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Selma Egrei, a Mariana de ‘Pantanal’: “A única parte ruim da velhice é ter menos fôlego”

Na estreia de NÓS na Vitrine, atriz de 73 anos recapitula a carreira e revela como a idade jogou a favor de seus interesses

28 out 2022 - 05h00
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Selma Egrei, 73 anos: “as dores em tudo” são o único problema da idade
Selma Egrei, 73 anos: “as dores em tudo” são o único problema da idade
Foto: Sergio Castro/Estadão Conteúdo

Dona Mariana gerou uma mistura de sentimentos aos telespectadores de "Pantanal", novela das 21h da Globo que chegou ao fim em meados deste mês. A ricaça, com sua personalidade controladora, vezes incomodava o público, vezes caía nas graças dele – principalmente quando se impunha contra a homofobia e o conservadorismo.

Quem deu vida à madame foi a veterana Selma Egrei, cuja personalidade a própria avalia como oposta à que incorporou na personagem. Selma é uma mulher de 73 anos que considera “as dores em tudo” o único problema da idade. “De resto, estou na minha melhor fase”; é ativista pela proteção do meio-ambiente e pela preservação ambiental, é modesta em seu estilo de vida e detesta toda a bajulação que envolve a fama.

Pantanal teve duas fases, e Mariana foi interpretada por Selma em ambas. Na primeira delas, a personagem apareceu maquiada, chique, coisa que a atriz se recusou a perpetuar na segunda fase. “Eu disse: ‘Chega, agora sou eu. A Mariana envelheceu, vamos aceitar isso. Não quero base, não quero maquiagem, não quero parecer mais jovem. Quero aparecer com minhas marcas de idade’. Não tenho interesse algum no glamour”, afirma Selma.

Selma Egrei como Mariana na primeira e na segunda fases da novela
Selma Egrei como Mariana na primeira e na segunda fases da novela
Foto: Divulgação/TV Globo

Selma Egrei vem do teatro –ela começou a atuar em 1970 e, apesar de ter feito estrondoso sucesso em "Velho Chico", também da Globo, e agora em "Pantanal", não titubeia ao afirmar que é nos palcos que se sente bem. A atriz falou com exclusividade ao Terra NÓS. De Mariana, talvez lhe sirva o jeito desbocado de quem não teme mais dizer o que pensa. 

A boa relação com sua forma de expressar o que sente, afirma Selma, é fruto da maturidade – o que ela descreve como a melhor parte de chegar aos 73 anos. “Encaro as coisas de outra forma. Quando jovem, eu era superficial e irresponsável. Estava na vida para curtir, buscava onde me divertia mais. Hoje, isso não me serve, essa vida de festa, de oba-oba. Não tem mais sentido. Sou do time de horta comunitária, batalho pela segurança do meu bairro [Butantã, na Zona Oeste de São Paulo]. A vida, para mim, é a prática”. 

Pressão na velhice

Selma afirma não se adaptar muito bem ao ritmo da televisão, apesar de dizer que não lhe faltam trabalhos na telinha. “Acho que é sorte. Estou numa faixa etária em que há poucas atrizes para fazer o trabalho. A televisão é muito preconceituosa com a idade, com a estética. As pessoas estão desde muito cedo fazendo harmonização facial, fugindo das marcas de expressão. Existe uma necessidade de se encaixar no mercado, e eu não gosto do mercado. Essa coisa da grande empresa produtora de novelas me incomoda demais”, diz.

Selma Egrei com o colega Zé Carlos Machado em 2013, na série "Sessão de Terapia"
Selma Egrei com o colega Zé Carlos Machado em 2013, na série "Sessão de Terapia"
Foto: Clayton de Souza/Estadão Conteúdo

“Quando me chamam agora é para dar vida a personagens mais idosas, e eu gosto disso. Gosto de me mostrar como sou. Amadurecer, para mim, só é ruim num ponto: tenho menos vitalidade, menos fôlego para fazer as coisas. O joelho já não responde muito bem; comecei a tomar remédio para controlar a pressão –nunca tinha tomado– e essas coisas são bem chatas. Mas só. Amadurecer me traz uma compreensão maior da vida, do que eu quero, do que busco. Me sinto mais livre para viver da maneira de que realmente gosto”.

Ela detesta o mainstream. Para fugir dele, fez do Butantã seu bairro em São Paulo, local um pouco descolado do antro de gastronomia e cultura da capital paulista. Até a peças de teatro ela deixou de ir nos últimos anos, e justifica: “Se tem um lugar que eu detesto é saguão de cinema ou teatro, onde fica aquele acúmulo de pessoas que não têm o que fazer esperando o filme começar. Detesto fazer social. Me dá um cansaço, não vejo a hora de ir embora”, ri.

Pornochanchada, “um horror”

A maturidade trouxe a Selma Egrei momentos de autocrítica em relação às próprias escolhas na carreira. Quando jovem, estrelou alguns filmes de pornochanchada, o que, hoje, considera “um horror”. A atriz afirma se arrepender de ter participado dos enredos que, segundo ela, não eram bem cuidados como são hoje.

“Os roteiros eram muito toscos, principalmente nos cinemas que ficavam na Boca do Lixo, em São Paulo. Era tudo meio de qualquer jeito. Por ingenuidade, talvez, acabei caindo em muita cilada. Quando começava a rodar a gravação, ficava claro que, os diretores à época, estavam muito amarrados a grandes distribuidoras. Então, quando mais cena de violência e sexo, mais gente iria assistir.”

Ainda assim, mesmo percebendo mudanças na forma como cenas de sexo são incluídas nas películas hoje em dia, Selma não consegue enxergar a pornochanchada como um gênero cult. 

“Me arrependo de muitos filmes em que entrei. Quando lembro, penso ‘como acreditei que isso seria um bom filme?’. Não acho que a pornochanchada possa ter importância hoje em dia. Naquela época, era a forma das pessoas sobreviverem. Era um comércio, juntar a mulherada, botar uns peitos de fora e ganhar dinheiro. É isso que acho um horror.”

Além do mau gosto do roteiro, Selma precisava fugir das tentativas de assédio, que eram contínuas. “Mas o assédio não foi só no cinema, não. Na televisão também já vivi, e muito. Já caí fora de trabalho porque não aceitei o assédio. Tinha muito, muito mesmo. No teatro, menos. No teatro, é outra coisa. As coisas ficam mais às claras”.

Pantanal e a crítica suave

Selma é tietada por Gabriel Sater nas gravações de "Pantanal"
Selma é tietada por Gabriel Sater nas gravações de "Pantanal"
Foto: Reprodução/Instagram

Selma é papo reto. Identificou em "Pantanal" uma forma de acessar mulheres vítimas de relações abusivas, de fazê-las identificarem um padrão de violência psicológica. Acredita, ainda, que a novela trouxe críticas suaves –que poderiam ter sido mais explícitas– em relação às secas do bioma, ao desmatamento e às queimadas. “O foco foi muito na pecuária. Acho que deveriam ter dado mais destaque, também, à agricultura sustentável. 

O mesmo sobre política.

“Faltou um pouco de coragem. Precisávamos falar mais de política nessa novela. O período que estamos vivendo é perigoso. O mundo está virando fascista, neonazista, e isso é terrível. Não sei como a gente vai se libertar disso. Independentemente do governo que vier, enfrentaremos essa coisa ruim demais, demolidora de tudo; da natureza, das pessoas, incentivadora da miséria e do garimpo. Esse momento é muito triste e é doloroso pensar que ainda tem muito por vir.”

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Fonte: Redação Nós
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