Saiba quem são as mulheres indígenas que se destacam no Brasil
Conheça mais sobre a história, o ativismo e as conquistas de mulheres indígenas que são referências em áreas como política, arte e educação
Para além de celebrar a resistência e as conquistas, o Dia Internacional da Mulher é uma data importante para refletir sobre existências plurais. Diferentes vivências se encontram na mulheridade, mas nem todas são igualmente valorizadas. "Muito se fala de amar a pátria, mas a mãe do Brasil é indígena", declarou Célia Xakriabá, mestre em sustentabilidade e doutoranda em antropologia social. A reflexão de Célia sintetiza um fato: mesmo dentro de movimentos sociais feministas, pouco se fala sobre mulheres originárias — ainda que elas estejam atuando ativamente na defesa de suas vidas e territórios há mais de 500 anos.
Neste 8 de março, listamos algumas entre milhares de mulheres indígenas que merecem ter suas histórias contadas publicamente. Atuando em diferentes frentes, elas mostram que ocupar espaços é uma ferramenta efetiva na luta contra o apagamento.
Sônia Guajajara
Natural da Terra Indígena Araribóia, em Amarante do Maranhão, Sônia Guajajara é a primeira ministra dos Povos Indígenas, cargo no qual tomou posse em janeiro de 2023. A líder é um dos principais nomes brasileiros na linha de frente pela garantia dos direitos dos povos nativos. Formada em Letras e em Enfermagem e especialista em Educação Especial pela Universidade Estadual do Maranhão, Sônia foi considerada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, e recebeu a Ordem do Mérito Cultural. Atualmente, Guajajara é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e integrante do Conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil.
Célia Xakriabá
Antropóloga e professora ativista indígena do povo Xakriabá, em Minas Gerais, Célia Xakriabá se tornou a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal no estado, em 2022. Ela teve mais de 101.078 votos. Atuante na luta pela reestruturação do sistema educacional e preservação à integridade e dignidade da juventude, Célia também contribui com pautas de apoio às mulheres. A líder também está na linha de frente na conquista da demarcação das terras que pertencem aos povos nativos. Em 2015, com apenas 25 anos, Célia foi a primeira mulher indígena que fez parte da equipe do órgão central da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, cargo ocupado até 2017.
Joenia Wapichana
Primeira advogada indígena do Brasil, Joenia Wapichana é a atual presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), tornando-se a primeira mulher indígena a comandar a entidade. Nascida na comunidade indígena de Cabeceira do Truarú, localizada na na zona rural do Município de Boa Vista, em Roraima, Joenia deixou a comunidade onde nasceu aos 8 anos, e só nesta época aprendeu a falar português. A partir daí, veio o interesse pelos estudos. Formada em direito pela Universidade Federal de Roraima, no ano de 1997, a advogada é mestre em Direito Internacional. A graduação foi na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Para além disso, atuou na importante demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, além de trabalhar no departamento jurídico do Conselho Indígena de Roraima (CIR) e na defesa de direitos de índios à posse de suas terras na Região Norte do Brasil.
Arissana Pataxó
Natural de Porto Seguro, na Bahia, Arissana Pataxó é uma artista plástica criada em território nativo até os 16 anos. Sua primeira exposição individual, “Sob o olhar Pataxó”, foi exibida no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Bahia, antes mesmo do fim da sua graduação em Artes Plásticas terminar. A artista sempre desenvolveu projetos voltados para a arte-educação, e tornou-se mestre em Estudos Étnicos e Africanos em 2012. Uma segunda exposição que merece destaque é “Pimeässä en ole neliraajainen” (no escuro eu não tenho quatro membros), exposta no Centro de Trøndelag para Arte Contemporânea de Trondheim, na Noruega. Ao longo dos anos, desenvolveu uma série de estudos e atividades de extensão para fomentar a arte e a educação do povo Pataxó.
