"Sociedade acha que PcD só pode se relacionar com PcD", diz modelo com síndrome de Down
Conversamos com a modelo e empresária Maju de Araújo, que provou que a única barreira para pessoas com deficiência é o preconceito
A modelo Maju de Araújo é uma entre as 300 mil pessoas com síndrome de Down no Brasil, mas foi a primeira a desfilar nas passarelas da Brasil Fashion Week. Com apenas 20 anos, ela tem um currículo vasto – com trabalhos na São Paulo Fashion Week e L’Oréal Paris, mostrando que não há barreiras para pessoas com deficiência quando passamos por cima do preconceito.
Recentemente, outro título entrou para a lista de conquistas: seu nome foi parar na lista Forbes Under 30, que destaca as personalidades brilhantes de até 30 anos. "Receber esse título foi algo grandioso e uma das maiores conquistas que tive na minha carreira. Chegar até aqui não foi nada fácil, mas também não é impossível. E é exatamente isso que eu quero mostrar para todos", conta à Elástica. "Estar aqui ocupando esse espaço é de grande representatividade porque a sociedade não está acostumada a nos ver nesses lugares."
Desde criança, Maju já se interessava pelo universo da moda. Adorava brincar de desfilar e fazia caras e bocas como se estivesse sendo fotografada. E o sonho, que parecia ser distante, foi tomando forma com a persistência da família em realizar seu desejo. Isso porque, na adolescência, a garota ficou em coma por conta de uma meningite e, quando acordou, disse à mãe que queria ser uma “modelo famosa”.
Aos 16 anos, através do Projeto Passarela do Grupo MGT, foi considerada uma descoberta promissora e, a partir daí, começou a estudar e a se profissionalizar na área. Ela conta que sua relação com a autoestima nunca foi ruim, mas mudou para melhor quando passou a trabalhar na área. "Sinto um orgulho gigante de poder falar que sou modelo e amo me olhar no espelho", diz.
Agora, o próximo desafio que Maju pretende enfrentar é a escolha do par perfeito: mas em um mundo com tanta gente, como encontrar a pessoa certa? Bom, a modelo foi pelo mesmo caminho de muitos jovens da sua idade – baixou o Tinder no celular. Ainda assim, há algumas dificuldades que precisa enfrentar.
"A sociedade acha que uma pessoa com deficiência só pode se relacionar com outra pessoa com deficiência, o que dificulta esse processo. Outro ponto é que eu, diferente da maioria das pessoas com síndrome de Down da minha idade, tenho uma agenda muito corrida por conta do meu trabalho, eventos e estudos", revela. "Quando começo a conversar com alguém, também é difícil entenderem minha agenda e o fato de eu não ter muito tempo para sair ou ficar trocando mensagens com mais frequência. Mas meu sonho é casar, ter filhos e constituir uma família."
A modelo acredita que o que falta para que pessoas com deficiência tenham mais inclusão é uma mudança cultural. É o caso da língua brasileira de sinais, por exemplo, que ainda não é amplamente difundida em eventos, televisão ou até shows. "As pessoas precisam entender que quem tem deficiência também consome o mesmo tipo de entretenimento, então é necessário que esses ambientes atendam a todo o público e não apenas um específico", afirma. "Já tivemos muitos avanços com a questão de intérprete de libras em grandes produções, mas isso ainda está bem longe de ser o ideal. Já participei de produções em libras, foi bem legal e quero continuar praticando."
Para o futuro, Maju acredita que o céu é o limite. "Já desfilei em muitos lugares que nunca imaginei estar e quero ir cada vez mais longe. Como empresária, quero lançar a minha própria marca de roupa e espero conquistar isso em breve", conta.