Ricardo Falco diz que combinou o depoimento para ‘livrar a barra’ de Robinho em caso de estupro
Amigo de jogador também foi condenado a 9 anos de prisão por estupro; ele se entregou na última sexta-feira, 7
Ricardo Rocha Falco, amigo de Robinho, admitiu que combinou o depoimento o ex-jogador para poder “livrar a barra”, no caso do estupro de uma mulher libanesa em uma boate de Milão, na Itália, em 2013. A fala ocorreu durante uma entrevista ao Domingo Espetacular, da TV Record.
Falco foi se entregou à polícia na noite da última sexta-feira, 7, após o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinar o cumprimento imediato da pena. Tanto ele quanto o amigo foram condenados a 9 anos de prisão.
"Quero só que acabe isso, porque há cinco anos minha vida é um pesadelo, é um fantasma em cima de mim. Vou dizer toda a verdade, faço questão. Eu tô há muito anos guardando isso só para mim, precisava colocar para fora e dizer toda a verdade e o que eu sinto”, disse na ocasião.
A entrevista foi concedida ao lado na presença dos irmãos e de seu advogado. Falco relembrou a noite em que tudo ocorreu e negou que tenha havido estupro. O homem conheceu Robinho enquanto trabalhava como assistente em um escritório de assessoria esportiva. Ele alega que nunca foi motorista do ex-Milan, só amigo.
"Eu combinei o depoimento pensando nele, para ser fiel a amizade, para limpar a dele. Não cometemos [o estupro], mas ele foi lá e foi sincero quando foi depor. Eu não tive relação com ela. O que importa para mim é o que a vítima fala. Eu nem encostei a menina", alegou.
No dia a dia, conviveu com ele e a família, saíam juntos para restaurantes, frequentava a casa do ex-atleta, e se tornou amigo dos amigos dele. "Ele era um cara bacana", argumenta. O homem ainda afirma que que Robinho confiava nele a ponto de dar o cartão de crédito para sair com os amigos e gastar na noite.
A noite em que tudo aconteceu
Na noite do dia 22 de janeiro de 2013, ele estava junto de Robinho e mais outros quatro homens: Clayton Santos, Rudney Gomes, Fabio Galan e Alex “Bita” Silva. Segundo Falco, a vítima foi quem “chegou na mesa” em que estavam. "Ela estava na intenção do Robinho", argumenta.
Em dado momento, segundo ele, um dos amigos do ex-jogador "ficou" com ela. "Aí [ele] chamou o Robinho. O Robinho entrou, os outros foram atrás. O Robinho saiu e me chamou: 'vamo lá'. Eu entrei. Vi o que estava acontecendo, não é que eu fiquei abismado, porque a pessoa não estava jogada no chão, como ela disse".
Em seguida, um segurança teria aparecido e todos saíram do local. "O Robinho até tinha saído antes. Nisso, ela ficou chorando em um canto", afirma.
O estupro ocorreu naquele momento em que todos estavam juntos em uma sala dentro da chapelaria da boate italiana, segundo a vítima relatou na denúncia. À Polícia, a vítima contou que um dos amigos do ex-atleta tentou beijá-la, mas ela recusou. No entanto, o rapaz continuou insistindo.
“Depois disso, me lembro de estar no camarim e o mesmo amigo forçando um beijo. Um segurança apareceu e o retirou do camarim. Só me lembro que Robinho e um amigo começaram a se aproveitar de mim. Depois chegaram mais quatro rapazes, dois deles, eu lembro de terem participado. No começo, eu pensava que Ricardo Falco estivesse só assistindo. Quando tudo acabou, eu comecei a chorar", afirmou a vítima.
Falco nega que todos tenham participado. "Seis homens estavam lá dentro, não foram seis homens que tiveram relações com ela. Eu acho que mais dois oral, e eu e mais um que não tivemos contato nenhum com a vítima", alega.
Ao ser questionado como classifica o caso, ele disse que foi "uma orgia", e não estupro. "Ela foi embora comigo, eu levei ela embora. Ela chorava, falando que não poderia ter acontecido isso. Ela chorava porque bateu o arrependimento. Se fosse um choro de 'ah, fui estuprada', ela já ia para a delegacia", disse Falco.
Em vários momentos da entrevista, Falco alega que não houve abuso por parte deles, e que conversou com a vítima por vários dias após o ocorrido.
