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Se não proteger povo Pataxó, governador da Bahia será cúmplice de genocídio indígena

A ativista Regina Lucia dos Santos, do MNU, recorda marcha histórica e encontro que teve com o cacique Nailton Pataxó, que foi baleado e perdeu a irmã, a Pajé Nega Pataxó, assassinada por pistoleiros na Bahia

23 jan 2024 - 07h19
(atualizado às 09h13)
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Por: Regina Lucia dos Santos*

No ano de 2000, o Movimento Negro Unificado (MNU) participou ativamente da construção do Movimento de Resistência Indígena, Negra e Popular - Brasil Outros 500, que culminou em uma marcha histórica em 22 de abril daquele ano na praia da Coroa Vermelha, em Ilhéus (BA).

Pelo MNU, participaram eu e Milton Barbosa, de São Paulo; Sueli Souza Santos, Luiz Alberto, Ivonei Pires, Eliane Rainha e Edmilton Cerqueira, da Bahia. A manifestação pacífica foi brutalmente reprimida pela Polícia Militar num acerto entre o governo local, do então governador César Borges, e o governo federal, com o presidente Fernando Henrique Cardoso.

No início do dia 22, às 6 da manhã, os manifestantes do Movimento Negro, do Movimento Sem Terra e de outros segmentos sociais saíram em passeata ao encontro do Movimento Indígena para caminhar juntos. Ao entrar na estrada que levava a praia da Coroa Vermelha, fomos recebidos com bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, cassetetes e muita brutalidade, que obrigou a dispersão da caminhada.

Parte dos manifestantes ficaram isolados pela polícia, cerca de 140 foram presos e mais tarde liberados, parte se embrenhou na mata e, a grande maioria, inclusive eu, Milton Barbosa e Sueli Souza Santos, adentramos um centro de convivência e arte indígena, onde inicialmente fomos rechaçados pela liderança local, que era cooptada pelo governo federal, que queria nos expulsar do local praticamente nos entregando para polícia.

Naquele momento chegou o Cacique Nailton Pataxó, então presidente do Conselho Índígena e liderança à frente do Brasil Outros 500, que disse: "eles permanecerão aqui porque são nossos irmãos na luta". E permanecemos no local até que as tratativas permitiram a continuidade da caminhada, que depois foi interrompida outra vez e impedida de chegar onde estavam FHC e sua comitiva.

A história não mudou, mas tem que mudar. Cacique Nailton Pataxó, que em 21 de janeiro de 2024 foi baleado e perdeu a irmã, a Pajé Nega Pataxó, assassinada em um ataque brutal e que feriu outros indígenas. A ação foi comandado por pistoleiros, com a anuência e cumplicidade da PM da Bahia.

O governador do estado, Jerônimo Rodrigues (PT), tem que tomar urgentes providências sobre o ocorrido. A meu ver é necessária a troca imediata do comando da PM para que se restabeleça o respeito aos direitos indígenas à terra e a todos os direitos humanos no estado, sob pena de ser apontado como cúmplice se não o fizer.

* Regina Lucia dos Santos é geógrafa, ativista e coordenadora de formação do Movimento Negro Unificado (MNU), em SP.

Imagem mostra homem indígena de costas caminhando em Aldeia Pataxó.
Imagem mostra homem indígena de costas caminhando em Aldeia Pataxó.
Foto: Alma Preta
Alma Preta
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