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Racismo ambiental: o que é e de onde surgiu a expressão?

Termo, criado nos anos 1980, foi utilizado por Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, para comentar os efeitos do temporal que atingiu o Rio de Janeiro; entenda seu significado

15 jan 2024 - 11h07
(atualizado às 11h24)
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Tempestade deixou rastro de destruição em São Sebastião, no litoral paulista, em fevereiro de 2023
Tempestade deixou rastro de destruição em São Sebastião, no litoral paulista, em fevereiro de 2023
Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 21/2/2023 / Estadão

A utilização do termo racismo ambiental pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, para definir o impacto das chuvas no Rio de Janeiro sobre a população negra e pobre gerou discussões nas redes sociais. Muitas pessoas entenderam que a ministra estaria chamando o meio ambiente de racista, mas este não é o significado do termo, que é reconhecido pela comunidade científica e tem ganhado cada vez mais repercussão no debate sobre mudanças climáticas.

O que é racismo ambiental? O que é racismo ambiental?

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, o termo foi criado por Benjamin Franklin Chavis Jr., liderança do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, nos anos de 1980. Ele era assistente de Martin Luther King, o ativista político estadunidense que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1964 por suas ações de combate ao racismo baseadas na resistência não-violenta.

"O termo surgiu no contexto do movimento negro dos Estados Unidos, mas a expressão ganhou força e foi ampliada para abarcar as injustiças sociais e socioambientais sofridas por grupos étnicos vulnerabilizados e discriminados em razão da cor da pele, origem, sexo e condição social", explica a Secretaria.

Segundo a pasta, são minorias étnicas (negros, povos indígenas e populações tradicionais, quilombolas e ribeirinhos), pessoas em condição de vulnerabilidade social, que vivem em periferias, e mulheres, em especial as negras, os mais afetados pela poluição, falta de saneamento básico, despejo inadequado de resíduos nocivos à saúde, desmatamento ilegal, enchentes, deslizamentos, rompimentos de barragens, entre outros fatores que levam ou são reflexo do aquecimento global.

O entendimento é de que, apesar de as mudanças climáticas afetarem todo o planeta e, consequentemente, todos os seres humanos, são aqueles que têm menor condição financeira, de moradia e infraestrutura, que sofrem os maiores efeitos. E como agravante, as pessoas que são lidas socialmente como "de menor valor" são mais negligenciadas por autoridades quanto a isso.

"Há um senso comum, e até um mito criado em torno da questão ambiental, de que ela nos atinge a todos igualmente", diz Marcos Bernardino de Carvalho, professor de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP), no Jornal da USP.

"Não é coincidência que esses bolsões de gente vulnerabilizada, que acaba sendo vitimada por esse processo de degradação, são de pessoas não apenas vulnerabilizadas e empobrecidas, mas de pessoas negras."

Para Carvalho, a falta de políticas públicas que impeçam essa forma de discriminação, contribui para a manutenção desse cenário de exclusão, além de intensificá-lo. "Quanto mais resíduo, quanto mais maltratado for o ambiente e quanto mais você despejar dejetos nesses lugares, mais você consolida essa situação de desigualdade e discriminação absurda."

Em 2022, na COP27, que aconteceu no Egito, o racismo ambiental foi, pela primeira vez, pauta oficial da conferência anual das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima. No acordo final do evento, foi criado um fundo para indenização por perdas e danos aos países mais pobres e vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

O acordo determinou em neste ano, 2024, seria criado um comitê para definir os critérios de distribuição das indenizações promovidas pelo fundo. Portanto, o assunto tende a ganhar ainda mais repercussão mundial este ano.

As buscas no Google pelo termo também dispararam nos últimos anos: foram de duas por dia em 2016 para 100 por dia em 2024.

Estadão
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