Conversas interceptadas
Conversas interceptadas pela polícia italiana mostram que Robinho e Falco falaram sobre o ocorrido e até combinaram de dar a mesma versão dos fatos às autoridades.Em uma delas, o amigo diz que “entrou na mente” da vítima.
"Entrei na mente dela e disse que eu não estava. Ela estava brava porque achou que eu tinha que entrar no meio para separar. Eu vi que ela não se lembrava de nada. Aí foi quando eu entrei na mente dela", diz para Robinho.
"Dei depoimento, falei toda a verdade. Só não falei o que fiz. Falei que vi tudo, me perguntaram se você estava lá, eu disse que não. Falaram que eu estava mentindo. Eu repeti que você não estava lá e eu não precisava defender ninguém. Passei um pano para não complicar. Azar dela", afirmou em outra conversa.
Ao ser questionado, ele admitiu que combinou o depoimento. "Não foi nem para mim, até porque eu não tinha feito nada, e o único depoimento que eu dei foi como testemunha. Eu não dei depoimento como acusado".
Apesar de dizer que nunca deu depoimento como acusado, a defesa da vítima nega. "Ele não foi indicado na primeira denúncia, simplesmente porque a vítima não se lembrava de quantas pessoas participaram da violência. O envolvimento de Falco surgiu durante as investigações, no cruzamento de dados, que resultou na sentença em definitivo", diz o advogado da jovem libanesa.
Em uma das conversas interceptadas, Falco também revelou que tinha medo que fosse encontrado material genético dele no vestido da vítima. "Tenho certeza que alguma coisa minha vai constar, porque eu estava daquele jeito. Já nem lembro se escorreu uma gota ou não. Eu fiz o exame hoje, tenho certeza que a hora que sair o resultado do exame os caras vão me chamar. Pode ter caído na mina".
Apesar de negar que tenha estuprado a vítima ou participado do crime, o material genético de Falco realmente foi encontrado no vestido da vítima. Ele defende que só apontaram que era dele porque ele foi o único que fez o exame, e dá a entender que a prova foi forjada.
"Eles podem forjar o que quiser, pode mostrar para eles, para a Justiça, mas eu estou em paz. O negócio do exame pode ter sido a própria Justiça, porque eu morava lá. Só eu fiz o exame e a roupa dela tinha esperma, que ela alega que é de um outro fulano, que eu não vou citar o nome.”
Cabrini questiona se está diante de um estuprador, ao que Falco responde: "Jamais. Está de frente para um cara correto, um cara de coração bom". Tanto ele quanto Robinho pensaram pensaram em colocar a culpa em quem já estava no Brasil, segundo alega, mas seria para proteger o ex-Milan.
"Como o pessoal já estava no Brasil, ninguém ia chegar neles aqui porque não tinha nem como. Não é leal, mas não é uma coisa que ia prejudicar ninguém", aponta.
A reportagem aponta que em dado momento das conversas com Robinho, Falco diz que a condenação seria de cinco cestas básicas. "Esses áudios aí são conversas de homem. É o nosso jeito de falar. Na minha cabeça não ia dar nada para eles, para ninguém. Na minha cabeça vai dar cinco cestas básicas e acabou, e resolveu o problema.”
O homem se disse decepcionado e traído por Robinho, quando soube do que ele havia dito em seu depoimento. Segundo o amigo, o ex-jogador alegou que Falco “armou” tudo aquilo e que ele estava “de esquema com a vítima para tomar o dinheiro dele”.
"Por ser quem ele é, ele acabou meio que tentando desviar o foco, e jogando meio que em cima de mim, até porque eu é que morava lá. As outras pessoas já tinham ido embora. Eu já classifiquei um cara traíra, que foi muito traíra comigo, depois analisando friamente também, eu analisei ele como um cara desesperado".
A defesa de Robinho preferiu não se manifestar sobre as declarações de Falco à emissora.
Já a defesa de Falco diz que tenta que o crime não seja classificado aqui no Brasil como hediondo, e anular a condenação para que seu cliente não cumpra a pena no país.
"Se ela [a vítima] tivesse aqui, eu tenho certeza que ela falaria para mim que eu não tenho culpa do que eu estou passando hoje. Porque ela nunca me avisou, e ela sabe que eu nunca fiz nada com ela. Ela seria a primeira a falar: 'desculpa pelo que você está passando hoje'". Eu nunca fui acusado pela vítima, eu era testemunha do caso, e ela fala em todas as partes do processo que eu não tive relação sexual nenhuma com ela", finaliza.