Juliana Alves
Juliana Alves é a atual titular da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará. Cacika Irê do povo Jenipapo-Kanindé e filha da primeira mulher cacica da qual se tem notícia no Brasil, Cacika Pequena, Juliana é professora indígena, licenciada em Educação Indígena e mestra em Antropologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Além disso, é cofundadora da Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreira da Ancestralidade e vice-coordenadora da Articulação das Mulheres Indígenas do Ceará (Amice).
Sandra Benites
Natural da Terra Indígena Porto Lindo e nascida em 1975, Sandra Benites é pesquisadora, antropóloga e ativista Guarani. Também é curadora de arte e educadora, tendo destaque pelas suas lutas em defesa da demarcação territorial e na educação de qualidade dos povos Guarani. A emancipação das mulheres de seu povo (chamadas de 'kunhangue arandu') também está presente em sua trajetória, que traz marcos de resistência à colonização e ao conhecimento acadêmico hegemônico. Benites realizou curadorias em museus – como a exposição Dja Guata Porã: Rio de Janeiro Indígena (2017) – e atuou em assessorias de projetos de educação.
Sônia Barbosa (Ara Mirim)
Ativista indígena Guarani, Sônia Barbosa nasceu em 1975 e é natural de São Paulo, mas suas origens remontam aos seus ancestrais da tribo Guarani Jaraguá, de origem Xucuru-Cariri. Sônia relata que seu pai foi assassinado por grileiros e, logo após, sua família foi expulsa de suas terras e precisou migrar para São Paulo. Em 1990, na região de Parelheiros, no sul do estado, Sônia foi acolhida pela comunidade Guarani local e reconhecida como indígena. Por lá, aprendeu suas línguas e costumes. A líder passou a viajar nacionalmente para visitar comunidades indígenas e atuar na proteção dos direitos dos povos nativos. Sônia atua em coletivos e movimentos sociais em diversos lugares do Brasil.
Katú Mirim
Rapper, compositora, atriz e ativista, Katú Mirim reconta em seu trabalho a história da colonização, trazendo a ótica indígena em primeiro plano. Através do rap, ela compartilha vivências, reforça identidades e questiona estereótipos de gênero e sexualidade. Mulher lésbica, Katú estreou no rap em 2017, com o single Aguyjevete. A canção de estréia, assim como boa parte de seu repertório, fala da resistência dos povos nativos. No mesmo ano, a multiartista viralizou com a hashtag "Indío Não é Fantasia", trazendo à tona o debate sobre os costumes indígenas utilizados de forma folclórica e fora do contexto aos quais eles pertencem. Ainda em 2017, fundou o “VI Visibilidade Indígena”, que luta pelos direitos e representatividade dos povos.
Majur Traytowu
Majur Traytowu, da etnia Bororo, líder da aldeia Apido Paru, é a primeira cacica trans da qual se tem notícia no Brasil. Majur se reconhece mulher desde criança. Filha de mestre de canto e neta de pajé, ela sempre realizou as tarefas designadas às meninas, como as cerimônias de choro durante os rituais de luto. Liderança da etnia, a cacica tem lutado politicamente para levar melhorias para a aldeia. Com ensino médio completo, Majur domina o português e a língua de sua etnia, adora matemática e é ex-agente de saúde indígena, cargo que renunciou para se dedicar integralmente ao posto de cacica.
Renata Tupinambá
Jornalista, produtora, poeta, curadora, consultora, roteirista e artista visual, Renata Tupinambá atua há 15 anos na difusão das culturas indígenas por meio de projetos de etnocomunicação. É membro do projeto Levanta Zabelê, comunidade localizada em Una, na Bahia. Foi co-fundadora da Rádio Yandê, primeira web rádio indígena brasileira. É fundadora da produtora indígena Originárias Produções e criadora do Podcast Originárias, de entrevistas com artistas e músicos indígenas, que integra a central de Podcasts femininos PodSim. É colaboradora da transmídia Visibilidade Indígena.