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'Ser trans é parte da minha identidade, mas não é tudo o que eu sou', diz a atriz Gabriela Loran

Com a feminilidade, ela conta que vieram também dores e preconceitos. Entender sua individualidade foi fundamental para permitir a transformação e ajudar os outros

8 fev 2023 - 16h42
(atualizado às 17h25)
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'Eu jamais vou me diminuir para caber em qualquer espaço. Eu sou gigante, eu sou plural', afirma Gabriela Loran
'Eu jamais vou me diminuir para caber em qualquer espaço. Eu sou gigante, eu sou plural', afirma Gabriela Loran
Foto: Reprodução/Instagram/Estadão

"Ser mulher é superar todos os dias as imposições e expectativas que são colocadas em cima do ser feminino", afirma Gabriela Loran. Mulher transexual, negra, atriz, influenciadora, pensadora - e futura ganhadora do Oscar, segundo ela mesma, Gabriela não gosta de caber em caixinhas preestabelecidas. "Ser trans é parte da minha identidade, mas não é tudo que eu sou. Jamais vou me diminuir para caber em qualquer espaço. Eu sou gigante, sou plural", diz.

Em redes sociais, ela compartilha suas vivências como mulher trans. "É muito importante ser referência para outras meninas, outras pessoas LGBT no geral, mas o que não quero é ser o ideal. Eu quero ser a Gabriela na minha subjetividade", reafirma.

Gabriela Loran nunca teve dúvidas de quem era. Mas teve de lutar todos os dias, durante 23 anos, para se reafirmar perante as dúvidas dos outros. "Eu sempre me entendi como menina, porque queria ser uma. Para mim, eu sempre fui, mas lembro de ter sido podada, principalmente pelos adultos, por performar muito a feminilidade. Brincava com as meninas, era apaixonada pelos meninos, morria de vergonha do vestiário masculino, então sempre gostei do oposto do que era ofertado para mim", conta ela.

Além de lidar com o bullying e o assédio fora de casa, Gabriela tentava entender as mudanças internas e externas do corpo, assim como as questões de identidade que a adolescência traz. Nessa época, seu banheiro era seu grande porto seguro. "Era ali a minha válvula de escape".

Depois que a porta se fechava, ela fazia desde performances de Whitney Houston a Britney Spears até confissões para Deus sobre a dor de ter nascido diferente. "Eu sempre me amei muito, sabe? Sempre fui encantada pelos meus traços, mas a sociedade impunha problemas comigo mesma. E, quando eu estava ali dentro, eu era Gabriela sem saber que era."

A transição começou efetivamente aos 23 anos, graças à faculdade de Artes Cênicas, que foi um divisor de águas em sua vida. Mas aos 7 anos, ao assistir uma entrevista da socialite transexual Roberta Close em um programa de televisão, Gabriela começou a ter a esperança de poder mudar. "Eu lembro da paz que senti no meu coração."

Com a família, o processo foi tranquilo. "A minha família é o maior pilar da minha vida. Eu sou a mulher que sou hoje por conta deles, mas já sofri transfobia (preconceito com pessoas trans) velada dentro de casa no processo de transição", diz. "Assim como eu aprendi, eles aprenderam também, e mais do que isso, sempre estiveram abertos a entender."

Para Gabriela, existiu muito medo, especialmente dos pais, sobre como os outros poderiam receber a mudança da filha. Afinal, o Brasil é o país com mais mortes de pessoas transexuais no mundo. "Um pilar que acho fundamental para mudar isso é o contato. Ele humaniza a minha existência. O acesso à informação e a visibilidade são muito importantes", diz.

Durante seu papel em Malhação, em 2018, e ano passado, durante a novela das 19h da TV Globo, Cara & Coragem, como Luana, Gabriela sentiu essa transformação. "Quando descobrem que a atriz é transexual, eles falam 'nossa, parece com a minha filha', e isso foge dos estereótipos que são preestabelecidos para nós. Ressignificamos", diz.

'Eu não quero ser a única, nem quero que me coloquem em um pedestal'

"Sou muito grata por tudo que conquistei, por ter mudado a minha realidade. Passei por muitas dificuldades, mas nada disso construiu a mulher que eu sou. Serviu para mim como degrau", conta ela, que ainda pretende transformar muitas outras pessoas e ocupar outros espaços. "Se a gente vivesse numa sociedade em que éramos todos iguais, o que iríamos acrescentar de novo? A diversidade é nosso maior presente", diz.

Apesar de ser vista hoje como um símbolo e um exemplo a ser seguido, Gabriela quer mudanças. "Eu não quero ser a única, nem quero que me coloquem em um pedestal. Quero poder olhar para o lado e ver meninas diferentes de mim, iguais a mim e diversas. Quero sempre transcender", diz.

Se, no dicionário, a palavra relaciona-se com superação e ir além dos limites, para Gabriela, é sobre fugir dos padrões e expectativas que a sociedade tem perante cada um. "Quando digo que nós somos diversas é porque podemos realmente ser o que a gente quiser ser e fugir desses padrões que são estabelecidos. A gente pode transcender."

Estadão
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