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Relatório inédito denuncia casos de LGBTfobia no futebol brasileiro

Entre janeiro de 2020 a julho de 2021, o relatório denunciou 42 casos de lgbtfobia no futebol

7 set 2022 - 05h00
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O documento inédito tem o objetivo de direcionar a pauta e endossar as instituições envolvidas no esporte para que consigam criar processos de melhoria ao criar projetos.
O documento inédito tem o objetivo de direcionar a pauta e endossar as instituições envolvidas no esporte para que consigam criar processos de melhoria ao criar projetos.
Foto: Divulgação

Sabe aquela situação constrangedora em presenciar o são-paulino sendo ofendido de “bambi” ou o torcedor do Cruzeiro de “Marias”? Já percebeu que clubes e a seleção brasileira não têm jogadores usando o número 24? Então, estes são apenas alguns exemplos de preconceitos estruturais que começam a ser enfrentados por um grupo de torcedores que se uniram para denunciar a LGBTfobia no futebol brasileiro.

Com um trabalho pioneiro iniciado em 2019, o Coletiva de Torcidas Canarinhos LGBTQIA+ lançará, nesta sexta-feira (2), o 1° Anuário do Observatório de LGBTfobia no Futebol Brasileiro com dados de janeiro de 2020 a julho de 2021. O documento reúne casos de violência, negligências no futebol, ações dos clubes e a atuação das torcidas LGBTQIA+ de futebol.

A Canarinhos LGBTQ+ é o Coletivo Nacional de Torcidas LGBTQIA+ de futebol, e conta com 19 torcidas LGBTQIA+ de 18 clubes diferentes, entre série A, B, C e D, que estão presentes em todas as regiões do Brasil.

Equipe que faz parte do Observatório de LGBTfobia no Futebol Brasileiro
Equipe que faz parte do Observatório de LGBTfobia no Futebol Brasileiro
Foto: Divulgação

O Coletivo Canarinhos também lança uma ferramenta no site oficial (www.torcidaslgbt.com.br) para receber denuncias de LGBTfobia no futebol, além do monitoramento dos casos em todo ambiente, como cânticos, declarações, atitudes, omissões e o quanto os clubes estão empenhados e atentos a causa.

O documento inédito tem o objetivo de direcionar a pauta e endossar as instituições envolvidas no esporte para que consigam criar processos de melhoria ao criar projetos, campanhas e ações que transformem o futebol em um espaço cada vez mais inclusivo, diverso e democrático.

Entre janeiro de 2020 a julho de 2021, o relatório denunciou 42 casos de lgbtfobia no futebol, sendo que em quatro situações o agressor foi um clube. A denúncia que teve maior repercussão foi contra o Flamengo, que gerou a primeira punição desta categoria no futebol brasileiro, em 2020.

A internet domina como ambiente da violência, foram 21 crimes de homofobia envolvendo futebol.

O documento foi construído em parceria com Aliança Nacional LGBTI+, Aylatin, Doisterços, Ninja Esporte Clube, Mídia NINJA e FODA, além de entidades que já atuam em prol dos direitos LGBTQIA+.

“Queremos consolidar a pauta LGBTQ+ no futebol de uma forma que não haja mais retrocessos”, declarou Onã Rudá, um dos idealizadores do Observatório e fundador da torcida LGBtricolor, do Bahia.

Onã Rudá, fundador da torcida LGBTricolor, do Bahia
Onã Rudá, fundador da torcida LGBTricolor, do Bahia
Foto: Arquivo pessoal

A parceria da torcida LGBtricolor e o Bahia é um exemplo que tem gerado bons resultados. Esta torcida tem conseguido promover a inclusão de pautas LGBTQ+ no tricolor baiano. A fundação da torcida se deu depois de algumas ações afirmativas organizadas pelo clube em combate à LGBTfobia no futebol. A primeira foi o lançamento da camisa “Não há impedimento” na coleção casual da marca oficial do Bahia. A seguinte foi a divulgação de um vídeo “levante a bandeira” com a exibição das bandeirinhas de lateral com as cores do arco-íris durante um jogo.

O torcedor tricolor baiano explica que o relatório foi focado no futebol masculino, onde o preconceito é maior e o apoio aos jogadores é menor. “A pauta LGBT tem pouco espaço no futebol masculino, mas muito à avançar”, afirmou.

Caminho árduo

Falar de diversidade não é fácil em um ambiente tóxico como no futebol. O sistema machista que rege o esporte afasta torcedores LGBTQ+ e impede que jogadores assumam sua sexualidade sem terem medo da reação da torcida, patrocinadores e mídia. Por este motivo, poucos jogadores tiveram a coragem de assumir suas sexualidades até hoje.

Segundo o relatório, no futebol brasileiro houve apenas dois jogadores que se assumiram homossexuais até hoje e nos dois casos, as revelações aconteceram após a aposentadoria. O ex-jogador do São Paulo e, atualmente, comentarista esportivo da TV Globo, Richarlyson, assumiu sua sexualidade em junho de 2022, durante a participação no podcast “Nos Armários dos Vestiários”.

O único caso que consta de um jogador assumidamente homossexual é o do goleiro Messi, do Palmeira de Goianinha, que apesar de nunca ter atuado em uma equipe que dispute os campeonatos nacionais, ficou conhecido pelos inúmeros ataques de torcedores.

O Observatório informa que atualmente não há nenhum jogador assumidamente homossexual nas séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro.

Ações afirmativas

Em 2021 um levantamento feito pelo Globo Esporte apenas sete do 20 clubes da Série A do Brasileirão tinham cláusulas específicas previstas em contrato que previam punições, como multa, suspensão, podendo até demitir, caso funcionários ou jogadores cometessem atos de discriminação. Os sete clubes são: Bahia, Corinthians, Cuiabá, Ceará, Internacional, Palmeiras e Red Bull Bragantino.

“Até 2019, ninguém pressionava os clubes contra este tipo de violência. A partir de nossas denúncias, os clubes começaram a se posicionar sobre o tema, incluindo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol)”, informa Onã.

Em ano de Copa do Mundo, o grupo do Observatório do Coletivo Canarinho tem mantido contato com a Fifa para fiscalizar atos homofóbicos no mundial, que acontece no Qatar, em novembro. O principal objetivo é defender ativistas que se posicionarem contra as leis que criminalizam a homossexualidade no país árabe. Bandeiras LGBTQIA+ estão proibidas dentro dos estádios durante a maior competição de futebol do mundo. “Eu acredito que haverá protestos durante a Copa, a comunidade LGBT levantará suas bandeiras no Qatar”, acredita Onã.

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