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'Serei um ancestral': Gilberto Gil celebra velhice e carreira em participação no Roda Viva

Aos 79 anos, cantor ressaltou ancestralidade, episódios da trajetória musical e turnê com a família

24 mai 2022 - 03h38
(atualizado às 11h37)
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Após um hiato de 23 anos desde a sua última participação no Roda Viva, o cantor Gilberto Gil, retornou ao programa exaltando a ancestralidade, a imensidão do envelhecer e a musicalidade. "Essa idealização do que é útil, do que é importante… Tudo isso vai ficando mais vago. Você vai ficando à disposição do destino", disse quando a comunicadora Sarah Oliveira perguntou sobre o sentimento dele em relação ao envelhecimento. A participação do cantor foi ao ar nesta segunda-feira, 23, na TV Cultura.

No desenrolar da conversa, a escritora Djamila Ribeiro puxou a temática da literatura e a nomeação do músico na Academia Brasileira de Letras. De imediato, Gil expôs a sua conexão com a cultura popular e a oralidade brasileira. Ele relatou que essas características, que também marcaram a sua trajetória, foram cruciais para se tornar um dos imortais da ABL. "O decorrer da minha vida e do meu modo de atuar é o testemunho do que pode representar de eu ter chegado ali".

Na sequência, ele defendeu a diversidade linguística como um bem da cultura do País. "Isso [pluralidade] deu uma língua, um modo popular, uma oralidade, um modo de dizer as coisas que é extraordinário, é próprio do Brasil". E acrescentou: "A música popular é a palavra cantada".

Gilberto Gil é o entrevistado desta edição após 23 anos da última participação no Roda Viva
Gilberto Gil é o entrevistado desta edição após 23 anos da última participação no Roda Viva
Foto: Reprodução/ TV Cultura

Ao ser questionado por um dos entrevistadores se a música "Pessoa Nefasta" (1984) havia sido feita para um político, Gil negou. "Era a época do Maluf, ele era um dos grandes homens da vida política no Brasil. Muita gente perguntava: 'foi feito para ele [Paulo Maluf] ou foi para Antônio Carlos Magalhães?' Não foi dirigido a ninguém". Os versos da canção, em tom de denúncia social, descreve uma pessoa com "cara de cão", rodeada por cobiça e malícia.

Sobre o cenário político, Gil afirmou que o principal instrumento de mudança é o voto. "É a possibilidade da renovação dos governos. Cada eleição a gente tem a possibilidade de manter o governo ou substituí-lo", ressaltou.

Ancestralidade

Família também foi o centro da conversa. A chef de cozinha Bela Gil, surgiu no telão do programa perguntando ao pai como ele estava encarando a velhice. "As coisas vão ficando mais em suspenso. E os panoramas que se oferecem através dos nossos olhares, esses panoramas vão ficando amplos, parecidos".

Prestes a completar 80 anos, o cantor vai celebrar a chegada da nova idade em uma turnê com a família na Europa. A preparação da viagem vai ser transformada em série documental, a 'Em Casa com os Gil'. O músico brincou que o público vai conhecer as peculiaridades dos filhos e dos netos. "Só faltou os agregados". Lançada pelo Prime Video, a produção já tem data confirmada para lançamento: 24 de junho.

Olhar para o passado através de uma perspectiva ancestral parece ser a chave para construir o futuro, conforme Gil relatou durante a entrevista. "A vida tem propiciado meu envelhecimento, apesar disso e daquilo. Acho que é isso, o ensinamento é isso… Tive muitos filhos, tenho muitos netos, tenho uma família grande. Isso vai se esparramar pelo mundo", comemorou.

O Gilberto Gil, de 1999, finalizou a participação do programa daquele ano afirmando que ainda tinha um sonho: a boa morte. "Minha grande ambição é a boa morte. Você pergunta: 'o que é a boa morte?' Eu quero morrer o mais velho que eu puder, com saúde. Eu quero morrer como um passarinho…". 23 anos depois dessa declaração, Gil celebra a continuidade "serei um ancestral". Veja a entrevista completa:

Com apresentação de Vera Magalhães, participaram da bancada: a diretora artística Amora Mautner, a escritora Djamila Ribeiro, o artista e CEO da Lab Fantasma Evandro Fióti, o produtor musical João Marcello Bôscoli, e a comunicadora Sarah Oliveira.

Estadão
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