoas duvidavam que eu era filha dele, achavam que ele tinha me raptado. Também o vi sendo acusado de roubo mais de uma vez", lamenta.
O pai sempre buscou prepará-la para enfrentar com dignidade e queixo erguido as intempéries, mas o maior ensinamento foi mesmo o amor pela arte e pela liberdade. Almir é graduado em Psicologia pela UFMG, Mestre e Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e foi o primeiro nego a dirigir o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da USP. "Minha infância também foi marcada por muito afeto, festivais de cinemas e filmes, muito filmes, ao lado do meu pai", relembra Ana. Não à toa, ela trabalha no teatro desde os 12 anos e estudou Artes Cênicas na USP.
Bissexual assumida, Ana não tem problemas em falar abertamente também sobre sua sexualidade. "Normalizar vivências pode ajudar quem tem dúvidas ou procura informação", diz a atriz, que adorou encarar a personagem Vandinha em "Quanto Mais Vida, Melhor!" (2021). "Ela formava um trisal com uma dupla de gêmeos, era bem divertido!". Enquanto aguarda a estreia das duas próximas temporadas de "As Five", programadas para 2023, Ana segue estudando muito e se preparando para, quem sabe um dia, concretizar dois sonhos. "Quero viver uma vilã, pois acho um papel desafiador, e trilhar uma carreira internacional", conta.