Saúde mental indígena é afetada por apagamento de tradições
Invasão de territórios e queima de casas de rezas têm impacto na qualidade de vida e no sono de diversos povos, segundo psiquiatra
Ao conhecer a obra do ambientalista e filósofo Ailton Krenak em um curso de fotografia, a artista visual e psiquiatra Laura Uyeno, de 43 anos, se apaixonou pelas causas indígenas e decidiu concentrar esforços em trabalhar com a saúde mental de comunidades pelo Brasil. “Há muitos tipos de violência contra os povos indígenas. Por exemplo, quando queimam casas de reza e tentam apagar suas tradições, quando invadem seus territórios ou não dão direito a tê-los. Quando não se permite que vivam com as suas maneiras, há um enorme risco de sofrerem de depressão e conflitos de identidade", conta a médica.
O primeiro passo de sua luta em prol da saúde mental desses povos foi se aproximar da liderança Maria Helena Gavião, que a convidou para conhecer sua aldeia, localizada na Reserva Indígena do Governador, no Maranhão. Laura acompanhou a rotina de mulheres indígenas brigadistas e pôde compreender riscos relacionados à sua mental dessas mulheres. Dessa forma, se voluntariou para atender aquelas que precisassem de apoio psiquiátrico mais imediato.
A partir dessa experiência, suas ações se voltaram para ampliar o apoio. "Descobri que havia muito campo de atuação na área da psiquiatria dentro das comunidades indígenas. Passei a integrar o Projeto Maloca, da Faculdade de Ciências da Saúde de Barreto, e iniciei um trabalho na área de psiquiatria, que antes não existia”, relata Lauta. O projeto leva apoio médico à população indígena Xakriabá, na cidade de São João das Missões (MG). Atualmente, Laura e demais colegas visam expandir o projeto para novas localidades.
De maneira geral, a saúde indígena no Brasil é precarizada, especialmente em aldeias e áreas afastadas dos centros urbanos. No que diz respeito aos cuidados com a mente, há mais desafios. A psiquiatra ressalta a importância de compreender as peculiaridades na maneira de atuar com indígenas. "A abertura para o tratamento envolve muitos conflitos entre nós, brancos, e indígenas. Há questões culturais e ligadas à ancestralidade e à religiosidade. Porém, há uma procura por ajuda significativa por parte dessa população, principalmente pelo interesse em melhorar a qualidade de vida e do sono”, informa Laura. Vale aqui lembrar que no Brasil são 305 povos indígenas distintos, culminando em formas variadas de compreender e aceitar a ciência e tecnologia do “homem branco”.