'Se eu não tivesse descoberto o autismo, acho que já teria pifado', diz cantor Vitor Fadul
Diagnóstico e mudança no estilo de vida com apoio do marido, Leandro Karnal, fazem parte da transformação do artista
Aos 25 anos, o cantor Vitor Fadul recebeu o diagnóstico de autismo, transformando sua vida pessoal e profissional, enfatizando a autoaceitação, saúde e criatividade em sua música. Seu álbum 'Panapaná' reflete sua jornada de descoberta e mudança.
Receber o diagnóstico de autismo aos 25 anos mudou completamente a vida do cantor Vitor Fadul. Antes disso, ele se sentia perdido, tentando acompanhar um ritmo que parecia funcionar para os outros, mas não para ele. “Você tenta melhorar, tenta se adequar às pessoas, e vê que os outros estão conseguindo evolução, e você nada. O que é isso? Por quê?”, questiona ele, hoje com 29 anos.
O cantor, nascido em Itanhaém, no litoral de São Paulo, é casado desde 2019 com o filósofo Leandro Karnal, de 62. Com o apoio do marido, ele buscou o diagnóstico de autismo, e ainda mudou radicalmente seu estilo de vida, em busca de mais saúde --mental e física.
Desde muito jovem, Vitor Fadul sentia que havia algo diferente nele, mas o medo de descobrir o que era o impedia de buscar respostas. “Eu sabia que tinha alguma coisa, mas morria de medo de descobrir. Então, eu ficava tentando disfarçar, e não dava muito certo”, conta.
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Mesmo após conseguir respostas, os desafios permanecem. “Ainda bem que eu sei que sou autista hoje em dia, porque, mesmo fazendo tudo que eu tenho que fazer para estar bem, é muito trabalho. Se eu não tivesse descoberto esse diagnóstico, acho que já teria pifado.”
A jornada do jovem também trouxe descobertas. “É se aceitar e conseguir melhorar, tendo um foco”, explica. Para ele, mais do que um rótulo, o diagnóstico foi um norte, permitindo que compreendesse melhor a si mesmo.
"O autismo é a forma como eu vejo o mundo"
Para Vitor, o autismo não é apenas um traço entre tantos outros de sua personalidade. É, na verdade, o alicerce da forma como ele percebe e interage com o mundo -- e isso se reflete diretamente no seu processo criativo como cantor e compositor. “O autismo não é uma coisa como o meu cabelo, que eu posso pintar, pentear de outra forma ou cortar. Ele é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, tudo o que eu sou passa por esse processo mental”, explica.
Essa influência se estende à sua música. Diferente de um processo metódico e estruturado, a criação acontece de forma fluida e intuitiva. Curiosamente, esse processo criativo contrasta com sua necessidade de previsibilidade no dia a dia. “É engraçado, eu preciso de muita previsibilidade, mas o meu cérebro é muito imprevisível. Então, é ele que me dá o nó antes de qualquer coisa”, reflete.
Transformação
Além da música, outro aspecto que chamou atenção do público recentemente foi a transformação física de Vitor Fadul. O cantor compartilhou nas redes sociais sua jornada de emagrecimento e recebeu uma enxurrada de comentários elogiando sua dedicação. Para ele, a palavra que melhor o define é transformação. “Por isso gosto tanto do símbolo da borboleta. Em uma única existência, é possível ser o ser que rasteja e, depois, o que voa”, reflete.
A relação com o peso sempre foi um desafio. “Fui uma criança obesa em determinado momento, sofri muito bullying. Depois que me casei com o Leandro, engordei 30 quilos em menos de um ano”, conta. O impacto foi além da estética: afetou sua autoestima e até sua disposição para atividades físicas.
Determinado a mudar, Fadul estruturou um plano detalhado. “Meu sonho é ser um superstar, e para isso, preciso do meu corpo. Se quero chegar ao meu objetivo, meu corpo tem que ser meu veículo.”
Música
O artista recentemente lançou seu álbum de estreia. Intitulada Panapaná, a obra pop faz alusão às borboletas, e à simbologia da transformação à qual elas remetem. Para Vitor Fadul, é fácil relacionar o animal à sua trajetória de vida. O projeto levou anos para ser concluído, e o lançamento foi cuidadosamente planejado para transmitir sua jornada.
“O álbum levou 10 anos para ser concebido e mais alguns para ser executado”, explica. A estratégia de lançamento foi calculada para causar surpresa: “Fui lançando músicas soltas, cada uma com um estilo diferente, sem anunciar que eram parte de um álbum. Só na sexta música revelei que se tratava de um projeto maior. A ideia era mostrar que a transformação é inevitável e muitas vezes só percebemos nossa evolução quando olhamos para trás”, conta.
O conceito de Panapaná --um coletivo de borboletas-- reflete a filosofia de Fadul sobre crescimento e mudança. “Cada subprojeto da vida é uma pequena lagarta que se transforma. Quando todas se unem, você se dá conta do seu próprio panapaná.”
Apesar de já ter outros projetos em vista, Vitor Fadul segue totalmente envolvido com Panapaná. A segunda parte do álbum está pronta, mas o artista quer lançá-la no momento certo. “As pessoas estão enlouquecidas, perguntando quando sai, mas eu digo: calma, tudo tem seu tempo.”
O videoclipe da faixa principal já foi gravado e recebeu elogios do renomado Maestro João Carlos Martins. “Ele me disse que foi o videoclipe mais lindo que já viu na vida. Minha nossa!”, conta, animado.